Great Scott #97: Quem é o último treinador a eliminar duas épocas seguidas o Real Madrid da UEFA?
Artur Jorge
Primeiro treinador português a sagrar-se campeão europeu, em 1987, o nome de Artur Jorge dá a volta ao mundo uma e outra vez. Tanto cá, em Portugal, como lá fora, no estrangeiro. O caso do PSG é um claro exemplo de categoria a todos os níveis. Ganha a Taça de França em 1993 e, depois, a 1.ª divisão francesa em 1994. Nesses dois anos, comete a proeza de eliminar o Real Madrid nas competições europeias.
Em 1992-93, para os ¼ final da Taça UEFA. Primeira mão no Santiago Bernabéu, 2 Março, 3:1 para o Real Madrid. Abre o marcador Butragueño, de cabeça, totalmente solto ao segundo poste, na sequência de um canto da direita. No quadradinho seguinte, grande paragem de bola de Butragueño com o peito em plena pequena área do PSG. À saída de Lama, o passe para o encosto fácil de Zamorano é de uma elegância soberba. Intervalo. No recomeço, o PSG entra mais afoito e reduz por Ginola, após canto da esquerda marcado por Valdo. Aos 89’, o lateral-esquerdo Colleter isola-se e passa por Buyo. O problema é que a bola não passa. Saída destemida do guarda-redes, clap clap clap. A jogada desenrola-se por aí fora e, às tantas, o suplente Esnaider isola-se na outra área. Lama carrega-o, a bola sobra para Michel, cujo remate é desviado pelo braço direito maroto de Roche. Penálti prontamente apitado pelo inglês Elleray e vermelho directo para o defesa do PSG. Na linha dos 11 metros, um nervoso Michel permite a defesa de Lama. A bola sobe, roça na barra e Michel atira-se com tudo para dentro da baliza. É o 3:1 final e um certo alívio pela vantagem de dois golos.
Segunda mão no Parque dos Príncipes, a uma quinta-feira, dia 18 Março. Que noite, mon Dieu. O Real Madrid recupera Prosinecki para formar o trio de estrangeiros permitidos pela UEFA, juntamente com o brasileiro Ricardo Rocha e o chileno Zamorano. Os três do PSG são os de sempre: Ricardo Gomes, Valdo e Weah. E é do liberiano o primeiro golo, na sequência de um canto de Valdo da esquerda. A elevação de Weah é primorosa, o cabeceamento indefensável – até porque Buyo sai-se mal dos postes. O 2:0 já aos 81 minutos é uma obra de arte, uma formidável jogada de equipa entre Valdo, Weah e Germain antes do forte remate de Ginola no limite da área. O PSG está qualificado, basta gerir.
Qual gerir qual quê, o PSG continua a atacar a baliza de Buyo e chega ao 3:0, por Valdo. Que golaço em contra-ataque. O 10 brasileiro recebe dentro da área, simula o remate, engana por completo Ricardo Rocha e, com muita calma, atira com qualidade para o canto inferior. Minuto 90, o árbitro húngaro Sandor Puhl, o da final do Mundial-94, estica o jogo. Disso se aproveita o Real Madrid para igualar a eliminatória, num mergulho de Zamorano, aos 90’+3. A desilusão é tremenda. Para os adeptos parisienses, bîen sur. Aos 90’+6, falta sobre Ginola e livre descaído para a direita. Marca Valdo, entra Kombouaré. O cabeceamento do central é certeiro, 4:1 ao cair do pano. Que sonho
Vencedor da Taça de França, o PSG salta para a Taça das Taças. Nos ¼ final, o sorteio dita o reencontro com o Real Madrid, ainda e sempre de Benito Floro. Tal como há um ano, a aventura começa no Santiago Bernabéu. Quinta-feira, 3 Março 1994. Artur Jorge deixa Raí no banco e aposta em Weah. Viva o futebol vertiginoso, abaixo o futebol mastigado. Com Ginola e Weah a entenderem-se de olhos fechados, há magia. Tanto assim é que Ginola é despedido com aplausos dos adeptos madridistas aquando da sua substituição aos 89 minutos.
E porquê? Ginola dá um festival de bola como poucos. O golo solitário é uma jogada linda em que passa por Sanchís, depois Chendo antes de oferecer o 0:1 a Weah. Atenção, o Real Madrid queixa-se de azar. Em três lances, dois golos salvos na linha e uma bola ao poste de Zamorano. Fora isso, o PSG domina a bel-prazer e Buyo é responsável por evitar os golos certos de Weah e Valdo.
A derrota europeia em casa faz mossa e o Real Madrid troca de treinador. Sai Benito Floro, entra Vicente del Bosque. O PSG mantém Artur Jorge. E bem. Os primeiros 20 minutos do PSG no Parc são divinais e só a aselhice de Weah e Guérin, ambos na cara de Buyo, impede o marcador de se mexer. Aos 21’, canto para o Real Madrid. Bola larga, cabeceamento de Sanchís para a entrada da área, onde Hierro despede um remate forte. Pelo caminho, Butragueño muda a trajectória da bola e engana Lama. A eliminatória está empatada. Só até ao 1:1 de Ricardo Gomes, num erro colossal de Buyo a sair-se dos postes a um livre de Valdo. Pelo segundo ano seguido, o PSG varre o Real Madrid da Europa. Sweet.
