Meszaros, o grande Ferenc

Mais Shaken, Not Stirred 04/27/2021
Tovar FC

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Meszaros, o grande Ferenc

Em mil-nove-e-noventa-e-pouco, morava no 11.º andar com os meus pais na Flamenga, paredes meias com a Póvoa de Santo Adrião, com vista para as torres da Bela… Vista em Santo António dos Cavaleiros. No sobe e desce do elevador, o mais normal é encontrar pessoas para falar do tempo incerto, do trânsito impossível na Calçada de Carriche e dos resultados de futebol na última jornada.

Numa dessas investidas, um vizinho também do 11.º mete-se com o meu pai. De Mário Rui para Rui Mário. A conversa estende-se para fora do elevador e sai da banalidade. Às tantas, salta a pergunta para o meu pai sobre a possibilidade de arranjar qualquer coisa para o Meszaros, o grande Ferenc, campeão da 1.ª divisão pelo Sporting em 1982 e da 2.ª pelo Vitória FC em 1987. O homem vive em Budapeste, com a mulher (médica) mais os filhos, e aquilo está assim-assim. É a ressaca da queda do muro de Berlim nos países de Leste, o panorama é desanimador. Há movimentos aqui, diligências ali. De repente, Meszaros assume o cargo de treinador do Lourinhanense, então um clube satélite do Sporting. A sua mulher também vem e trabalha num hospital na zona do Oeste. A vida ganha um outro élan. Bem melhor.

Passa-se um ano e o Lourinhanense sobe à 2.ª divisão B. Em Agosto, na altura das férias na Areia Branca, onde faço contagem decrescente para a compra das revistas de início de época da France Football, da Kicker e d’A Bola, o meu pai pede-me para ir ver se o Meszaros está nas suas sete quintas. Aceito o desafio, depois de um dia intenso de beachball no areal extenso e mergulhos em alto mar, e lá vou assistir a um treino de pré-época. Quando Meszaros sai do Estádio Municipal em direcção ao carro, chamo-o. Mal lhe digo de quem sou filho, salta-lhe uma lágrima. Duas, quatro, oito, infinitas. Enquanto diz repetidamente ‘obrigado ao seu pai’. Pela primeira vez, vejo um homem chorar no meu ombro. E só voltaria a ver uma cena idêntica com o meu pai, no funeral da minha avó, também na Lourinhã

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