Great Scott #480: De que país é a moeda no ‘cara ou coroa’ do Benfica vs Celtic em 1969?
Panamá
É uma eliminatória famosa no Estádio da Luz. No tempo da outra senhora, muito antes dos penáltis, a UEFA decide o destino das equipas pelo capricho da moeda ao ar. Nos Jogos Olímpicos-60, a Jugoslávia chega por esse método à final – povera Itália. No Euro-68, é a Itália a atingir a final – pobre URSS. Na Taça dos Campeões 1969-70, o sorteio dá Celtic vs Benfica nos oitavos.
Em Glasgow, 3:0 com 2:0 ao intervalo. Na Luz, 3:0 com 2:0 ao intervalo. O terceiro da noite é no último suspiro, por Diamantino – e ainda se anula um golo a Artur Jorge (mal, diz o avançado; bem, garante o árbitro porque ‘a bola não ultrapassou a linha’). Adiante, há prolongamento e, depois, moeda ao ar.
O desempate é feito no balneário do árbitro holandês Van Ravens e há dois elementos de cada equipa lá dentro: Coluna (capitão) e Calado (adjunto) do Benfica + McNeill (capitão) e Stein (treinador) do Celtic. Por ser holandês, manda a lógica pensar na moeda como um florim. O jornal A Bola dá conta desse natural equívoco e apresenta a balboa, moeda do Panamá.
E porquê balboa? Vasco Núñez Balboa é um carismático explorador espanhol, o primeiro europeu não português a avistar o Oceano Pacífico e conhecido por fazer tratados informais com chefes indígenas a contrariar a imagem sanguinária dos colonizadores espanhóis (e não só, claro).
Antes de a lançar ao ar, Van Ravens diz ‘armadura ou escudo’ em vez do ‘cara ou coroa’. McNeill escolhe armadura, Coluna é mais escudo. Sai armadura e McNeill desata aos saltos. Van Ravens arrefece os ânimos, porque o primeiro ‘armadura ou escudo’ é só para decidir quem é o primeiro a pedir. McNeill volta a pedir armadura e Coluna feliz da vida. ‘Nunca pensei que saísse a mesma face da moeda logo a seguir.’ Van Ravens atira ao ar e é armadura. Agora sim, é oficial, o Celtic elimina o Benfica ao fim de 210 minutos e dois desempates de moeda ao ar.