O Preto Pacheco e o preto Silva

Mais Shaken, Not Stirred 10/28/2020
Tovar FC

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O Preto Pacheco e o preto Silva

Avenida 5 de Outubro, anos 80. Aquela zona é uma zona. Meeeeesmo. A movida é intensa. Que me lembre, ainda nem há a multi-colorida Caixa Geral de Depósitos (agora Segurança Social). Nem o Hotel Continental. Só o Hotel Zurique. Mais, é claro, a RTP e a TV Guia separados por quatro faixas de rodagem com dois sentidos (para quem não tem carta de condução, isto é muito à frente; olá se é). Para alimentar esta malta toda, há três pequenos centros comerciais num curtíssimo espaço de terreno: Columbia, Apolo 70 e Arco-Iris. Cada qual com a sua dinâmica. O Apolo 70 é o mais frequentado. Lá em baixo, tem a barbearia Pinto’s e um restaurante labiríntico, onde costumo almoçar um bife à marrare cheia d’a molho com TriNa de maçã antes de uma banana split. Que, por sinal, nunca nunca mas nunca mesmo a consigo acabar. Cenas da vida mundana. Que muito indigam o meu pai. Até parece que o estou a ver a abanar a cabeça como quem diz ‘bem te avisei que não ias dar conta disso’. Isto tudo para dizer o quê? Que o edifício da RTP é o best of daquela Avenida 5 de Outubro, anos 80. É um bloco compacto, qual defesa em linha da selecção italiana, e ocupa quase todo o quarteirão. Lá dentro, uma fauna rica em géneros de fazer inveja à Amazónia. Ao todo, 13 andares cheios de espaço. No último, a cantina oferece-nos uma vista sensacional para a arena da Praça de Touros mesmo em frente. Se desviássemos a cabeça para a esquerda, iríamos ver facilmente a roda gigante na Feira Popular. Adiante. A acção é ali, no bar, antes da entrada para a zona dos tabuleiros e menus do best (not). O telefone toca e uma senhora atende-o prontamente. Até parece que está numa passagem de nível: pára, escuta e olha. Olha muito mesmo. De repente, pára. De escutar. De olhar. Pousa o telefone e dirige-se a uma pessoa de cor sentada ao balcão. “O senhor é o Preto Pacheco?”, a propósito de um reconhecido produtor da RTP, curiosamente branco. A reacção é extraordinária. “Não não, eu sou o Preto Silva.”

One Comment
  1. Maria Eugénia Pinheiro

    Essa história faz parte da minha vida. Só que na minha "versão" o telefone que tocou foi o do restaurante e o Preto Silva estava na fila para o almoço. Bjs

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