Great Scott #141: Como se chama o único árbitro a falhar o dérbi Sporting vs Benfica?

Great Scott Mais 10/20/2020
Tovar FC

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Great Scott #141: Como se chama o único árbitro a falhar o dérbi Sporting vs Benfica?

Manuel Poeira

Nascido e criado em Olhão, o homem faz-se internacional sub18 por Portugal no início dos anos 50. Como jogador da Olhanense, claro está. Manuel João Poeira nunca joga na 1.ª divisão, anda invariavelmente pelos escalões secundários. Até que pendura as chuteiras e abraça a carreira de árbitro. Aí, faz-se ao piso da 1.ª e estreia-se no José Alvalade em Novembro 1973, com Sporting 8:0 Montijo. Três semanas depois, Benfica 2:0 Beira-Mar na Luz. Imparável.

Ou não. No final de Maio 1976, a federação entrega-lhe o jogo mais importante da 29.ª e penúltima jornada: o dérbi entre Sporting e Benfica. À hora marcada, nem vê-lo. Ao fim de 15 minutos, os altifalantes do José Alvalade ecoam alto e bom som as palavras de socorro ‘a árbitros que estejam presentes e queiram acorrer rapidamente à porta 10-A’. Da bancada veio o trio de arbitragem, comandado por Nemésio de Castro, secundado por Ferreira Pinho e Diamantino Vidal.

Sem cartões amarelos nem vermelhos, o árbitro faz-se representar por um cartão rubro. O lateral brasileiro Da Costa é presenteado pelo mesmo aos 22’, por palavras. Com menos um, o Sporting soçobra com três golos nos últimos cinco minutos por Nené (82’), Jordão (85’) e Nené (88’). O curioso dessa tarde é que Manuel Poeira é visto em amena cavaqueira a curtir o Farense 2:0 Beira-Mar no São Luís. Feitas as contas e ouvidos os intervenientes, Poeira faz greve em protesto com a classificação pública dada pelos seus camaradas do apito.

Escreve Santos Neves no Diário de Lisboa: ‘Perde-se um árbitro que tinha certas qualidades mas que (pelo visto) não é competente condutor de homens. Um disciplinador que, para começar, se devia saber disciplinar. E foi pena, mas de bons rapazes está o inferno cheiinho. E, para Poeira, só uma pazada de terra.’ Uns anos depois, em Outubro 1980, Nemésio de Castro (esse mesmo) é o escolhido pelo comité dos árbitros para dirigir o dérbi, este na Luz, relativo à Supertaça. Com cartões no bolso. O resultado é novamente favorável ao Benfica, 2:1.

E o senhor Manuel Poeira, o que diz em sua defesa? O jornal Record fala com o árbitro ausente no próprio dia do dérbi. Eis as melhores frases.

‘Faltei porque em consciência não estava nomeado para apitar o Sporting-Benfica, estava, sim, comprado. A Comissão Central comprou-me para apitar o jogo. O tiro saiu-lhe pela culatra. Injustamente e por maldade,a Comissão julgou mal as minhas actuações. Premeditadamente, a minha classificação foi deturpada e, por consequência, o Sporting-Benfica era a rolha que se metia na boca de um indivíduo’

‘Este tipo de acontecimentos estranhos com a Comissão já vêm de longe e começaram com a minha subida à 1.ª divisão. Aliás, nessa altura até pedi a demissão. Eles devem ter esse documento’. Essa subida foi uma subida de favor, promovida pela máfia da Comissão. Cinquenta por cento dos indivíduos que aparecem a apitar são escolhidos por convirem a determinado clube. Nós aqui em Olhão sabemos claramente quando o Olhanense precisa de ganhar de acordo com o nome do árbitro’

‘Tenho consciência absoluta de que não sou português. Pelo menos no tratamento. Nós, algarvios, somos portugueses de segunda’

‘Neguei-me a apitar o Sporting-Benfica para alertar o público sobre a verdade de tudo isto. Verdade essa que é deturpada domingo a domingo’

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