Great Scott #675: Quem é o seleccionador mais novo na história dos Mundiais?

Great Scott Mais 11/24/2022
Tovar FC

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Great Scott #675: Quem é o seleccionador mais novo na história dos Mundiais?

Pipo Rodríguez

Especialista em golos acrobáticos, sobretudo pontapés de bicicleta, Mauricio ‘Pipo’ Rodríguez faz história como autor do último golo de El Salvador nos Jogos Olímpicos (1:1 vs. Gana em 1968) e também como representante de El Salvador nos dois Mundiais do seu país, primeiro como jogador em 1970, depois como seleccionador em 1982.

Pipo faz todos os três jogos a titular em 1970, El Salvador sai sem honra nem glória: zero pontos, zero golos marcados. Dois anos depois, Pipo afasta-se do futebol, carregado de lesões. Só tem 27, é pena. Em 1980, oferece-lhe o cargo de treinador nacional. O objectivo é o Mundial-82.

Há uma fase preliminar, com oito jogos. Ultrapassada essa barreira, joga-se uma fase final com seis países nas Honduras e El Salvador apura-se no último dia, a 22 Novembro 1981, por culpa de um 0:0 entre o anfitrião (já apurado) e o México (obrigado a ganhar).

À festa do apuramento, segue-se um Saltillo à maneira. Para início de conversa, a federação de El Salvador só convoca 20 em vez de 22. E porquê? Vinte chegam e sobram. Causa? Dois dirigentes federativos embarcam na aventura no lugar desses dois convocados. Efeito? Nenhum desses dirigentes está com a equipa nem sequer aparecem nos três jogos da fase de grupos. É férias, à grande e à salvadorenha.

E a viagem até Espanha? É um circo sem fim, El Salvador é a última selecção das 24 a chegar. E como? De El Salvador para Guatemala, dormida no aeroporto, da Guatemala para Costa Rica, da Costa Rica para República Dominicana, da República Domicana para Madrid, de Madrid para Alicante. Uffff. Tudo isto e as nove horas de diferença.

Problemas extra: as malas de viagem e os fatos oferecidos pela FIFA pertencem às equipas do Mundial-74 e não há cá bolas para ninguém – isso mesmo, alguém as abarbata (os tais dois dirigentes federativos? quem sabe, quem sabe). Na véspera, a federação manda um jogador ao campo de treinos da Hungria e o ‘emissário’ sai de lá com duas bolas.

Também na véspera, um empresário espanhol aparece no hotel com uma cassete de um jogo da Hungria, adversário de El Salvador no dia seguinte. No visionamento, o seleccionador Pipo Rodríguez anima os jogadores. ‘Jogam como se fosse o Paris SG.’ Duas semanas antes, El Salvador ganhara 2:1 ao recente vencedor da Taça de França.

Equipas em campo, hinos tocados, corações ao alto, cá vai disto. Aos três minutos, 1:0 pelo capitão Nylasi. Ao intervalo, 3:0. Depois, 4:0. Pipo manda aquecer Eduardo Hernández. Nada feito, o homem recusa-se. Pipo mantém então Mora na baliza. Toma lá cinco. De repente, Zapata assina o 5:1 e festeja-o como fosse o do título mundial.

A Hungria toma nota e marca mais cinco, acaba 10:1. O rapaz do placard manual tem de inventar uma segunda casa decimal para a Hungria. É o fim da picada. Antes fosse, é apenas o início. Ainda faltam dois jogos. O primeiro é vs. Bélgica (1:0). O outro é vs. Argentina (2:0). Nada mau. Sim, o problema é o extra futebol.

Então? Antes da Bélgica, há um terramoto em El Salvador e dois jogadores querem sair da concentração para tomar conhecimento da saúde das respectivas famílias. Qual quê, a federação impede-os categoricamente. Antes da Argentina, o responsável pela logística esquece-se dos documentos de identificação para o árbitro. O hotel está a 50 quilómetros de distância, nem de helicóptero. E agora? Joga-se à antiga, sem documentação.

Contas feitas, um golo marcado, treze sofridos e o último lugar no Mundial-82. Pipo Rodríguez retira-se do futebol para sempre. Só tem 36 anos de idade, é o mais novo treinador desse Mundial. E de todos os outros, antes e depois. Dedica-se à engenharia civil, cujo curso tira ainda como jogador da Universidad (pois, muito conveniente). ‘Foi muito desgastante, a pressão e o pós-Mundial.’ Queixa-se o próprio Pipo.

O único salvadorenho bem parado em toda a situação é Mágico González, o número 11. Assina pelo Cádiz e ainda hoje é uma figura incontornável do imaginário bem presente dos adeptos do futebol espanhol como jogador de nível maradoniano.

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