Great Scott #91: Qual é o campeão italiano na única época com sorteio aleatório dos árbitros?
Verona
William Shakespeare tem um pormenor do arco da velha: morre no dia do seu aniversário (23 de Abril). Pelo meio, vive 51 anos e escreve obras e mais obras. Uma das mais conhecidas (e lidas) é o “Romeu e Julieta”, uma trágica história de amor em Itália, mais precisamente em Verona. Quem por lá se passeia, sabe muito bem do que fala. A varanda é um dos pontos turísticos da elegante cidade, conhecida como “piccola Roma”. Faça chuva ou faça sol, há quem pare no meio da rua e fique horas a enquadrar a máquina para tirar a melhor fotografia de sempre.
Em 1985, todo esse lirismo é esquecido por breves (e doces) momentos. Tudo porque a história trágica de amor vira uma alegria sem fim com o scudetto do Verona. Inédito, ainda por cima. “É como o Olhanense ser campeão em Portugal”, desabafa Giuseppe Galderisi em entrevista ao jornal i, em Abril 2014. Na altura, o italiano trabalha em Olhão. Daí o paralelismo, daquele que é o melhor marcador desse Verona, com 11 golos, cinco deles a desbloquear o 0-0.
Sexto classificado na época anterior, o Verona desfaz-se dos dois estrangeiros permitidos por lei (o polaco Zmuda e o escocês Jordan) e contrata uma nova dupla, alicerçada na força de Hans-Peter Briegel e na rapidez de Elkjaer Larsen. Juntos, assinam 17 golos. Nove para o alemão e oito para o dinamarquês – um deles é descalço. Isso mesmo, a 14 Outubro 1984, o Verona segura o primeiro lugar com um inequívoco 2-0 à Juventus. O um-zero é de Galderisi, o dois-zero de Larsen. No momento da sua arrancada – ele que é conhecido como cavallo pazzo (cavalo louco) –, o defesa Gentile vai com tudo e acerta-lhe no calcanhar do pé direito. Por capricho, a bota salta-lhe e o árbitro nem ai nem ui. Simplesmente, não vê.
Descalço, Elkjaer arranca para a baliza de Tacconi e, à saída deste, faz o que lhe compete. Com categoria. A partir daí, o Verona mantém o 1.º lugar até ao dia da consagração, a 12 Maio. Na penúltima jornada, em Bérgamo, o 1-1 de Larsen vs Atalanta sentencia a liga a favor do Verona. “Na pré-temporada”, diz Galderisi, “falámos em evitar a despromoção. Os estrangeiros que chegaram eram o Briegel e o Elkjaer, era uma boa equipa mas ninguém pensava que podíamos ganhar. Estivemos sempre em 1.º até ao fim do campeonato. Foi um milagre. E porquê? A Juventus tinha Platini e Boniek, o Nápoles Maradona e Bertoni, a Roma Falcão e Cerezo, a Fiorentina Sócrates e Passarella, todos tinham dois jogadores importantes. Éramos 17 jogadores, não 30. Vencemos o campeonato com 17 jogadores.”
Nessa gloriosa campanha, o Verona ganha 15 jogos, empata 13 e perde tão-só dois (2-1 em Avellino e 2-1 em casa com o Torino, curiosamente o segundo classificado, a cinco pontos). O treinador é um tal Osvaldo Bagnoli, campeão da 2.ª em 1982 com um ponto de avanço sobre Pisa e Sampdoria. Sem nomeação de árbitros e sorteio puro, a classificação top 6 é curiosa (no mínimo): Verona, Torino, Inter, Sampdoria, Milan e Juventus.