Great Scott #987: Único italiano a falhar dois penáltis no mesmo jogo da UEFA?
Beccalossi
Há jogadores assim, de um talento imenso e sem expressão a nível internacional, por falta de um Europeu ou um Mundial. É o caso de Virdis, por exemplo. O primeiro Ravanelli da história do futebol italiano pelos cabelos brancos é uma figura de primeira água no Milan de Sacchi em 1987-88.
Com a lesão de Van Basten no início de época, é Virdis quem indica o caminho do título de campeão italiano, com a inevitável ajuda do holandês Gullit. Ao todo, Virdis marca 11 golos nessa campanha do scudetto, dois dos quais vs. Nápoles, em pleno San Paolo. Nesse ano de 1988, há Europeu. Quem vai como terceiro avançado, a acompanhar Mancini e Vialli? Rizzitelli, da Roma. Baaaaaah.
Antes, uns seis anos antes, para o Mundial-82, o seleccionador italiano Enzo Bearzot não chama Beccalossi, um 10 mágico do Inter. A dupla com Alotbelli, com quem já se cruzara no Brescia, é amplamente elogiada pelos adeptos do Inter e ate resulta na conquista da Taça de Itália desse ano 1982, vs. Torino.
Só que Beccalossi é um talento inconstante. Para Bearzot. Tanto vai do 8 aos 800 e há quem diga que o Inter tanto joga com dez ou doze, tudo depende do dia. Dito de forma simples, Beccalossi é inconstante e costuma passar ao lado do jogo durante largos minutos. Vai daí, Beccalossi não é convocado para o Mundial. Há quem se sinta indignado. Como o próprio jogador, claro.
E também uma adepta, Anna Ceci, de seu nome. Na manhã de 3 Junho 1982, dia da partida da selecção italiana para o glorioso Mundial-82, nas imediações do hotel dos convocados, Anna insurge-se contra Bearzot sobre a ausência de Beccalossi na vez de um tal Rossi. Parêntesis para dizer isto, Anna é de Roma e faz parte dos Nerazzurri Boys, um clube de fãs do Inter na capital. As palavras voam. Em forma de insulto, claro. Bastardo é o mais simpático.
Bearzot enche o saco e reage em passo de corrida, como se tivesse voltado ao tempo de jogador da bola. Mal apanha a miúda a jeito, pááááááás, aplica-lhe um valente estalo na cara. A cena é vista por jornalistas e adeptos. Há um esgar de espanto, uma nota de reprovação natural. Enzo pediria desculpa mais tarde pelo sucedido. Anna idem idem. E até vai mais longe. ‘Somos amigos, e o seleccionador explicou-me que o Beccalossi é muito bom no Inter mas não se conseguiria adaptar à selecção’.
A melhor disto tudo? Anna casa-se daí a uns anos e Bearzot é um dos convidados.
Bom, adiante. A Itália ganha o Mundial-82 com categoria, já que vence Argentina, Brasil e RFA nos últimos quatro jogos. Se fizermos zoom aos últimos 270 minutos, Rossi marca seis golos: hat-trick vs. Brasil, bis vs. Polónia e um vs. RFA, na final em Madrid.
Começa a época 1982-83 e Beccalossi continua a dar cartas no Inter. Ou não. No dia 15 Setembro 1982, por ocasião de um jogo da Taça das Taças vs. Slovan Bratislava, no Giuseppe Meazza, em Milão, o Inter ganha 2:0 apesar de Beccalossi. Então? Veja bem isto, 9 Altobelli 10 Beccalossi 11 Juary.
O Inter ataca, ataca e ataca. Em vão, 0:0 ao intervalo. Na segunda parte, o árbitro português Graça Oliva vê dois penáltis para o Inter, um sobre o próprio Beccalossi e outro é mão na bola. Beccalossi avança para o primeiro e atira ao lado. Poucos minutos depois, Beccalossi avança, atira para o mesmo lado, o guarda-redes defende para a frente e, depois, encaixa a recarga do mesmo Beccalossi. É história com agá, dois penáltis europeus falhados em casa.