Great Scott #77: Único guarda-redes a defender penáltis no desempate em três Euros?
Buffon
É complicado, diríamos até quase impossível, encontrar uma família tão desportivamente eclética como a do italiano Buffon. O avô é Lorenzo, pentacampeão nacional (quatro pelo Milan, um pelo Inter) e internacional com presença categórica no Mundial-62, como capitão. O pai Adriano é halterofilista, a mãe Maria Stella especializa-se em lançamento do disco, o tio Dante Masocco joga basquetebol ao mais alto nível em Itália e as duas irmãs Veronica e Guendalina chegam à selecção de voleibol.
Gianluigi nasce em Janeiro 1978 e é daqueles nomes eternos graças à sua elegância. Primeiro como médio, depois como guarda-redes. É verdade, Buffon entra na escola de formação do Parma como jogador de campo e só se deixa seduzir pela baliza durante o Mundial-90, em Itália. A sua referência é o camaronês N’Kono – Thomas é o seu primeiro nome e é-o também o do filho primogénito de Buffon. Com os ensinamentos dos conceituados treinadores de guarda-redes Fulgoni e Vecchi, o Parma ganha um alicerce na baliza a partir do momento em que se lesiona o titularíssimo Bucci, em Novembro 1995.
Na dúvida entre o veterano Nista (30 anos) ou o jovem Buffon (17), Nevio Scala escolhe você-sabe-muito-bem-quem. A estreia oficial é com o Milan de Weah, Simone e Baggio. Acaba 0-0 e Buffon é eleito unanimemente o melhor em campo pela imprensa. É um reportório de defesas milagrosas. No final, o próprio Capello está de boca aberta. “Em condições normais, saíamos daqui com dois ou três-zero.” Os companheiros de equipa também o elogiam. Como Fernando Couto, titular nessa tarde mágica. “No primeiro treino de conjunto, ninguém conseguiu marcar ao Buffon. Hoje, limitou-se a repetir o feito.”
Aos 17 anos e 9 meses, nasce uma estrela. Dois anos depois, mais uma jogada do destino: Pagliuca lesiona-se a meio do jogo de qualificação para o Mundial-98 com a Rússia, em Moscovo, e o seleccionador Maldini estreia Buffon – eleito o melhor em campo, debaixo de um temporal de neve. A sua aventura em Mundiais inicia-se precisamente em 1998, como suplente de Pagliuca.
Ausente do Euro-2000, só volta aos grandes palcos em 2002, no primeiro Mundial na Ásia. Faz toda a campanha da Itália, ingloriamente eliminada pelo golo de ouro nos oitavos-de-final pela anfitriã Coreia do Sul, num jogo tristemente célebre pela arbitragem do equatoriano Byron Moreno. Antes sequer do 1-0, da autoria de Vieri (a reviravolta está a cargo de Seol e Ahn), há um penálti de Ahn defendido por Buffon.
Quatro anos depois (Alemanha-2006), a consagração em definitivo com o título de campeão mundial. Em sete jogos, Buffon só sofre dois golos. E que dois: autogolo de Zaccardo vs EUA e penálti de Zidane na final. Ao todo, cinco jogos completos sem sofrer golos, como Barthez em 1998 e Casillas em 2010. Um craque em toda a linha, claramente insubstituível. Tanto assim é que se lesiona na primeira parte do jogo de abertura do Mundial-2010, com o Paraguai, e a Itália nem sequer passa a fase de grupos, num grupo acessível com Eslováquia e Nova Zelândia.
A situação repete-se no Brasil-2014, o quinto da gloriosa carreira de Buffon. Que assim iguala os inimitáveis Antonio Carbajal (México) e Lothar Matthäus (Alemanha). Como se isso fosse pouco, Buffon estreia-se como capitão num Mundial, vs Costa Rica, a exemplo do avô Lorenzo. O plano maior é a presença no Rússia-2018. Só que a Suécia surpreende tudo e todos no play-off e a Itália falha o primeiro Mundial desde 1958. Em lágrimas, ainda no relvado, Buffon sai de cena sem o inédito sexto Mundial. “Falhámos algo importante, até a nível social.”
Calma, Gigi. No Euro, a sua conduta é irrepreensível. Zero tituli e um recorde inigualável, o de penáltis defendidos em três fases finais. Em 2008, defende a bola de Güiza (Espanha). Em 2012, a de Ashley Cole (Inglaterra). Em 2016, a de Müller (Alemanha).