#49 Campomaiorense 1991-92
Rui Nabeiro. O nome enche Campo Maior e preenche os requisitos de marcas internacionais como Delta. No futebol, o Campomaiorense é tão-só a única equipa alentejana a chegar à final da Taça de Portugal. Por essa altura, já o pai delegara o futebol ao filho João Manuel. Esse mesmo, o do rabo de cavalo.
Diz o próprio, sem rodeios. ‘Nasci na Rua de Badajoz, a 10 metros do campo de futebol’, numa referência ao Estádio Capitão César Correia, dono desses terrenos. ‘Toda a minha infância foi feita dentro daquele espaço, com amigos daquela zona, fossem vizinhos do lado ou de outros bairros. Brincávamos constantemente no campo, ainda pelado e com algumas covas lá pelo meio.’
‘Nesses tempos, o Campomaiorense estava na 3.ª divisão nacional e havia o santo sacrifício do futebol aos domingos, de 15 em 15 dias. As nossas equipas sempre foram muito caseiras, formadas por campomaiorenses, quase todo jogadores-trabalhadores na Torrefação Camelo Lda’, uma empresa da família Nabeiro, tal como a Delta, a Qampo e a Adega Mayor. Dessas jornadas desportivas, João Manuel guarda a memória das rivalidades com as equipas de Elvas e Portalegre. ‘Às vezes, havia altercações muito fortes, com gritos à mistura. Parecia uma revolução social.’ Entre os seus heróis de infância, saltam os nomes de Costal, Zé Mário e os irmãos Carapinhas. ‘Eram personagens que nos deslumbravam pelos 90 minutos de pura dedicação, fizesse chuva ou sol, estivéssemos a ganhar ou a perder.’
Em 1990, aos 35 anos de idade, o filho João Manuel assume a pasta da presidência do clube. ‘Como os meus companheiros de infância nunca me acharam com jeito para preencher as suas equipas nas futeboladas, assumi a presidência quando chegou a altura de ser presidente.’
‘Estávamos na 2.ª divisão B e acabámos em segundo lugar na zona sul.’ A um ponto da Olhanense. Na época seguinte, em 1991-92, o Campomaiorense entra na zona centro. No plantel, saltam à vista o central João Manuel Pinto, ainda com 18 anos, e o médio Lito Vidigal, com 21. No banco, o treinador António Fidalgo. O arranque é assim-assim. No final da primeira volta, ao fim de 17 jornadas, o Campomaiorense está mais para lá do que para cá (10.º lugar).
‘Estive fora do país durante uns tempos, em trabalho. Quando voltei, disseram-me, ainda no aeroporto da Portela, que tinham despedido o treinador. Cheguei cá e perguntei o porquê dessa decisão sem me consultarem. Como não gostei da explicação nem do modus operandi, dei a volta ao assunto e readmiti o Fidalgo. A direcção demitiu-se quase toda e fiquei sem quórum.’ E agora? A pergunta impõe-se, a resposta nem se fala. ‘Acredite, instalou-se uma força qualquer entre nós e ficámos 20 jogos seguidos sem perder.’ Ao todo, 17 vitórias (12 das quais consecutivas) e três empates. É obra.
‘Subimos de divisão, à 2.ª de Honra, e fomos discutir o título de campeão numa liguilha com o campeão da zona norte e sul.” Tanto Felgueiras como Amora são abalroados pela superioridade incontestável dos alentejanos. O Campomaiorense ganha todos os quatro jogos: 2-1 em Felgueiras, 2-0 ao Amora, 1-0 em Felgueiras e 2-1 em Amora. É um festival sem igual. Só há um problema, relacionado com dinheiro. ‘Uma dívida de 17 contos à Federação Portuguesa de Futebol impede-nos de receber a taça.’ Arghhhhhh. Seja, um digno campeão sem o correspondente troféu. Só mesmo em Portugal.
Nessa campanha para o título inédito de campeão da 2.ª B, o Campomaiorense conta com um goleador por excelência. Trata-se de Juvenal, autor de 31 golos (dois-hat-tricks e sete bis). Segue-se-lhe Nico, com 17. Aliás, Nico é o primeiro protagonista da época, em Oliveira do Hospital. O homem salta do banco ao intervalo e empata um jogo dado como perdido, com um bis de penáltis.
As segundas partes do Campomaiorense notam-se mais fortes. Em Miranda do Corvo, por exemplo, está 2:0 para o Mirandense. De repente, pim pam pum, hat-trick de Juvenal e bis de Nico, toma lá 5:2. Nas Caldas da Rainha, mais do mesmo: de 1:0 para 2:1. Na outra vitória magra fora de Campo Maior, agora em São João da Madeira, vale um golo de Joaquim Trindade – irmão do guarda-redes Francisco.
Na liguilha com os representantes da zona norte e sul, o Campomaiorense dita a sua lei com oito pontos em oito possível vs. Felgueiras de Mário Reis e Amora de Jorge Jesus. Grande obra de António Fidalgo, patrocinado pelos Nabeiros.
(a negrito, os jogos fora)
Oliveira Hospital 2:2 Nico-2
U. Lamas 0:1
Naval 4:0 Juvenal-2 / JM Pinto / Nico
Fátima 2:2 Juvenal-2
Mirense 0:1
Mirandense 5:2 Juvenal-3 / Nico-2
Lousanense 4:0 Seca-2 / Juvenal / JM Pinto
Caldas 2:1 Juvenal / Pica (pb)
Covilhã 0:1
Sanjoanense 1:0 Joaquim Trindade
Oliveirense 1:2 Sousa
Lourosa 1:0 Nico
U. Santarém 0:0
Mealhada 0:2
U. Tomar 6:0 Juvenal-3 / Nico / Seca / Cardoso
Torres Novas 1:0 Cardoso
Fátima 2:0 Juvenal-2
Águeda 0:1
Oliveira Hospital 1:3 Álvaro
U. Lamas 3:2 Álvaro-2 / Juvenal
Naval 1:1 Juvenal
Mirense 2:1 Juvenal-2
Mirandense 4:0 Juvenal-2 / Nico / Seca
Lousanense 1:1 Vítor Sá (pb)
Caldas 4:0 Juvenal-2 / Nico-2
Covilhã 0:0
Sanjoanense 3:0 Lito Vidigal / Nico / Juvenal
Oliveirense 1:0 Luís Cordeiro
Lourosa 2:1 Luís Cordeiro / Lito Vidigal
U. Santarém 3:1 Nico-3
U. Tomar 1:0 Juvenal
Mealhada 4:1 Nico-2 / Álvaro / Juvenal
Torres Novas 4:1 Luís Cordeiro / Nico / Juvenal / Paz Miguel (pb)
Águeda 4:0 Juvenal-2 / JM Pinto / Seca
Liguilha
Felgueiras 2:1 Juvenal / Cardoso
Amora 2:0 Nico / Juvenal
Felgueiras 1:0 Juvenal
Amora 1:0 Cardoso