Great Scott #492: Quem é o treinador alemão que compra três discos da Amália no dia seguinte à sua morte?
Jupp Heynckes
Campeão europeu pelo Real Madrid em 1998, naquela final resolvida por um golo solitário de Mijatovic vs Juventus, o nome de Jupp Heynckes é um reforço de peso para o Benfica 1999-2000. Contratado por Vale e Azevedo, o treinador alemão é um homem de reconhecidos méritos.
Como jogador, é só campeão europeu e mundial pela selecção da RFA em 1972 e 1974. Joga, e nas horas, no Borussia M’Gladbach, sempre com o número 11 nas costas. Em duas finais de Taça UEFA, marca cinco golos. Bis vs Liverpool em 1973 e hat-trick vs Twente em 1975. Como treinador, também se faz à vida no M’Gladbach com um total de 343 jogos entre 1979 e 1987. Segue-se o convite do Bayern e o trilho do sucesso a nível nacional com dois títulos seguidos de campeão alemão – na UEFA, elimina Vitória SC (1987) mais FC Porto (1991). Aventura-se então em Espanha.
Primeiro Athletic, depois Tenerife, finalmente Real Madrid. Ao título europeu em 1998, Heynckes faz uma pausa de um ano para cuidar da mulher Iris, então doente. Em Julho 1999, Jupp chega a Lisboa com pompa e circunstância. Na primeira entrevista ao jornalista César de Oliveira, do Record, diz-se espantado com a qualidade técnica de Luís Carlos (ex–Salgueiros) e afasta a possibilidade de conciliar ingleses com portugueses à Souness. A esse respeito, é taxativo: ‘Não se mistura água com fogo’.
Durante uma época-e-pouco, antes de se demitir na conferência de imprensa no próprio dia da vitória apertada vs Estrela por 2:1 na Luz, o seu registo é de 27 vitórias em 48 jogos. Para trás, o terceiro lugar na 1.ª divisão 1999-2000, a saída do capitão João Vieira Pinto, a promessa de golos com Tote e o desastroso 7:0 em Vigo. Admirador da vida em Buenos Aires, da cultura chilena (por culpa da escritora Isabel Allende) e do político espanhol Felipe González, a vida editorial de Heynckes acumula quatro livros escritos por si, o primeiro autobiográfico e os outros três sobre metodologia de treino.
Heynckes pouco conhece de Portugal, à data da sua chegada. Quando parte em definitivo, bate-lhe uma saudade. A questão de Timor, a voz de Amália e um peixe na praia é uma espécie de hat-trick social, conforme dá a conhecer numa outra entrevista ao Record, agora ao jornalista José Manuel Delgado.
Como estrangeiro, que análise fez de Portugal durante a crise de Timor?
Em primeiro lugar, procurei inteirar-me, com detalhe, do que estava em causa. E, a partir daí entendi perfeitamente o sentimento dos portugueses. Para mim, confesso, foram momentos de grande emoção. Estar dentro de uma cadeia de solidariedade que mobilizou todo um povo, foi uma grande emoção. Fiquei com uma grande admiração pelo povo português, que é simpático e se mostra capaz de acções de grande humanidade. Menos na estrada, é claro, quando conduzem.
Teve outros momentos marcantes?
No dia do Portugal-Hungria estive a conversar com a minha mulher e filha sobre Amália que, confesso, não conhecia; depois, no estádio, arrepiei-me com toda a gente a cantar o hino com uma alma impressionante; e a seguir a voz de Amália respeitada por toda a multidão. Foi um dia inolvidável. Devo confessar que a seguir comprei três discos de Amália, que tinha, de facto, uma voz extraordinária para um tipo de música bela e triste. Amália foi também, nos seus tempos, uma mulher extremamente atraente.
Está satisfeito em Portugal? Há muitos anos, ainda jogava, vim passar férias ao Algarve com um colega de equipa. Conhecemos um casal português que acabou por convidar-nos para um jantar na praia, com um peixe maravilhoso. Foi um gesto de simpatia que me marcou fundo e que agora tenho oportunidade de rever na maneira de ser das pessoas com quem contacto.