Élber. ‘Vinguei-me do penálti falhado na Luz com dois golos pelo Grasshopper em Alvalade’

Mais You Talkin' To Me? 06/30/2020
Tovar FC

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Élber. ‘Vinguei-me do penálti falhado na Luz com dois golos pelo Grasshopper em Alvalade’

O Brasil da final do Mundial sub20 em Lisboa reúne gente fina como Roberto Carlos. De longe, o mais famoso. Logo atrás, Élber. Quer dizer, estamos a falar de um craque do além, contratado pelo Milan antes dos 20 anos de idade. E logo emprestado ao Grasshopper, onde faz história com agá maiúsculo, sobretudo em Alvalade, vs Sporting, para a Taça UEFA. Referência incontornável do Estugarda, é também figura no Bayern antes do regresso ao Brasil, ao serviço do Cruzeiro. Na final da Luz, falha um dos penáltis do Brasil.

Bom dia Élber, tudo bom?

Tudo legal, e você?

Tudo bem, obrigado. Ligo-lhe hoje porque faz anos a vitória de Portugal vs Brasil na final do Mundial sub20?

Pô, você me liga para falar disso? Caramba [risos, diferentes dos de Nélson]. Julgava que vocês já tinham esquecido e tudo. Mas eu compreendo, fala aí.

Já que começámos com o pé esquerdo, falo-lhe do penálti falhado.

Aí já é de mais, né? Que é que é isso??? [mais risos] Olha, foi um lance que já passou, mas doeu-me. Quis meter a bola ao canto e ela bateu no poste. Mal ela voltou ao relvado, a minha vontade era escavar um buraco e meter lá a cabeça. Claro que queríamos ganhar o Mundial e chegar ao Brasil com esse título, mas fizemos muito e dignificámos o país, da mesma forma que se Portugal perdesse essa final, tu e os restantes adeptos não ficariam desanimados com essa selecção. Adeptos esses que encheram o estádio. Esse aspecto foi fantástico, sobretudo na hora do hino. As pernas tremem e há pele de galinha. Mal o árbitro apita, a gente esquece todo o ambiente que nos rodeia, de tão concentrados que estamos.

Um ano depois, o Élber deu o troco.

Ééééééé, Sporting-Grasshopper [primeira eliminatória da Taça UEFA 1992/93]. Perdemos 2:1 em casa e virámos em Alvalade, no prolongamento, com 3:1. Marquei dois golos e vinguei-me do penálti na Luz. Foi uma noite histórica. Para mim, para o Grasshopper e até para o futebol suíço.

Eliminou o Balakov, seu grande amigo no Estugarda.

Pois foi. Nós dávamos risadas a recordar esse jogo. Até porque ele marcou um dos golos lá em Zurique.

Como era o Balakov?

Como pessoa, espectacular. Como jogador, pouco mais há a dizer. Era um génio. Quando assinei pelo Bayern, ele também podia ter ido mas recusou a proposta.

E como foi a sua transição do Estugarda para o Bayern?

Muito complicada. O Estugarda era como uma família e jogávamos sempre ao ataque: eu, Bobic e Balakov. Em campo, o Bobic falava em croata com o Balakov, ele falava alemão comigo e eu respondia em português. Às vezes, confundíamo-nos e eu falava com o Bobic em português e o Balakov em búlgaro comigo. Era a maior risada.

E no Bayern?

Não havia muita harmonia, era o FC Hollywood. Sempre falei olhos nos olhos com Matthäus, Kahn, Effenberg, Scholl, mas aquilo era um a querer matar o outro. O Kahn, por exemplo, estava um dia bem-humorado e outro maldisposto. Num dia, cruzava-me com ele no balneário, dizia bom dia e ele respondia, ou melhor resmungava, só por educação. No outro, repetia a acção e ele ria-se. Aí, dizia que estava animado porque jantara muito bem na véspera e dormira como um bebé. E ele respondia que só eu é que o fazia rir daquela maneira, àquela hora da manhã. Ele dizia-me: ‘Detesto acordar cedo!’

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