João, Fernando e Jorge. Os três golos dos irmãos Mendonça do Braga vs FCP na Taça de Portugal

Kali Ma Mais 02/09/2021
Tovar FC

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João, Fernando e Jorge. Os três golos dos irmãos Mendonça do Braga vs FCP na Taça de Portugal

Well well well, so we meet again. Nem mais, Braga vs Porto é só o duelo mais completo da história do futebol português. E porquê? Simples, Braga e Porto esgrimem argumentos na final da Taça de Portugal (1998), final da Supertaça portuguesa (1998), final de uma prova europeia (Liga Europa 2011) e, finalmente (passe a expressão), final da Taça da Liga (2013 e 2019). Que categoria. Meeeesmo.

Hoje, presente, Braga vs Porto para a primeira mão da ½ final da Taça de Portugal, três dias depois do jogo da 1.ª divisão (passado recente), com empate a dois, obra de uma semi-reviravolta do Braga nos últimos dez minutos, com golos do capitão Fransérgio e do substituto Gaitán. Se recuarmos até ao passado do passado, encontramos uma eliminatória da Taça bastante emotiva.

Estacionamos em 1957-58, o Porto está em segundo lugar na 1.ª divisão e o Braga em quinto. O Porto acaba de se desfazer do brasileiro Dorival Yustrich, com quem festeja uma inédita dobradinha em 1956, e elege o compatriota Otto Bumbel como alternativa. O Braga tem o húngaro Joseph Szabo às suas ordens e um plantel (imagine-se) com quatro Mendonças. Quatro.

Há três irmãos, Fernando, João e Jorge, e depois o Francisco. Deixemos este último de lado, só nos interessam family ties. Fernando (nascido em 1932) é o do meio e é contratado em 1956, via-Torreense. A pedido deste, também vem o mais novo, Jorge (1938), estrela maior do Sporting campeão nacional de juniores e sem espaço no plantel principal. Os dois colaboram na subida à 1.ª divisão, com uma fartura de golos.

Nas últimas oito jornadas, na ressaca da derrota vs Salgueiros (líder e campeão da zona norte), o Braga concentra-se e acumula oito vitórias. Umas mais especiais que outras, como o 5:0 na Amorosa ao Vitória SC e o 5:1 no Campo da Avenida, em Espinho. Ao todo, fartura de golos com 42:5.

O maior de todos é Jorge Mendonça. Aos 19 anos, marca nove. Acredite se quiser, seis desses nove é vs Chaves (13:0). Sim senhor, treze a zero. Jorge marca quase metade. Os outros pertencem a Velez (3), Fernando Mendonça, Ferreirinha e dois autogolos. No 5:0 em Guimarães, bis de Jorge e Fernando. Os irmãos em grande Na época seguinte (1957-58), o Braga contrata o mais velho João (1929), via-Torreense. Os três jogam de olhos fechados. Pudera. E fazem história.

Primeiro na 1.ª divisão, vs Torreense. Acaba 7:0. Fernando faz o 1:0, João o 2:0, Jorge o 3:0. Magia pura, música maestro. Jorge bisaria e os restantes três dessa tarde pertencem a Ferreirinha, dois dos quais de penálti. Estamos em Novembro 1957. Passam-se cinco meses, Abril 1958. É um sábado, o único jogo antecipado dos oitavos-de-final da Taça de Portugal. Na primeira mão, 3:0 do Porto nas Antas com Monteiro da Costa a falhar um penálti, à trave – marcaria na recarga, só que o árbitro Hermínio Soares anula (e bem); afinal, as regras dizem que a bola só pode ser jogada por todos, à excepção do marcador, se vier de um poste ou de uma trave.

Uma semana depois, é a segunda mão. O Braga anima-se com o primeiro golo no Estádio 28 Maio (futuro 1.º Maio), através de Jorge. Empata Morais, aos 54’. E agora, Braga? É preciso marcar mais três para obrigar a um terceiro jogo. Os irmãos tomam conta da ocorrência. João desata o nó aos 63’ e Fernando comanda o sonho, aos 86’. A resistência portista aguenta-se e apura-se para os oitavos-de-final. Ultrapassa depois Marítimo, Sporting e Desportivo (ya, o de Lourenço Marques) para chegar ao Jamor, onde ganha a final vs Benfica, graças a um solitário golo de Hernâni.

Por essa altura da final da Taça de Portugal, já o Braga emprestara os dois irmãos mais novos ao Deportivo (ya, o da Corunha). Os homens querem fugir à 3.ª divisão e Fernando mais Jorge, com um golo cada, cumprem exemplarmente a missão, play-off incluído (vs Ourense, dupla vitória por 2:1 e 2:0).

Na época seguinte, Fernando volta ao Braga e Jorge assina pelo Atlético. O de Madrid, onde faz nove épocas seguidas de grande nível, como goleador de primeira água, primeiro embaixador a sério de Portugal no estrangeiro, vencedor de uma Taça UEFA, de uma Taça do Rei (vs Real Madrid, no Bernabéu) e ainda da Liga 1966. Depois, ainda joga dois anos no Barcelona (contrato assinado na casa de um tal Vicente Calderón) e um no Maiorca.

E o João? Como só podem jogar dois estrangeiros em Espanha, é ele quem fica em casa. E, na verdade, nunca sai de Portugal. Futebolisticamente falando. Acaba a carreira na 2.ª divisão, ao serviço do Gil Vicente, em 1961. Seja como for, recuperamos a ideia inicial do duelo português mais completo da história entre Braga e Porto com a história inédita dos golos dos três irmãos.

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