Covilhã-Chaves, um must
Um domingo qualquer (por acaso, é o do 3 Novembro 1985). O telefone lá de casa toca bem cedo e interrompe o meu jogo de subbuteo, ò caraças. O jornalista marcado para o Covilhã-Chaves falha o serviço e é preciso fazer o jogo. O meu pai aceita. Eu também, é o dois-em-um perfeito: além de viajar por entre bosques e serras nunca antes ultrapassados ainda faltaria às aulas no dia seguinte. Olé. A aventura automobilística é ziguezagueante (existe a palavra? então toma la lá ò larousse), cheia de chuva e granizo. Como vamos atrasadíssimos para o jogo, só paramos para comprar sandes e bolachas. Azar dos azares, senti-me mal a meio da viagem e chamo o juca. Que é como quem diz, jeroooooonimooooooo. Mesmo em cima dos jeans do meu pai. Mais uma paragem nas boxes, esta inesperada, para secar as calças (e, vá, recompôr-me). Quando chegamos ao José dos Santos Pinto, está 0-0 ao intervalo e só me lembro de ver caras fechadas, a olhar para a equipa da RTP com vontade de a trucidar, com alguns comentários irónicos à mistura estilo “isto são horas?”, “isso nunca aconteceria em Lisboa”, “gatunos”, ou “a vossa sorte é que não houve golos.” Quando o árbitro apita para o fim (2-1 para o Chaves), vejo um monte de pessoas a vir na nossa direcção. Caras nada amigáveis. Lá se vai o encanto da Serra. Ainda hoje me lembro de sermos encostados à parede e de ver o meu pai a colocar-se à minha frente, com a palma da mão esquerda virada para mim em jeito de protecção. Felizmente, nada acontece porque alguém (o presidente do Covilhã? o da Câmara Municipal? nem ideia) acalma os ânimos com um sonoro e, por sinal, intimidante: “No ‘sô’ Rui ninguém toca. Não estamos aqui para criar confusão com ninguém. Vá, tudo para casa. Vá!” Obrigado, mil obrigados seja lá quem tu fores. A caminho da estalagem ali perto, uma notícia na rádio agita-nos ali no meio da Serra: “última hora, a equipa da RTP foi escorraçada do estádio pelos adeptos e o jornalista Rui Tovar agredido”. Jerooonimoooo.
João Maranhão
Eheheh este episódio já saiu numa crónica Há uns anos num jornal qualquer Continuação destas histórias e quizzs sempre inquietantes e que muito servem para relembrar peripécias do tugão! Um bem haja a grandiosa enciclopédia Um abraço de alguém que um dia foi uma criança que queria ser um Gabriel Alves, ou um Tovar, ou um Pedro Azevedo.