Great Scott #44: Quem é o primeiro jogador da selecção nacional a marcar na jogada inicial?
Ben David, 1951
Em jeito de fim de época (17 Junho 1951), o Jamor recebe dois jogos no domingo à tarde: Belenenses-Flamengo às 15 horas e Portugal-Bélgica às 18. O cartaz é animado e começa bem com a magia do futebol brasileiro a dar que falar. Três-zero para o Flamengo frente a um Belenenses com dois reforços de luxo, um da Olhanense (Cabrita), outro do Elvas (Patalino).
No jogo mais a sério, Ben David marca na primeira jogada e desata a loucura. A bola sai de Portugal e há uma troca de passes entre Rogério e Travassos. O lateral belga Mermans intercepta a bola, só que Francisco Ferreira adivinha-lhe a intenção e, acto contínuo, lança Caiado pela esquerda. O boavisteiro desce até à linha de fundo e cruza atrasado para a entrada triunfante de Ben David. O remate de primeira do avançado-centro do Atlético bate irremediável e inapelavelmente Boogaerts.
Seria ele (Ben David) ainda o autor de dois golos na primeira parte, bem anulados pelo árbitro italiano, ambos por fora-de-jogo. Pelo meio, Bentes atira ao poste e é o canto do cisne para Portugal. A partir dos 60 minutos, a Bélgica assenhora-se do jogo e consegue o injusto empate, por Girard, num remate indefensável para Ernesto. Daí para a frente, só há mais três golos de Portugal na primeira jogada.
José Torres vs Roménia em 1966, nas Antas. É o quinto e último ensaio para o Mundial-66 é o menos concorrido de todos (25 mil espectadores) pelo horário excessivamente tardio para um domingo, às 21 horas. Disso se ressente a selecção. Ou, pelo menos, assim transparece pelo magro 1-0 com uma exibição a condizer. A dez dias da estreia no Mundial, o seleccionador Otto Glória opta por fazer descansar alguns titulares, como Hilário, Jaime Graça e Simões. Ninguém nota. Aliás, ainda há pessoas de pé na altura em que José Torres sobe ao primeiro andar e cabeceia para o golo solitário, aos 40 segundos. Tão cedo? O pontapé de saída é dado por Portugal, o romeno Nunweiller faz falta sobre José Augusto e o livre é marcado imediatamente pelo extremo. O árbitro suíço Buchelli faz um reparo. “Adoro a vossa selecção e o vosso país, mas vocês têm de soltar a bola mais rápido no ataque se querem ter sucesso no Mundial.”
Figo vs Andorra em 2001, nos Barreiros. A noite de Figo. Antes do jogo, o número 7 da selecção recebe uma taça de cristal em nome da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e uma salva de prata do Governo Regional da Madeira, entregue por Alberto João Jardim, numa justa homenagem pela sua divulgação do futebol português além-fronteiras. Depois, o “baile”. Um golo logo aos 20 segundos, após abertura sensacional de Rui Costa, aquece o ambiente numa vitória fácil sobre a selecção amadora de Andorra, a qual joga com dois ex-madeirenses (Justo Ruiz, do União da Madeira, e Juli Sánchez, do Camacha). É de Pauleta o 2-0, com um cabeceamento desde a marca de penálti, e é Figo quem fixa o resultado numa bela combinação com Nuno Gomes. A fragilidade do adversário retira interesse ao jogo e Oliveira não gosta da exibição: “Se calhar nem sempre fomos inteligentes a jogar contra 11 defesas.”
Pauleta vs Cabo Verde em 2006, no Complexo Desportivo do Lusitano de Évora. Faltam menos de duas semanas para o arranque no Mundial-2006, na Alemanha, e Portugal despede-se do seu público com cinco golos, quatro na baliza certa e outro na de Ricardo, por Meira. A bola está no meio, o árbitro holandês Dick Van Egmond apita e sai Portugal. A jogar para o lado e para trás. De repente, Ricardo Carvalho faz um passe longo. Pauleta isola-se e engana Ernesto, aos 55 segundos. O avançado marcaria por mais duas vezes, na sequência de um canto de Figo e de livre directo. O golo em falta é de Petit. Fim da história. Bem haja o Ben David, essa é que é essa.