2013, Irão 2:1 Tailândia
Terça-feira, 23 de Julho de 1392. O calendário islâmico não dá tréguas, é um dia atrás do outro. O Aeroporto Imã Khomeini está a uma hora de carro do centro de Teerão e entramos pela parte sul da capital, depois de passar pela portagem com via verde. Nessa viagem salta à vista a quantidade de Renaults e Peugeots com a tinta esbatida pelo sol. Pelo meio, motos e mais motos que serpenteiam no trânsito com a mestria dos grandes condutores, alguns só com uma mão porque a outra está ocupada com o telemóvel, outros com dois acompanhantes e a esmagadora maioria sem capacete.
A ideia é chegar ao Estádio Azadi (Estádio Liberdade) para o Irão-Tailândia. O complexo do estádio é gigantesco: só visto, contado nem se acredita. Há infra-estruturas para tudo e mais alguma coisa. Futebol de praia? Há campos e a sede da federação é ali ao lado. Remo? Há um lago artificial enorme e a federação é ali ao lado. Basebol? Há campos à vista e a federação é ali ao lado. Em construção, um estádio para futebol feminino com capacidade para 40 mil pessoas. E ao lado, adivinhe. Isso mesmo, a federação.
O estádio de futebol para homens está meio despido, salvo seja. Dos 100 mil lugares, só 20 mil estão ocupados, os da bancada central. É um jogo de qualificação para a Taça da Ásia 2015, desinteressante, portanto. Sem jogar por aí além, o Irão vence 2-1. Mas o que é que isso interessa àquele pessoal? A bancada central está dividida em três. No meio, os VIP. Nas extremidades, os outros: de um lado, os adeptos do Persépolis; do outro, os do Esteghlal (não há espaço para um terceiro clube nesta cidade de 14 milhões). E lá começam eles a chamar pelos
seus ídolos. Os do Persépolis entoam o nome de Ali Daei, seu treinador além de melhor marcador internacional de todos os tempos (109 golos); respondem os do Esteghlal com Majidi, o actual capitão de equipa. E isto dura uma parte inteira.
Ao intervalo, alto e pára o baile. Porquê? Os não convocados levantam-se para desentorpecer as pernas. Um deles é Sardar Azmoun, um miúdo de 18 anos recém-transferido para o Rubin Kazan, da Rússia. Os adeptos de Persépolis e Esteghlal unem-se então nos pedidos histericamente desmedidos para tirar fotografias. Azmoun sabe que não vai dar conta do recado e só se ri ou acena. Quando começa a segunda parte, agarra-se ao telefone para tentar despistar os interessados, que insistem em chamá-lo a plenos pulmões, mesmo com os polícias a pedir silêncio.