#16 Riopele 1977-78

Mais Spider Pig 03/13/2021
Tovar FC

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#16 Riopele 1977-78

Pousada de Saramagos. Sorriso. Riopele. Sorriso largo. Eis-nos na 1.ª divisão 1977-78, a única do Riopele. Criado em 1958, just for fun, o clube-empresa do estilo CUF sobe a pulso. Sobe à 1.ª divisão da AF Braga em 1964, sobe à 3.ª nacional em 1966, é campeão da série A em 1970 e é promovido à 1.ª em 1977, com quatro pontos de avanço sobre Espinho. De repente, a freguesia minhota Pousada de Saramagos, do concelho de Vila Nova de Famalicão, com os seus mil e poucos habitantes, no mapa futebolístico. Ele há coisas.

No Verão, a azáfama é muita. Pudera, a construção de uma equipa competitiva quase do zero implica estudos vários e gastos fora do normal. O dinheiro da empresa têxtil Riopele (fundada em 1927) dá para cobrir todas as posições. A de treinador, por exemplo. É ele Ferreirinha. Na baliza, há dois reforços chamados Matos (25 anos) e Trindade (20). Às tantas, Jesus (esse mesmo, o Jorge) fala num redes interessante dos juniores do Sporting.

Quem? Padrão (18), zero jogos na 1.ª, zero jogos como profissional. ‘Foi o meu primeiro ano a sério, embora já fosse profissional desde os 16 anos. Fui contratado como terceiro guarda-redes e quem me indicou foi o Jorge Jesus, com quem nunca trocara sequer uma palavra. Chegou lá e disse aos responsáveis do Riopele que havia um miúdo bom no Sporting.’

O Sporting de Hagan. Ah pois é, Padrão é júnior do Sporting e treina-se com os seniores. ‘Fui ao banco uma vez, no Barreiro, para a Taça. O titular era o Conhé.’ E o treinador? Hagan, Jimmy Hagan. Dava-me boleia dos treinos para casa, na Linha. Ainda não havia A5, vínhamos pela Marginal.’

E que tal? ‘Ele não falava uma palavra de português, eu nenhuma de inglês. Estávamos bem um para o outro, ahahahahah. Ainda hoje me lembro bem do carro dele, um Opel Manta branco. Mas o maior carro desse Sporting era do Keita, que só treinava com sol. Trouxe um Ford Mustang Mach para Portugal, nunca ninguém tinha visto um desses.’

Stop no Sporting, play no Riopele. Que tal a aventura? ‘O melhor possível, a loucura dos verdes anos, num campo pelado. Vivia na Residencial Francesa, em Vila Nova de Famalicão, a 5 km do estádio. Aquilo tinha uns bilhares na parte de baixo e, com o tempo livre, profissionalizei-me.’

E a parte desportiva? ‘Digo-lhe o onze de cor e salteado. Matos, depois eu na baliza. Na defesa, Joca, Vitorino, Fonseca II e Teixeira. No meio, Fonseca I, Luís Pereira, Barros e Piruta. No ataque, Jesus e Garcez. Como o Garcez lesionou-se com gravidade, saltou o António Luís. Havia suplentes muito utilizados, casos do Neca, Orlando. E havia também três brasileiros: Ederson, excelente central, forte fisicamente e bom no ar, mais Pio, excelente esquerdino, com azar nas lesões, muitas roturas, e Mendes, que não se conseguiu afirmar. Todos eles vieram do América do Rio de Janeiro.’

No currículo de Padrão 1977-78, uma expulsão como suplente. ‘Isso foi à 2.ª jornada ou assim, em Braga. O árbitro era barbeiro. Não me lembro do nome, mas sei que era barbeiro. O Serra faz uma entrada por trás sobre o Garcez e partiu-lhe o perónio. A lesão impressiona, e foi mesmo ao pé do banco de suplentes. Barafustei, claro, e entrei em campo. O árbitro mostrou-me o vermelho directo.’

É precisamente vs Braga, na segunda volta, a estreia de Padrão a titular. Daí em diante, a baliza do Riopele está entregue ao miúdo de 18 anos. O Riopele, como bom estreante, passa as passas do Algarve. A fuga à despromoção é um objectivo muito presente, embora, atenção, muita atenção, o arranque seja de sonho com duas vitórias em casa e dois empates fora. Seguem-se seis derrotas seguidas, a primeira das quais vs o futuro campeão Porto.

Em 15.º lugar, a visita à Póvoa significa a única vitória fora com o 2:1 de Piruta, já o herói do primeiro golo da equipa na 1.ª divisão, vs Académica (2:0 em Pousada de Saramagos). O Riopele até faz mais pontos na segunda volta (11, contra 10 da primeira), só que acaba por consumar a descida na última jornada, em campo neutro (1.º Maio, Braga).

A ideia de permanência passa por uma série de cenários. Antes de mais, a vitória sobre o invencível Benfica de Mortimore. Depois, o empate do Espinho no Restelo e as derrotas de Portimonense no José Alvalade e Marítimo na recepção ao Varzim. É muito jogo. E se é verdade que o Espinho empata (1:1) e o Portimonense perde (1:0), o Marítimo ganha e escapa à 2.ª divisão. O sonho escapa-se. Em Braga, o vice invencível é forte demais (4:1).

O golo do adeus minhoto pertence a António Luís, melhor marcador da equipa, com 7 golos. A seguir, Piruta (5) e Luís Pereira (4). Num honroso quarto lugar, Jesus (3). Diz Padrão. ‘Ainda joguei com Jesus em Leiria [1979-80] e Setúbal [82-83]. No Bonfim ele já era mais treinador que jogador e fazia a linha com o Manuel de Oliveira, o seu guru.’

E o Riopele? O clube desce à 3.ª em 1981 e abandona o futebol de vez em 1984, a empresa ainda é das mais conceituadas da Europa na indústria têxtil.

(a negrito, os jogos fora)

Académico 2:0Piruta Fonseca
Braga                     0:0
Vitória FC 2:1Jesus Piruta
Estoril                    0:0
FC Porto 0:2
Feirense                0:4
Marítimo                0:1
Sporting 2:4Fonseca AntónioLuís
Belenenses           0:1
Vitória SC 1:2António Luís
Varzim                           2:1Fonseca Piruta
Boavista 0:0
Espinho                           1:2Jesus
Portimonense 0:0
Benfica                  0:3
Académico                       1:3Jesus
Braga 1:1LuísPereira
Vitória FC              0:4
Estoril 1:0Piruta
FC Porto                0:6
Feirense 2:1LuísPereira AntónioLuís
Marítimo 0:0
Sporting                           1:2AntónioLuís
Belenenses 1:0Vitorino
Vitória SC              0:0
Varzim 0:0
Boavista                           1:4AntónioLuís
Espinho 3:3LuísPereira-2 Piruta
Portimonense                  1:2AntónioLuís
Benfica 1:4AntónioLuís
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