Rui Correia. “O Barroso via fantasmas em tudo”
Supostamente, o Quem Te Viu e Quem TV é uma troca de passes para a frente, com naturalidade e ambição. Com Rui Correia, há uma salganhada monstra. Culpa de um onze totalmente impossível. É esperar para ver.
Rui, bom dia, tudo bem?
Rui, bom dia, tudo bem. E tu?
Tudo em forma. Vou enviar-te a imagem e depois diz-me.
Envia na boa.
(…)
Isto é Alvalade. A pala e tudo.
Boa, boa, também me parecia. Jogaste lá.
Juniores e seniores.
E?
Suplente do Damas. Ainda fiz uns 15 jogos, mas depois fui emprestado ao Vitória por três épocas
E?
Vivi à sombra do Meszaros e depois Jorge Martins. Fui quase sempre segunda opção.
Que galo.
Só fiz um jogo do campeonato em três épocas. Foi em Penafiel, perdemos 2:1. O mister José Romão deve ter ficado satisfeito com a minha exibição e levou-me para o Chaves. Aí joguei muito. E bem. Às tantas, já tinha clubes nacionais e internacionais atrás de mim.
Como por exemplo?
Vitória SC, Rayo Vallecano, Bordéus.
E assinaste por qual?
Braga. O presidente era o João Gomes Oliveira, o treinador Vítor Manuel. Na baliza, havia José Nuno Amaro, um rapaz que tinha jogado no Gil, e o Quim.
Pronto, chegámos aqui: Rui Correia, 1.
Cheguei para ser titular e assim foi, da primeira à quinta e última época.
Chico Silva, 2.
Um lateral ofensivo de Viana do Castelo. Já levava alguns anos de Braga e fazia concorrência ao Zé Nuno Azevedo. Até acho que o Zé era mais vezes titular.
Sérgio, 3
Central, mais conhecido pelo Monas. Muito picuinhas, dizia sempre ‘não sei se vou jogar, não sei se vou jogar’. Inseguro, por natureza. Fora do relvado, quero dizer. Lá dentro, excelente jogador.
Artur Jorge, 4.
Um miúdo ainda, central de marcação com critério e categoria.
Jorge Ferreira, 5.
Um grande amigo, amigo mesmo de casa, até porque tínhamos sido colegas em Setúbal. Criámos laços familiares muito próximos. Um jogador especial, feito internacional português e com quem tive o prazer de jogar. Actualmente está em Angola, fora do futebol.
Jaime Pacheco, 6
Um mítico. Chamávamos-lhe velhinho e carequinha. Um grande professor para os mais novos. Sempre foi o exemplo do treino, do jogo e do encarar o jogo. Divertidíssimo, sempre a moer-nos a cabeça com piadas a torto e a direito.
Fernando Pires, 7
O nosso capitão. De origem brasileira, era muito bom em termos técnicos e não muito agressivo. Gostava muito do seu espaço, não era de fazer alarido ou participar por aí além nas brincadeiras.
Eugénio, 8.
Baixinho, com carreira feita no Farense. Era conhecido como o meia-leca, uma pessoa extremamente divertida e simpática. Dentro do campo, um guerreiro. Com uma qualidade extra: jogava como treinava
King, 9.
Nove, o King? Estranho, muito estranho. Até porque já são centrais a mais. Só se o King jogasse a lateral-esquerdo.
Ai é?
Não pode, mesmo assim não pode. Estava a pensar alto.
Diz aquí, King.
Mas não pode, ò Rui.
Vou investigar.
Também vou.
Começamos por onde?
Perguntas bem.
(…)
Jaime Pacheco é o ponto de referência, ele só jogou uma época no Braga.
Muito bem, 1993-94.
Isso mesmo.
E só fez 17 jogos, o cerco aperta-se.
Ahahahah. E isto é Alvalade.
Dois jogos, um para a 1.ª divisão e outro para a Taça.
Para a Taça, estou a ver aqui, jogou o Zé Nuno Azevedo.
Pois é, verdade.
E para o campeonato, há o Forbs.
É a único elemento novo, de facto
Ahahahah. Que coisa.
Nem me digas nada, que raio de ficha é esta?
Ahahahahah. Tem de ser o Forbs. Aposto tudo no Forbs.
Lembras-te deste jogo?
Lembro-me do da Taça, por causa do golo do Figo. Deste aqui, com golos de Balakov e Juskowiak, nem ideia.
Pois, seja o Forbs, vá.
Ahahahahah. Chegou ao Sporting via-Peniche e depois foi para o Portimonense, precisamente na altura em que subi a senior ao Sporting. Quando voltou ao Sporting, para mais uma época, já eu estava em Setúbal.
Adiante, senão.
Ahahahahaha
Toni, 10.
Emprestado pelo Porto. Miúdo muito calado, que estava a começar. Passava muito despercebido.
Barroso, 11.
Barroselas, o pé canhão.
O King também dava coices, certo? Diz o Preud’Homme.
O Barroso era muito mais potente. Só que via fantasmas em tudo, era muito picuinhas. Como atleta, treinava sempre empenhado. Em jogo, extremamente dedicado. Cá fora, sempre humilde, sem entrar muito em brincadeiras.
Oliveira, treinador.
Nem acaba essa época, mas é ele quem acaba por me levar para o FC Porto. E, como seleccionador, convoca-me para o Euro-96.
Curioso.
Houve uma simbiose interessante. Quando era júnior do Sporting, com 15/16 anos, já o Oliveira era uma figura consagrada. E a verdade é que aprendi a vê-lo jogar, juntamente com Jordão, Manuel Fernandes, Lito. Reencontrei-o em Braga e depois foi isso que te contei sobre Porto e Euro-96.
Que tal o Euro-96?
Muito bom em todos os contextos, tanto o desportivo como o social, além da camaradagem.
Dividiste quarto com quem em Inglaterra?
Cadete.
Okay.
Crescemos juntos no Sporting, dos 15 até aos 20 anos. E depois ele também foi para Setúbal na mesma altura que eu. Na altura do Euro-96, a distribuição de quarto tinha a ver com as nossas escolhas. Nós é que optávamos por escolher aquela pessoa que nos dava mais confiança.
Muito bem, obrigado Rui.
De nada, Rui, abraço.