Dia do adepto, Barcelona 8:0 Belenenses
É interessante, a relação do Belenenses com os grandes de Espanha. Em 1947, é convidado de honra para inaugurar o Estádio Chamartín, agora Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid. Em 1978, é ilustre visitante para o dia do adepto em Camp Nou. Estamos em 1978, dia 1 Outubro. O Belenenses aterra em Barcelona às 11 da noite e hospeda-se num hotel perto do estádio.
Como é semana de selecções, a Espanha joga vs Jugoslávia em Belgrado e Portugal recebe a Bélgica no José Alvalade no apuramento para o Euro-80. Vai daí, inventam-se particulares a torto e a direito para animar a malta. O Marítimo, por exemplo, apresenta o brasileiro Roberto num 1:0 ao Beira-Mar nos Barreiros. O Académico de Viseu, outro exemplo, empata 0:0 vs Estoril na apresentação de três reforços internacionais, os argentinos Alberto e Alfredo mais o brasileiro Ramon. O Famalicão, mais um exemplo, convida as suas gentes para conhecer o argentino Agustinelli vs Lugo, da 2.ª divisão espanhola. Por ironia do destino, o cabeça de cartaz está lesionado e vê o 1:1 da bancada. E o Anadia? Para inaugurar os 192 mil volts de luz dos 128 projectores das torres eléctricas, faz uma festa de arromba. Toni, ali da região, diz presente e aparece com duas figuras do alto chamadas Eusébio e Simões. Sim, esses. O adversário é o Porto, vencedor por 3:1. Do mal o menos, o primeiro golo iluminado é do Anadia, da autoria de Rofa.
E lá fora? O Belenenses desloca-se a Camp Nou. O Barcelona aproveita o dia para dar a conhecer quatro homens da filial, dois deles com o mundo barcelonista a seus pés: ‘Lobo’ Carrasco e Moratalla (autor do 1:0 sobre o Belenenses na Taça UEFA 1987-88). Adiante, o Belenenses janta na sala de refeições do hotel e respira-se confiança pelo último resultado na 1.ª divisão, um vistoso 1:0 vs Benfica, no Restelo. O herói é Vasques, avançado de 30 anos, craque da área. ‘Na última vez que joguei cá, há dois anos, estava o Cruijff. Agora é o Krankl a referência.’
O treinador é António Medeiros. De acordo com a imprensa catalã, ‘um homem de baixa estatura, muito moreno e com um bigode farfalhudo, mais se parece um daqueles actores italianos que nos invadem as salas de cinema’. Nesse Verão de 1978, Medeiros e o Belenenses levantam a taça do Torneio Córdoba, com um vistoso 4:1 ao anfitrião no dia 24 Agosto. A movida é intensa. E gloriosa. Sem medo, Medeiros divulga o onze. Rui Paulino; Sambinha, Luís Horta, Guilherme e Carlos Pereira; Esmoriz, Isidro e Hertz; Vasques, Clésio e Cepeda. No banco, Delgado, Lima, Eurico, Lincoln e Carneirinho.
No dia seguinte, bate tudo certo. O 11 azul apresenta-se em Camp Nou, onde só 20 mil adeptos fazem a devida vénia. A chuva afasta o pessoal e o Barcelona-Saragoça de veterano é quase quase adiado para evitar enlamear mais ainda o relvado. Contas feitas, resolve-se ir avante. Só 45 minutos de jogo, divididos em dois tempos de 25’ e 20’. No jogo a sério, o Belenenses entra mal e sai pior. Acaba 8:0. É um monólogo o tempo inteiro. Aos 19’, já há três-zero. O austríaco Krankl marca uma, duas, três vezes. Incrível. Aos 38’, chega o 4:0 de Heredia. Na segunda parte, já sem Krankl, mais quatro sem resposta, obra de Martínez (65’, livre directo), Bio (66’), Tarrés (73’) e Carrasco (77’, penálti).
O treinador Lucien Müller desvaloriza a goleada. ‘O futebol é assim mesmo. O Belenenses acaba de ganhar ao Benfica e acontece-lhe isto. A nós, que jogámos mal no Bernabéu e depois empatámos na URSS [Shakhtar Donetsk 1:1], é precisamente o contrário’. António Medeiros é um homem desiludido. ‘Um desastre completo, a pior exibição do Belenenses nos dois últimos anos (…) Também é verdade que não vínhamos preparados para este tipo de campo, simplesmente não trouxemos as chuteiras ideais (…) Gostei muito do Krankl, um fora de série, tal como Neeskens e Rexach (…) O árbitro pareceu-me muito rigoroso com o penálti do 8:0, a falta não existiu.’
Falta dizer o seguinte, o Belenenses acaba a época em oitavo lugar na 1.ª divisão, a 21 pontos do campeão Porto, com o qual empata 0:0 no Restelo em Fevereiro. Já o Barcelona conquista a Taça das Taças, com seis golos de Krankl, o último dos quais a selar o definitivo 4:3 vs Fortuna Düsseldorf na final de Basileia.
Alan Gomes
Caro Tovar FC, as minhas desculpas por fugir ao tópico do post, mas não me ocorre outra maneira de o contactar. Tenho na cabeça a memória de, no final dos anos 80, a equipa do Vitória de Guimarães ter uma vez entrado em campo com 11 brasileiros - numa altura em que o treinador, Geninho, era também brasileiro. Mas não consigo encontrar referência a tal jogo em lado nenhum na Internet. Era teoricamente possível que o Vitória tivesse jogado com 11 brasileiros em 1988/89, ano em que o Geninho foi treinador: https://www.foradejogo.net/team.php?team=13&ano=1989&escalao=0&mode=S Havia onze brasileiros no plantel, mas é improvável que jogassem todos ao mesmo tempo (muitos avançados, poucos defesas). E no entanto tenho uma memória tão viva de se falar disto! É a memória que me está a pregar partidas? Será que eu ouvi alguém dizer "qualquer dia jogam com 11 brasileiros" e tomei isso por realidade?