Sérgio Conceição. Um banho de bola em Roterdão

Kali Ma 06/20/2020
Tovar FC

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Sérgio Conceição. Um banho de bola em Roterdão

Garantida a presença nos quartos-de-final a uma jornada do fim da fase de grupos, Portugal joga a feijões com a Alemanha. Vai daí, Humberto Coelho apresenta uma equipa de suplentes, à excepção dos centrais Jorge Costa e Fernando Couto (capitão). As nove novidades no onze incluem nomes como Pedro Espinha, Beto, Costinha, Rui Jorge, Sérgio Conceição, Paulo Sousa, Capucho, Sá Pinto e Pauleta.

O que se segue é um banho histórico, com hat-trick perfeito de Conceição. Perfeito porque o homem marca de cabeça (1:0), com o pé esquerdo (2:0) e o direito (3:0). Pim pam pum, pobre Kahn – que até adiara o 1-0 de Pauleta com uma incrível defesa de rins. Basta uma hora de jogo e Portugal já assina a sua melhor fase de grupos de sempre, três vitórias em três. Até dá para substituir guarda-redes: sai o vimaranense Pedro Espinha, entra o bracarense Quim.

A Alemanha, campeã europeia em título, faz as malas e vai para casa. Matthäus mete a reforma, aos 39 anos de idade, e o seleccionador Ribbeck diz de sua justiça, sem papas na língua: “Portugal é uma grande equipa, jogou melhor e humilhou a Alemanha”. Daí a dois anos, a Alemanha de Völler chega à final do Mundial-2002.

E a conferência de imprensa de Conceição? Ei-la, ao vivo e a cores.

Valeu a pena ter reclamado diversas vezes um lugar na equipa principal?

Algumas pessoas entendem-me mal ou interpretaram de maneira diferente as minhas palavras. O que sempre reclamei não foi um lugar de titular, foi poder lutar pela titularidade, que é uma coisa completamente diferente. Defendo que ninguém pode acomodar-se. Há colegas que pensam como eu, mas são mais reservados.

Esse inconformismo da “segunda linha” foi decisivo no triunfo sobre a Alemanha?

Sempre fui assim, uma pessoa directa. As pessoas habituaram-se a que a selecção jogasse com os futebolistas demaior nome. Não sou contra isso, só defendo a existência de verdadeira competitividade.

Mas quem realiza 30 jogos pela Lazio não merece o estatuto de “grande nome”?

Não digo que não. Mas o Pauleta também foi campeão de Espanha e o Costinha de França e não são titulares. Todos merecemos consideração da equipa técnica e da comunicação social. É um erro falar só de dois ou três jogadores.

Você não gostou de ser apelidado de bom suplente e contra a Alemanha demonstrou que também pode ser um bom titular?

Não gostei que fosse passada ao público a ideia de que eu seria a “arma secreta” da selecção quando sempre me senti tão titular como os outros.

Sentiu-se, ainda que momentaneamente, um herói nacional?

Não, de forma alguma. Para chegar a esse estatuto tinha de fazer algo muito mais significativo pelo país do que jogar futebol. Esteve a rever o jogo na televisão? Por acaso estive. Não consegui evitar. Até para me aperceber melhor da “mãozada” que levei do guarda-redes alemão [Kahn], que me deixou a ver tudo branco durante uns segundos.

Quem foi a primeira pessoa a dar-lhe os parabéns?

Foi a minha mulher, a quem telefonei logo no final do jogo. No entanto, depois recebi chamadas de muitas pessoas. Graças a Deus ainda vou tendo muitos amigos.

O seu passeio por Amesterdão mais pareceu uma sessão de autógrafos.

Não é por isso que me sinto realizado. Isso só vai acontecer no dia em que conquistarmos o Europeu. Aí sim, os autógrafos não chegam.

Curiosidade maiúscula: é a nossa única vitória à Alemanha como Alemanha; antes, quatro empates e uma derrota; depois, quatro derrotas (Mundial-2006, Euro-2008, Mundial-2010, Euro-2012)

Curiosidade xl: além de Conceição, só Platini (França 1984) e Villa (Espanha 2008) marcam três golos seguidos num jogo do Europeu

Curiosidade xxl: só Platini e Conceição assinam hat-trick perfeitos na história do Europeu (cabeça, pé direito e pé esquerdo)

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