Great Scott #714: Primeiro jogador titular a vestir um número acima do 11 em Portugal?
Inaldo
Uma seca, os anos ímpares. Sem Europeu nem Mundial, o que fazer? Em 1981, há a liguilha entre clubes da 1.ª e 2.ª divisão. Há magia (negra), portanto. Os candidatos perfilam-se, agarrados ao sonho de jogar no escalão maior em 1981-82. Juventude Évora como único representante do sul, Académico de Viseu, Nazarenos e Leixões o trio do Norte.
À partida para a última jornada, o Juventude é o único arrumado. Daí para a frente, é Académico 7 pontos, Nazarenos 6 e Leixões 5. Todos candidatos e há Nazarenos vs Académico, no Municipal da Nazaré. O árbitro é o internacional Mário Luís, de Santarém. O Nazarenos apresenta um onze com nomes pitorescos como Lapa, Gato, Viola. O Académico joga com um Águas. No fundo no fundo, o homem chama-se Carlos Marta, só é Águas pela admiração ao capitão do Benfica bicampeão europeu em 1961 e 1962.
Começa o jogo, tudo normal. Ups, esperem lá. O Académico não joga de 1 a 11. Então? Há um 15 lá no meio. É ele o brasileiro Inaldo. No fundo fundo, o homem chama-se Aguinaldo. Que maravilha, siga a marinha. O pelado da Nazaré é um mimo, dá gosto ver aquela moldura humana ali à volta, encostada às barras de ferro a rodear as quatro linhas. Entre os presentes, os ilustres árbitros António Garrido e Alder Dante.
Ao intervalo, 0:0. No outro jogo, o candidato Leixões encontra resistência do Juventude e o Académico está na 1.ª. Na segunda parte, o golo do tal Inaldo desequilibra a balança, desportiva e socialmente. Desportiva porque o Académico decide a questão da subida, social porque enerva ainda mais as gentes da Nazaré.
Quando acaba o jogo, cinco minuto depois, toda a gente espera um convívio salutar dos jogadores no meio-campo com abraços e trocas de camisolas. Nada feito, o massagista do Académico leva uns sopapos de jogador do Nazarenos e provoca uma confusão de dimensões estratosféricas. Carloto, o massagista, é todo ele sangue.
A multidão agita-se e a Polícia de Intervenção dá um mau espectáculo com bastonadas a torto e a direito, sem olhar a meios (nem a fins). É uma tristeza inaudita. Inaldo, esse, mantém à margem da polémica e é celebrado o herói da subida.