Great Scott #114: Quem é o jogador da Lazio assassinado nas ruas de Roma?
Re Cecconi
Campeã italiana pela primeira vez em 1974, a Lazio sofre com a morte do treinador Tommaso Maestrelli, vítima de cancro no estômago. Ainda a Lazio está a recuperar desse choque quando uma outra tragédia bate à sua porta, agora relacionada com o internacional italiano Luciano Re Cecconi, alcunhado de anjo louro.
Em Outubro 1976, é substituído a meio de um jogo no Olímpico e sai a mancar, com um problema no joelho, só resolvido em Janeiro, graças ao trabalho individual na época das festas entre o Natal e o Ano Novo. No dia 18 Janeiro 1977, Luciano acaba o treino abraçado a Ziac, o médico da Lazio, e segreda-lhe ao ouvido. “Vamos surpreendê-los a todos. Em Cesena, vão ficar de boca aberta”, numa alusão ao jogo seguinte. Mais tarde nesse dia, Re Cecconi é notícia no último telejornal da RAI, cadeia televisiva italiana. Por motivos inimagináveis. É morto numa joalharia, da forma mais absurda possível.
Como assim? Na companhia do colega de equipa Pietro Ghedin, o anjo louro passa o final de tarde nos cafés de Roma e convida-o para jantar. Antes, e para fazer tempo, os dois encontram-se com George Fraticcioli, amigo de ambos e proprietário de uma perfumaria. Os três passam então na loja de um cliente de Fraticcioli, perto da hora do fecho, às 1930, na tranquila Via Nitti. À porta, Re Cecconi dispara em voz alta, com a mão esquerda no bolso do casaco, a fingir que é uma pistola. “Tudo quieto! Isto é um assalto.”
Na hora errada, no sítio errado e com o homem errado. O joalheiro Bruno Tabocchini não gosta de futebol e havia sido assaltado duas vezes nos últimos tempos. Ao deparar-se com a silhueta de um desconhecido, confunde-o com um assaltante, saca da arma Walther 7.65 e atira ao coração de Re Cecconi, que cai e murmura: “Foi uma brincadeira, foi só uma brincadeira.”
Uma hora depois, ainda antes de chegar ao hospital, Luciano é dado como morto. Nessa altura, Ghedin continua em estado de choque e nem consegue dizer coisa com coisa. Só durante a madrugada é que os factos se explicam à polícia. O funeral do médio de 28 anos é na basílica romana de São Pedro, com milhares de pessoas. Tabocchini é preso e acusado de “excesso culposo de legítima defesa” – seria absolvido 18 dias depois, por “legítima defesa putativa”.
Stefano, o filho de Re Cecconi, já escreveu um livro sobre o pai e ainda não aceita nem acredita que o pai tenha brincado daquela maneira com um estranho. “Ele era introvertido”, justifica. Dentro do campo, Re era o rei.