Sporting. O último título em ano ímpar é de 1953
Partida, largada, fugida. É hoje o arranque da 1.ª divisão com 18 equipas, metade das quais separadas por 60 quilómetros. Mais abaixo, o representante do interior (Tondela) mais os três de sempre da capital e as duas do Algarve. Separados do continente, três ilustres vozes honram o sentimento ilhéu: Marítimo e Nacional no Funchal e o Santa Clara em São Miguel. Certezas sobre 2020-21? Zero.
Quer dizer, há uma: dê por onde der, o campeonato acabará para o ano. Em 2021. Ano ímpar, portanto. Um-dó-li-tá, um-dó-li-tá, cara de amendoá, um segredo colorido, quem está livre, livre está. É assim a vida dos anos ímpares, vão e vêm. A parte do “quem está livre, livre está” é do Sporting. Em matéria de títulos de campeão em anos ímpares, queremos dizer. Se recuarmos no tempo, é fácil percebermos a alergia aos anos terminados em um, três, cinco, sete e nove. Vamos lá fazer essa viagem: 2002, 2000, 1982, 1980, 1974, 1970, 1966, 1962, 1958, 1954, 1953.
Mil-nove-e-cinquenta-e-três. Eis o ano da última conquista sportinguista. Há mais de meio século. É impressionante. Nessa época, o pódio é totalmente lisboeta: Sporting, Benfica e Belenenses. O Porto é quarto classificado. É o ano em que o Sporting festeja o tri com alguma naturalidade e ultrapassa, pela primeira vez, o Benfica em títulos de campeão (8-7). É ainda a gloriosa epopeia dos Cinco Violinos, embora Peyroteo já não mora ali.
Tal como Jesus Correia, cujo ultimato lançado pela direcção obriga-o a escolher o hóquei patinado em detrimento do futebol. A decisão é anunciada pelo próprio, com pompa e circunstância, a 10 Outubro 1952. “Tenho 28 anos. Mercê de uma vida muito recatada, foi-me possível até esta idade jogar futebol e hóquei sem quebra de forças. Os anos, porém, contam: 14 ao serviço do hóquei, oito no futebol. Quase todos os dias, às primeiras horas da manhã, treino de futebol. Depois o emprego, que nunca quis nem quero deixar. À noite, hóquei, jogo ou treino. Tive de olhar pelo meu futuro e descanso mais no hóquei.”
Sem Peyroteo nem Jesus Correia, o Sporting do mestre inglês Randolph Galloway ainda reúne Vasques, Travassos e Albano como dignos representantes do maior quinteto nacional da história. Vai daí, é naturalmente mais forte. Líder desde a 10ª jornada, acumula uma série de 11 vitórias seguidas, interrompida pelo bis de Faia, no Barreiro (2:1), numa altura em que a distância pontual em relação aos grandes é segura. Na penúltima jornada, um golo de Martins, aos sete minutos, garante a vitória magra sobre o Vitória FC (1:0) e, consequentemente, o título de campeão.
Em segundo lugar, a longínquos quatro pontos, o Benfica de… De quem? Tantos. Ao todo, três. Começa Cândido Tavares, prossegue Alberto Zozaya, conclui Ribeiro dos Reis. Assim, não. E o Benfica contenta-se com a conquista da Taça de Portugal, com um vistoso 5:0 vs FC Porto, na despedida do árbitro Evaristo dos Santos. O avançado Rogério Pipi abre o marcador, aponta o seu 15.º golo em finais da competição (um recorde ainda em vigor) e recebe um relógio de ouro do jornal “Mundo Desportivo”, de imediato oferecido a favor do futuro Estádio da Luz. Sim senhor, a 14 Junho 1953, o então Estádio de Carnide começa a dar sinais de vida. Ao contrário do FC Porto.
Que Verão atípico para os lados das Antas. As novidades amontoam-se. Além do treinador argentino Lino Taioli, antigo seleccionador da Colômbia, entram quatro jogadores (Carlos Duarte e Perdigão, de Angola; Albasini, de Moçambique; e Pedroto, do Belenenses). Se estes quatro ainda duram por lá, já o treinador é despedido após duas derrotas seguidas à 10.ª e 11.ª jornadas (vs Lusitano Évora e Atlético). Para o seu lugar, entra o português Cândido de Oliveira, que ganha cinco jogos seguidos mais quatro na recta final. De nada vale para superar o imperturbável Belenenses. Salva-se a equipa de juniores, campeã nacional pela primeira vez, sob o comando de Artur Baeta – na final, 2:0 ao Belenenses. Daí para cá, o Sporting nunca mais é campeão em anos ímpar. E a última vez em que é vice já data de 2009. Inacreditável, o registo.
1952-53 Sporting (Randolph Galloway, inglês)
1954-55 Benfica (Otto Glória, brasileiro)
1956-57 Benfica (Otto Glória, brasileiro)
1958-59 FC Porto (Bela Guttmann, húngaro)
1960-61 Benfica (Bela Guttmann, húngaro)
1962-63 Benfica (Fernando Riera, chileno)
1964-65 Benfica (Elek Schwartz, romeno)
1966-67 Benfica (Fernando Riera, chileno)
1968-69 Benfica (Otto Glória, brasileiro)
1970-71 Benfica (Jimmy Hagan, inglês)
1972-73 Benfica (Jimmy Hagan, inglês)
1974-75 Benfica (Milorad Pavic, jugoslavo)
1976-77 Benfica (John Mortimore, inglês)
1978-79 FC Porto (José Maria Pedroto, português)
1980-81 Benfica (Lajos Baroti, húngaro)
1982-83 Benfica (SG Eriksson, sueco)
1984-85 FC Porto (Artur Jorge, português)
1986-87 Benfica (John Mortimore, inglês)
1988-89 Benfica (Toni, português)
1990-91 Benfica (SG Eriksson, sueco)
1992-93 FC Porto (Carlos Alberto Silva, brasileiro)
1994-95 FC Porto (Bobby Robson, inglês)
1996-97 FC Porto (António Oliveira, português)
1998-99 FC Porto (Fernando Santos, português)
2000-01 Boavista (Jaime Pacheco, português)
2002-03 FC Porto (José Mourinho, português)
2004-05 Benfica (Giovanni Trapattoni, italiano)
2006-07 FC Porto (Jesualdo Ferreira, português)
2008-09 FC Porto (Jesualdo Ferreira, português)
2010-11 FC Porto (André Villas-Boas, português)
2012-13 FC Porto (Vítor Pereira, português)
2014-15 Benfica (Jorge Jesus, português)
2016-17 Benfica (Rui Vitória, português)
2018-19 Benfica (Bruno Lage, português)
2020-21 ? (?, ?)