Joan Gamper, o torneio do FCP
Agosto, dia 19. Estamos em 1987. Há dois estádios em completa histeria, Wembley e Camp Nou. Na casa do futebol inglês, é o segundo concerto de Madonna no Reino Unido. Na casa do ‘mais que um clube’, é a segunda final Porto vs Bayern do ano.
First things first. Madonna, claro. A rainha do pop corre 14 quilómetros no Hyde Park na parte da manhã e dança quase o dobro no palco de Wembley durante 120 minutos perante uma audiência de 75 mil pessoas, entre eles John Cleese, George Michael e Bob Geldof. O espectáculo é mesmo um espectáculo, contado nem se acredita.
(…)
Vamos contar, claro.
O som da música e o ruído da multidão atingem os 98 decibéis, daí que os dois mil moradores perto de Wembley tenham procurado o cancelamento do concerto. Em vão, Madonna entra pelas casas dentro sem cerimónia. Às tantas, o auge: Madonna tira a roupa interior vermelha. E porquê? Porque sim, ora essa. E porque o público começa a atirar-lhe roupa interior. Acto contínuo, Madonna tira a sua e experimenta a dos outros. ‘Parem de atirar roupa até porque não me serve’. No fim, mais uma achega para a loucura. ‘Alguém me empresta um pente?’ Beeeeeeem, chovem pentes no palco. Às centenas, aos milhares.
À mesma hora, em Camp Nou, joga-se o Torneio Joan Gamper. Agosto, dia 19. Como hoje. De um lado, o Porto. Do outro, o Bayern. É uma feliz coincidência, a reedição da final da Taça dos Campeões desse ano, em Viena, a 27 Maio. Coincidência, porque o Joan Gamper inclui quatro participantes. Na ½ final, o Porto derruba o anfitrião Barcelona por 2:1, golos de Madjer, Schuster e Jorge Plácido, enquanto o Bayern elimina o Ajax nos penáltis. Toda a gente com os olhos postos na final luso-alemã. O Porto repete as ausências dos capitães Lima Pereira mais Gomes, ainda lesionados, e acrescenta-lhe Futre, de malas quase aviadas para o Atlético Madrid. Já o Bayern de Heynckes recupera o capitão Augenthaler, o ausente mais notável da final europeia em Maio, por ter sido expulso no Santiago Bernabéu durante a 2.ª mão da ½ final, vs Real Madrid.
Posto isto, o Porto joga com Mlynarczyk; João Pinto, Eurico, Celso e Inácio; Semedo, André, Jaime Pacheco e Sousa; Jorge Plácido e Madjer. Ao intervalo, 0:0. No fim, 2:0. Semedo marca aos 49’, após passe de Sousa, e Madjer (com sinusite) fixa aos 89’ numa jogada de contra-ataque com a velocidade do recém-entrado Rui Barros. Ainda hoje é a única vitória de uma equipa portuguesa no Joan Gamper. Cortesia do Porto de Ivic – ah pois é o campeão Artur Jorge já trabalha em França e empata nesse dia 19 pela quinta vez em seis jornadas da 1.ª divisão (Metz 0:0), ao serviço do Matra Racing.
Muy bien, o Porto é a única equipa portuguesa a ganhar o Torneio Joan Gamper. Ainda por cima, com um golo português (Semedo). É caso único? Nem por isso, o primeiro a marcar é Jorge Mendonça, vestido à Barcelona. E até o faz em dose dupla, vs Flamengo em 1968, num inacreditável 5:4. Figo imita-o, só que em duas finais. Primeiro em 1998, vs Vasco da Gama. Depois em 1999, vs Sporting (penálti, com Nélson à baliza).
E resultados escanifobéticos? Há-os aos montes
1966 Anderlecht 7:0 Nantes
1968 Barcelona 5:4 Flamengo
1970 Barcelona 0:5 Dínamo Moscovo
1976 Eintracht 5:3 CSKA Moscovo
1978 Colónia 5:0 Rapid Viena
1981 Barcelona 0:4 Colónia
1984 Barcelona 9:1 Boca Juniors
1992 Barcelona 7:1 CSKA Sofia
1995 Barcelona 5:1 San Lorenzo
2007 Barcelona 5:0 Inter
2011 Barcelona 5:0 Nápoles
2013 Barcelona 8:0 Santos
2014 Barcelona 6:0 Club León
2017 Barcelona 5:0 Chapecoense