Great Scott #191: Quem é o primeiro italiano a nadar os 100 m livres em menos de um minuto?
Bud Spencer
Ao pé dele, James Bond é um menino. Darth Vader, esse, nem consegue respirar em condições. O Joker, coitado, até encolhe o sorriso maquiavélico. Falamos (claro está) de Carlo Vicente Pedersoli. Quem?
Pronto, está bem, Bud Spencer. Vai dar ao mesmo. Ele é o rei das bofetadas, o bom da fita mais intratável de Hollywood e o actor inesquecível de mais de 100 filmes – o seu primeiro é como guarda-costas do megalómano Nero (Peter Ustinov) no filme “Quo Vadis?”.
Mil nove e cinquenta e um, ano memorável para Bud Spencer. Sim, é. Nem só pelo cinema. Porque em 1951 Carlo Pedersoli (só muda o nome em 1967) vence a medalha de prata nos Jogos Mediterrânicos em Alexandria (Egipto), nos 100 metros livres na natação, com o tempo de 59,9 segundos – é o primeiro italiano a fazer os 100 metros em menos de 1 minuto. Oh oh oh, easy boy.
Bud Spencer é italiano? É vero. Carlo Pedersoli nasce a 31 Outubro 1929 e cresce em Santa Lucia, na zona de Nápoles. Estuda no mesmo colégio que Luciano De Crescenzo, famoso escritor/actor/produtor/realizador italiano. Em 1940, Carlo deixa Nápoles, juntamente com a família, e continua os estudos em Roma. Química, Direito e Sociologia, uma trilogia que o leva directamente para o cinema.
O seu físico imponente (1,92 metros de altura por 105 quilos de peso) chama a atenção de Mervyn LeRoy, realizador de “Quo Vadis?”, um filme sobre a Roma antiga que envolve arenas, touros, leões, dentadas, cornadas, histeria e há uma gafe enorme, quando Pedro, discípulo de Cristo, aparece gordo em todo o filme menos na cena em que é crucificado. Nas filmagens em Roma há 32 mil figurantes. Entre eles, Carlo. Ao lado da novíssima Sophia Loren (uma escrava de 17 anos) e de Elizabeth Taylor (uma prisioneira de 21). O filme é indicado para os Óscares em 1952 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia Colorida, Melhor Actor Secundário, Melhor Montagem e Melhor Banda-Sonora.
Carlo passa ao lado das nomeações e continua a estudar. Quando acaba o curso de Sociologia parte para o continente americano, onde trabalha na linha de montagem de uma fábrica no Rio de Janeiro (Brasil), como bibliotecário em Buenos Aires (Argentina), secretário da embaixada de Itália em Montevideo (Uruguai), servente de construtor civil na Cidade do Panamá (Panamá) e corredor de automóveis em Caracas (Venezuela). Ufff!
Quando regressa ao seu país, Carlo inscreve-se na Lazio como jogador de pólo aquático, é campeão italiano em 1954 e ganha a medalha de ouro nos Jogos Mediterrânicos Barcelona-55. Também é nadador e sagra-se heptacampeão italiano (sete vezes) nos 100 metros, entre 1949 e 1957, e representa a Itália nos Jogos Olímpicos Helsínquia-1952 e Melbourne-1956 (em ambos é eliminado nas meias-finais).
E o cinema? Calma, é agora. Só há cinco filmes com Carlo Pedersoli. Em 1967 transforma-se em Bud Spencer. Bud da parte do pai, Spencer da parte da mãe? Não, muito mais engraçado que isso. Bud da parte da Budweiser (sim, a cerveja), Spencer da parte de Spencer Tracy, actor norte-americano dos anos 40, 50 e 60. Como Bud Spencer, o cinema ganha um outro élan. Quem dá mais pancada de sorriso em riste é o rei, o aglutinador das massas. E esse é Bud Spencer, que convence Hollywood num abrir e fechar de olhos com uma série de tabefes (à boa maneira de Spencer Tracy, ou, em última análise, à Obelix), mas tabefes bem dados, com a mão bem aberta, para doer mais. E sempre na companhia de Mario Girotti, mais conhecido como Terence Hill.
A dupla encontra-se por acaso em 1967, no filme “Deus Perdoa… Eu não!” O realizador Giuseppe Colizzi escolhe Bud Spencer e Pietro Martellanza, mas este parte o pé esquerdo contra a parede numa discussão com a namorada e é substituído por Terence Hill antes do primeiro dia das filmagens. A partir daqui assiste-se à evolução de uma das mais loucas duplas de sempre. É um festim de pancadaria e disparates que se prolonga por 17 longas-metragens, até 1994. São filmes divertidos de toda uma geração, como “Chamam-me Trinitá”, “Dá-lhe Duro Trinitá” e “A Dupla Explosiva”. Brindemos ao sucesso e à estreia oficial de Carlo Pedersoli. Com uma Budweiser, pois claro.