Great Scott #144: Quantos cartões vermelhos vê Giggs num total de 1031 jogos?
Um
Lembra-se da sua sala de aula? E dos alunos bem-comportados, sempre na primeira fila, de caderno sem rabiscos, caneta sem a tampa roída e escrita sem nada a apontar? Aqueles que ouvem o professor dizer que dois mais dois são quatro e esticam a mão para interromper a aula e perguntar/afirmar se isso significa que quatro é igual a dois mais dois? Lembram-se?
Em Inglaterra, esse aluno exemplar é Ryan Giggs. O único que marca golos em 23 edições seguidas da liga inglesa. O recordista do golo mais rápido de sempre do Manchester United na liga, com o Southampton, em Novembro 1995. O único que ganha dois troféus do melhor jovem da Premier League em anos seguidos, em 1992 e 1993. E o único jogador da Premier a aparecer num episódio dos Simpsons, em 2003, quando Homer, de férias em Londres com a família, esmurra três homens num passeio e desabafa para Marge: “Aquilo foi por causa de resultados de futebol. Acreditas que eles davam um cartão amarelo a Giggs naquela jogada?” É precisamente aí que queremos chegar. Nem é o cartão amarelo em concreto, porque Giggs vê 40 ao longo da carreira, é mesmo o vermelho.
Nesse capítulo, Giggs é um doutor. Porque só vê um, e ao serviço de Gales. Um, só? Quando? A 5 Setembro 2001, o extremo galês vê dois amarelos no jogo com a Noruega, em Oslo, na qualificação para o Mundial-2002, e é expulso pelo árbitro austríaco Fritz Struchlik. A notícia corre pelos quatro cantos do mundo. Há quem fique revoltado, como o seleccionador galês Mark Hughes, e quem aplauda a coragem do juiz, como um tal Ole-Gunnar Solksjaer, avançado norueguês e companheiro de Giggs no United.
As opiniões dividem-se sobre o segundo amarelo e consequente vermelho. Aos 67 minutos, o árbitro marca pontapé de baliza para a Noruega e Giggs pede um canto para Gales.- Piiimba, toma lá um amarelo. Aos 87’, Roar Strand sofre um tackle do galês. Uma jogada em que o infractor chega um tudo-nada atrasado à bola e ceifa o adversário. Segundo amarelo e rua. Ainda hoje, Hughes queixa-se do protagonismo do árbitro. “Toda a gente sabe que o Giggs não faz mal a ninguém e é um exemplo dentro do campo. O árbitro anotou isso, claro, e expulsou-o só para ficar conhecido mundialmente. Parabéns. Conseguiu o seu objectivo.”
Capitão de Gales aos 27 anos de idade, o esquerdino aparece no flash-interview com cara de poucos amigos e não fala por aí além. Entre uns sons imperceptíveis, lá solta o verbo. “Sim, foi o primeiro vermelho. E sim, o primeiro em qualquer escalão. Mas não quero falar disso.” Segue-se a versão de Solskjaer. “Era amarelo. Não podemos punir ou deixar de punir uma falta pela classe do jogador e sim pela infracção em si. Era amarelo. Tenho pena do Giggsy. Porque sim, porque ninguém gosta de ser expulso por dois amarelos de nada e porque vou com ele no avião para Manchester e tenho de confortá-lo.” Aí está o norueguês com a lição bem estudada. Ou não fosse ele um aluno exemplar.