Great Scott #562: Único argentino a estrear-se na selecção sem qualquer jogo na 1.ª divisão?
Mascherano
A minha primeira impressão de Mascherano é má, péssima. Estamos em Março 2008, clássico em Old Trafford entre United e Liverpool. Um golo de cabeça de Brown abre o apetite para uma primeira parte marcada pelo nervosismo de Mascherano. O argentino, já amarelado por uma falta dura sobre Scholes, corre quase meio-campo na direcção do árbitro Steve Bennett a protestar por um cartão mostrado a Fernando Torres. A violência verbal, digamos assim, contribui para o segundo amarelo e correspondente vermelho.
Mascherano faz-se difícil em sair do relvado, envolto em protestos e mais protestos, fora de si, e é puxado por companheiros, até suplentes. Lembro-me do seu descontrolo emocional. Com menos um desde os 44 minutos e em desvantagem no marcador, o Liverpool esfrangalha-se e acaba derrotado por 3:0, golos portugueses de Ronaldo e Nani. No flash-interview, o adjunto Carlos Queiroz fala da sua equipa e o treinador Rafa Benítez passa a mão pelo pêlo em Mascherano naquela (i)lógica de defender a sua família.
Justiça lhe seja feita (a ele, Mascherano), é um craque do além. Injustiça (xxl) minha, já deveria conhecer Mascherano de ginjeira em 2008. Ando a apanhar bonés é o que é. Porque aquele Mascherano em Old Trafford é um ser estranho. Até para os suplentes do Liverpool. A classe de Mascherano é rara e nunca passa despercebida aos olhos vivos de quem sabe. Como o Ajax, por exemplo. Estamos em Março 2001, na Copa América sub17. Antes da estreia da Argentina, vs Uruguai, em Arequipa (Peru), a curiosidade dos olheiros em Mascherano é grande, enorme, gigante. O Ajax atravessa-se por ele e aproveita a presença dos pais do jogador para apresentar todo um plano de futuro longínquo.
Oscar e Chiche Mascherano ouvem a proposta com atenção: trabalho para os pais em Amesterdão, colégio para o filho, pagamento de dois mil euros por mês, casa paga, automóvel oferecido e bilhetes para a Argentina um par de vezes ao ano. O contrato é de cinco anos, negociável. As duas partes entendem-se, a decisão final está por conta e risco do próprio Mascherano. O jogador faz a sua escolha e chuta uma decisão para Junho, daí a três meses, por ocasião do Mundial sub-20, na Argentina. Nada feito, Mascherano prefere continuar em casa, a evoluir no River Plate.
A sua ascensão é meteórica e 2003 é o seu grande ano. Aos 19 anos, Mascherano faz três-em-um. Tudo começa em Junho com a conquista do título pomposo de melhor jogador do Torneio Toulon. O capitão dessa Argentina joga com o 5 nas costas e supera a concorrência forte de Ronaldo (esse, o Cristiano). Quando os dois se encontram, no dia 15, Portugal é muito mais forte com 3:0, golos de Custódio (cabeça), Lourenço (livre directo) e Lourenço (penálti sobre Hugo Almeida). Nem um (Mascherano) nem outro (Ronaldo) aparecem muito nessa tarde. Certo é que Mascherano deixa o seu perfume e é eleito o melhor (Argentina acaba em terceiro lugar), enquanto Raul Meireles é o mais elegante e Bruno Vale o melhor guarda-redes.
No mês seguinte, a 17 Julho, dá-se o salto vertiginoso dos sub20 para a seleçcão principal. Mascherano é chamado por Marcelo Bielsa, vs Uruguai, na inauguração do Estádio Único, em La Plata. Acaba 2:2 com três golos do clã Milito (dois para Diego, um para Gabriel, na própria baliza). E que tal Mascherano? Joga de 5 com o 5, de fio a pavio, 90 minutos a encher o campo. Bielsa aposta mesmo nele, ao lado de Lucho González e Insúa, só para citar dois homens com futuro na 1.ª divisão portuguesa.
Quantos jogos já leva Mascherano no River Plate? Cerca de zero. Hein? Pois é, Mascherano tarda em estrear-se no River por culpa da titularidade de Leonardo Astrada, conhecido como jefe. Quando Mascherano lhe rouba o lugar, a partir da estreia no dia 3 Agosto durante o River 2:1 Nueva Chicago, os adeptos colam-lhe o apelido para sempre: jefecito. Pois bem, jefecito encarrega-se de fazer uma carreira impressionante e é feito capitão da selecção argentina por Maradona, na campanha para o Mundial-2010.