Lua cheia, futebol crescente

Kali Ma Mais 09/30/2020
Tovar FC

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Lua cheia, futebol crescente

O Titanic vai ao fundo a 14 Abril 1912 e só se chega a uma conclusão para a tragédia no século seguinte. Donald Olson e Russell Doescher, dois físicos da Universidade do Texas, publicam um estudo em que explicam um fenómeno raríssimo na base do acidente.

Ora bem, a Lua atinge no dia 4 Janeiro 1912 a aproximação máxima da Terra em 1400 anos, circunstância acrescida de um alinhamento com o Sol, um dia depois de a Terra estar no periélio, ou seja, à menor distância anual do Sol. Uauu, tudo isto junto resulta em forças gravitacionais invulgares, capazes de colocar um número elevado de icebergues na rota de quem passe por ali. O Titanic vai lá e é o que se sabe. A partir daí, todas as rotas marítimas se desviam para sul. A Lua é uma tentação. E um fenómeno sem paralelo. Se estiver cheia, então, é uma delícia ouvir as pessoas falar dela.

Dizem, por exemplo, que há mais nascimentos na lua cheia. Em 2002, Daniel Caton analisa mais de 70 milhões de registos de nascimentos ao longo dos últimos 20 anos e a conclusão é inequívoca: não há nenhuma relação entre a lua cheia e o número de partos.

Diz-se que há mais suicídios na lua cheia. Há estudos e estudos, um dos mais impressionantes o realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Finlândia: dos 1400 casos em 2000, a maioria dá-se na lua nova, quando a luminosidade é menor. O mesmo se aplica aos homicídios. A dupla Alex Pokorny e Joseph Jachimczyk, de Houston, analisa 2500 mortes no Texas de 1970 a 1984.

Diz-se também que o cabelo cresce mais na lua cheia. O estudo europeu de um grupo de dermatologistas (ofendidos por certo com o mito, e bem) anula categoricamente esse registo e a média de crescimento mensal do cabelo é de um centímetro, seja lua minguante ou cheia.

Diz-se… Só mais esta, vá lá. Que as colheitas são mais abundantes se as sementes forem plantadas nas fases certas da Lua. Nos EUA há até o “Almanaque do Agricultor” a oficializar o mito e a atirar o dia 21 Maio como ideal para fazer um tipo de operação nos campo. O grupo Australian Skeptics põe esse número à prova e não encontra uma diferença sequer no tempo de germinação ou no peso dos vegetais. E no futebol?

Como hoje é noite de quinta-feira europeia, há histórias de tudo e mais alguma coisa relacionadas com clubes portugueses na UEFA.

Hibernian 2:0 Vitória SC

14 Outubro 1970

É a primeira equipa portuguesa a jogar em dia de lua cheia, o Vitória. O treinador é o brasileiro Jorge Vieira e aplaude-se a estreia do compatriota Jorge Gonçalves, já com a documentação entregue à UEFA. O jogo é ingrato, o Hibernian marca dois golos nos descontos, um na primeira parte (Duncan), outro na segunda (Stanton). No mesmo dia, Portugal ganha 1:0 à Dinamarca em Copenhaga, golo de Jacinto João, para o apuramento do Euro-72. A figura é Damas, autor de mil e uma defesas a evitar o descalabro.

Vitória 2:0 Beerschot

12 Setembro 1973

O Vitória de Pedroto já mete respeito. Que o diga o segundo lugar da 1.ª divisão 1972-73, à frente de Sporting e Porto. Vem aí o Beerschot, uma equipa belga da classe média-baixa. Ninguém os conhece. Quando entram para o aquecimento, alto lá e pára o baile. Ao todo, 11 homens altos e fortes. Que, claro, jogam à base do físico e manietam o futebol artístico dos vitorianos. Só Matine e Octávio conseguem esgrimir argumentos à altura. Sorte a do Vitória, há um José Torres em grande forma. Mesmo com 35 anos. O avançado, número 9, faz os dois golos em nove minutos e sai aplaudido do Bonfim.

Porto 2:2 Schalke 04

8 Setembro 1976

Pedroto, again. Agora como treinador do Porto (e também da selecção nacional, já agora). O Estádio das Antas está interdito pela UEFA pelos problemas ocorridos na eliminatória da época passada vs Hamburgo. Só para se ter uma ideia, Oliveira apanha quatro jogos de suspensão, Tibi e Gabriel três, Dinis dois. Além da multa de 76 contos para a instituição FCP. Vai daí, é favor escolher um campo neutro. É o do Benfica, a Luz. Bonito, sim senhor. O público vai, o futebol nem por isso. O do Porto, pelo menos. O Schalke marca dois até ao intervalo, ambos por Fischer. Na segunda parte, Rodolfo e Cubillas chegam ao empate e o 3:2 é anulado pelo árbitro galês Gouw em cima do minuto 90’, por falta de Gomes sobre o guarda-redes Schubert na recarga a um livre de Cubillas.

Athletic Bilbao 2:1 Sporting

27 Novembro 1985

Conta Fernando Mendes. ‘Há um lance de bola perdida na área e eu cabeceio para canto, embora o Damas estivesse para agarrá-la. Estranhei, o Damas não berrou nem nada. Marca-se o canto e o Julio Salinas faz o 2:0 de cabeça. De repente, até vi estrelas. O Damas manda-me cá um murro. Bato com a cabeça no poste e fico todo abananado.’ O Sporting ainda reduz pelo suplente Meade, acaba 2:1 para o Athletic. Interessa reter o único 11 só de portugueses em dias de lua cheia, com Damas, Gabriel, Venâncio, Morato, Fernando Mendes, Oceano, Jaime Pacheco, Sousa, Mário Jorge, Manuel Fernandes e Jordão.

Deportivo 0:1 Porto

4 Maio 2004

É a segunda mão da ½ da Liga dos Campeões. Na primeira, 0:0 no Dragão naquela tarde em que Jorge Andrade é expulso por nada. O toque em Deco é inofensivo, aliás uma brincadeira. Nada feito, Merk puxa do vermelho. ‘Como levava as coisas sempre muito descontraídas, esse lance acabou por prejudicar os meus colegas e a minha relação com o Deco. Quando nos encontrámos no estágio da selecção, fui como que repreendido pelo Scolari a dizer que a culpa tinha sido inteiramente minha. Fiquei com tanta raiva a esse lance que deixei de falar com Deco e todos os envolvidos. E isso tudo durou dois anos.’ Sem Jorge Andrade, o Depor aposta em César. Coincidência das coincidências, é dele o penálti cometido sobre Deco (olha quem). Na marcação, Derlei atira forte e colocado, sem hipótese para Molina. O Porto está na final.

Feyenoord 1:2 Sporting

24 Fevereiro 2005

No banco, Gullit. O treinador holandês é um admirador incondicional do futebol português, já desde o Euro-96. Agora no Feyenoord convive com a experiência de ser eliminado com duas derrotas, tanto no José Alvalade como no De Kuip, onde uma multidão enfurecida teima em atirar objectos para o relvado. Aos 19’, um petardo cai perto de Ricardo e o jogo é interrompido por quatro minutos. Aos 61’, por ocasião do chapéu fantástico de Liedson no 0:1, Rui Jorge é atingido por outro objecto. O árbitro recolhe ao balneário, tal como as duas equipas. Durante 20 minutos, zero futebol. Nada sexy. Retoma-se então e Rochemback, cheio de fúria, faz o 2:0 de livre directo. Hofs desconta perto do fim e game over. E então? É a noite de estreia de Moutinho a titular como 6. Sozinho no meio-campo, a cortar e a mandar. A ser Moutinho, portanto. A ousadia é de José Peseiro, porque Moutinho só tem 19 anos e veste o número 28 de Ronaldo.

Sevilha 3:4 Braga

24 Agosto 2010

Procura-se um candidato digno para a fase de grupos da Liga dos Campeões. O Braga de Domingos ganha 1:0 em casa e vai a Sevilha para segurar a vantagem. Segurar, essa é boa. Ganhar, isso sim. E com três golos de um suplente. Lima entra para o lugar de Luis Aguiar e vira a eliminatória do avesso com um hat-trick em 32 minutos. Antes, Matheus já dera um sinal de superioridade. No Sevilha, só para que se saiba, jogam Kanouté e Luís Fabiano no ataque, Palop na baliza, Jesús Navas no meio. Esse Braga chega à final da Liga Europa 2011, perdida para o Porto.

Sporting 1:0 City

8 Março 2012

O City de Mancini reúne craques da cepa de Balotelli, Agüero, Dzeko, Yaya, David Silva, Nasri, Barry, Kompany, Richards e por aí fora. No primeiro mata-mata da Liga Europa, abalroa por completo o Porto, com 2:1 no Dragão e 4:0 no Ettihad. O sorteio coloca depois o City no caminho do Sporting. Voam especulações, prognósticos, innuendos. O Sporting ouve-os e dá a volta ao texto através do herói mais improvável e da forma mais inusitada: Xandão, de calcanhar. Tomem lá disto.

Benfica 0:0 Sevilha

14 Maio 2014

É a final da Liga Europa, em Turim. O Benfica elimina a Juventus na ½ final, precisamente em Turim (0:0), e repete a presença do ano anterior. O adversário é o Sevilha, já mais que habituado a portugueses nessa edição: Estoril na fase de grupos, Porto nos ¼. Uma final ibérica, olé. O Benfica joga sem Salvio, Enzo e Markovic, todos suspensos. O Sevilha apresenta Carriço no onze. O nulo é teimoso. Vamos para prolongamento. Mais teimoso ainda. É penáltis. O Benfica acumula uma má experiência. E acumula a segunda. Oblak mexe-se pouco no desempate, Beto atira-se de todas as maneiras e feitios. E defende os remates de Cardozo e Rodrigo. Se vive, se siente, Guttmann está presente. A maldição é tramada. A festa, essa, é sevilhana.

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