Great Scott #825: Único seleccionador a sair de um jogo de Portugal ao intervalo?

Great Scott Mais 07/18/2023
Tovar FC

author:

Great Scott #825: Único seleccionador a sair de um jogo de Portugal ao intervalo?

Armando Ferreira

Imagine a cena: o Benfica sagra-se bicampeão europeu no dia 2 Maio 1962, em Amesterdão (5:3 vs. Real Madrid), e a maioria dos seus jogadores atravessa o Atlântico para jogar no Brasil, primeiro em São Paulo, depois no Rio de Janeiro. Aí estão eles, os heróis europeus no Pacaembu, quatro dias depois da gloriosa conquista: Costa Pereira, Eusébio, José Augusto e Coluna mais Simões, como suplente.

Desses cinco, dois destacam-se dos demais. Coluna pelo golo e Costa Pereira pelas defesas aparatosas, penálti de Didi incluído, a adiar o inevitável. Na defesa, Lino impede Zagallo de se aventurar e Vicente faz mais uma cobertura exemplar a Pelé. Só falta Hilário, a quem Garrincha lhe troca as voltas uma só vez. É o suficiente para o 1-1? Talvez não, Zequinha confirmaria a vitória brasileira no segundo duelo entre Pelé e Eusébio, após o Benfica-Santos em Paris.

Três dias depois, Portugal volta a encontrar o Brasil, agora no Rio de Janeiro. A derrota é assinada com um golo de Pelé, num lance em que atira de cabeça à trave e finaliza na recarga, já com Costa Pereira fora do lance. Antes, joga-se um futebol atractivo, aberto e competitivo. Pepe tem a primeira oportunidade, num remate à queima roupa a possibilitar um voo fenomenal de Costa Pereira.

Do lado português, José Augusto dribla o central Altair mais o guarda-redes Gilmar antes de tocar a bola para a baliza deserta. Mesmo mesmo mesmo na linha, o desmacha-prazeres Mauro afasta o perigo com a ponta da bota. Vale a pena realçar a ousadia da selecção em jogar ao ataque à procura do empate, feito enaltecido pelos brasileiros. Que jogam contra um brasileiro pré-Deco (é Lúcio, do Sporting). Pormenor: este Brasil sagrar-se-ia bicampeão mundial daí a um mês, no Chile.

Terminado o périplo pelo Brasil, a selecção regressa a casa e faz só mais um jogo ao final da época. Surpresa das surpresas, acumula a sexta derrota seguida. Quer dizer, em casa e vs. Bégica é uma dupla decepção. Verdade, os belgas entram sem manias e marcam dois golos, ambos com culpas para Costa Pereira. Só que Portugal nem assim acorda para a vida e é arrastado para uma exibição francamente negativa.

Obrigatório repetir o nome de Costa Pereira. Se não fosse o guarda-redes, um dos oito benfiquistas em campo, seria uma noite muito mais azeda no José Alvalade. Por total falta de sintonia entre o sector defensivo, com Germano aos papéis, no seu pior jogo em dois anos, e a dupla de laterais Mário João-Cruz a meter água por todo o lado. Para desanuviar a dor da derrota justa, Eusébio marca o golo da ordem. No fim, o árbitro culpa o vento pela má exibição das duas selecções. É só rir.

Ai é? Então veja bem isto: ao intervalo desse Portugal 0:2 Bélgica, o seleccionador Armando Ferreira sai de cena. Como assim? Para apanhar o barco até ao Barreiro. Hein? O homem explica tintim por tintim: ‘Estávamos todos fora de casa há muito tempo e, ao intervalo, fui-me embora. Não estava ali a fazer nada, a selecção estava seleccionada, ficou lá o Juca, treinador de campo. Se perdesse aquele barco, só ia para casa no dia seguinte.’

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *