Great Scott #22: Quem é o único português a correr pela Ferrari?
António Barreto Toquim
Esquecido por alguns e desconhecido para muitos, António Joaquim Borges Barreto, abreviado para Toquim, é o primeiro e único piloto português na Ferrari. Nascido em Évora, Toquim dá-se a conhecer nas pistas aos 23 anos, em 1954, numa altura em que a média de idade dos pilotos da Fórmula 1 (só para dar um exemplo) é de 42 anos. Ao volante de um Porsche 356, Toquim apresenta-se na VI Volta a Portugal, organizada pelo desaparecido Clube 100 à Hora. Para surpresa de muitos, o próprio incluido, sai-se vencedor de uma prova com nomes sonantes do automobilismo português. A sua humildade é sincera e, ao mesmo tempo, graciosa: “Sou estreante. Nunca entrei em provas, se bem que conduzo há bastante tempo. Sinceramente lhe digo: quis avaliar o prazer destas andanças. Não sabia nada disto e não queria deixar de experimentar as sensações que outros volantes têm tido. Agora não desisto mais.”
Para a frente é que Lisboa. Ou Porto. Ou Guimarães. Com Toquim ao volante, as surpresas nunca mais acabam. É 7.º no GP Portugal, no Circuito da Boavista, no Porto, 10.º no GP Lisboa, 2.º na Rampa da Penha (Guimarães) e 1.º num Quilómetro de Arranque. A experiência nestas provas dão-lhe a projecção necessária para outros voos e Toquim aventura-se na compra de uma Ferrari 2M (Spider Vignale), pertencente ao prestigiado piloto português D. Fernando de Mascarenhas. É essa compra, feita no final do ano de 1955, que lhe permite dar o salto.
Em 1956, o Ferrari e Toquim fundem-se num só. Ao 4.º lugar no GP Porto segue-se a primeira internacionalização, nas 10 horas de Messina. Acaba em 3.º e levanta a Taça dos Novos. Esse lugar no pódio confere-lhe maturidade ao volante e confirmam-se as negociações com a Ferrari. Em conversa informal com o jornal “O Volante”, Toquim anuncia um contrato profissional, já com testes marcados com a Ferrari, no dia 15 de Setembro, em Saint Étienne. “Vão correr todos os bons”, desvenda o eborense, feliz da vida.
É aí que o destino prega uma das partidas mais cruéis, com a morte de Toquim nas 6 horas de Forez, na estreia oficial pela Ferrari. O italiano Piero Carini perde o controlo do seu Ferrari Testarossa a mais de 200 km/h e vai bater na traseira do português. Os dois veículos projectam-se contra um muro e os pilotos morrem na hora. Portugal fica paralisado, Évora nem se fala. Toquim é já um símbolo naquela cidade. A sua urna é levada em ombros da igreja na praça do Giraldo até ao cemitério. Em cima dela, duas coroas de flores: uma enviada por Enzo Ferrari, como sinal de luto pelo recém-contratado piloto; outra da família de Piero Carini, o outro acidentado no fatídico dia.
Toquim pode nunca ter chegado à Fórmula 1, mas tem o seu nome no livro de pilotos da Ferrari, onde se lê: “Com coragem e paixão, faleceu com apenas 26 anos.”