Vasco Faísca. ‘Quando o Prince tocou em Alvalade, foi jogar basquetebol à nave e o Nuno Santos apanhou-o’

Mais You Talkin' To Me? 11/13/2020
Tovar FC

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Vasco Faísca. ‘Quando o Prince tocou em Alvalade, foi jogar basquetebol à nave e o Nuno Santos apanhou-o’

A propósito do Itália-Portugal no dia 17, entrevistámos o português com mais anos de Itália. Ao todo, 13 épocas e meia distribuídas por seis clubes

Prepare-se para a monotonia: derrota, derrota, derrota, derrota, empate, derrota, derrota, derrota, derrota, derrota, derrota, derrota. Hum? É o currículo dos jogos de Portugal em Itália: um empate, sete derrotas e 6-32 em golos. Ouchhhh, até dói.

Prepare-se para a monotonia: Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália, Itália e Itália. Hum? É o currículo de Vasco Faísca, o português mais italiano de sempre, com 13 épocas e meia divididas por seis clubes (Vicenza, Pádua, Ascoli, Matera, Maceratese e Virtus Francavilla). Nascido em Faro a 27 Agosto 1980, faz-se ao piso como jogador do Farense. Segue-se o Sporting, no segundo ano de juvenil, em 1996. É campeão europeu sub-18 em 1999, na Suécia. A conquista vale-lhe a promoção à equipa principal do Sporting na pré-época 1999-2000. Divide a época entre Alvalade e Lourinhã antes de se transferir para o Inter Milão, juntamente com Caneira e Paulo Costa.

Prepare-se para o regabofe. “Se é para falar de Itália, tem de ser num italiano para sentir o factor casa.” Seja feita a sua vontade. No Forno d’oro, onde a “vera pizza napoletana” dá cartas. Sentado ao fundo da sala, Vasco Faísca, adjunto de Vasco Matos no Vilafraquense (série C do CNS), saúda-nos e dá o pontapé de saída.

Queres pizza? Se sim, prova a diavola.

Siga a marinha.

Vim cá só uma vez e percebi logo que as pizzas são iguais às de Itália. É mesmo a vera pizza napoletana, a massa ligeiramente alta e tal. É do melhor. E basta olhar para o restaurante para se perceber isso.

Então?

Só se ouve italiano. La lengua del amore. Diz António Damásio, o neurocientista. De acordo, é mágico

Ahahah. Percebes de que zona são as pessoas aqui ao lado?

[um dois três segundos] Uyyyy, claramente do Sul. Ela agora falou de uma maneira bem sulista.

Alguma vez jogaste no Sul?

Joguei mesmo no tacão da bota. Foi o meu último clube, o Virtus Francavilla.

E antes?

Maceratese. Fizemos 3.º lugar e fomos ao play-off. Perdemos 3-1 com o Pisa, treinado pelo Gattuso. Eles acabaram por subir à 2ª.

Vou repetir-me, e antes?

Matera, perto do tacão da bota. É uma cidade bem bonita. E original. Daí o título de património da UNESCO.

Porquê?

Chamam-lhe Cittá dei Sassi. Sasso é pedra e o centro de Matera foi escavado na pedra. Vale a pena ir lá.

O que fizeram nessa época?

Fizemos 3.º lugar e fomos ao play-off.

E que tal?

Passámos o Pavia e fomos eliminados na meia-final pelo Como, nos penáltis: 1-1 lá, 1-1 cá. Marcámos sempre primeiro. Foi aí que apanhei um treinador formidável chamado Gaetano Auteri, dos seus 50-e-tal anos. Ele tem uma ideia de jogo bem definida, o 3-4-3 com pressão alta e nós jogávamos pim pam pum [Vasco lança as mãos para a esquerda e para a direita]. É conhecido como Special One da Floridia, de onde ele é.

É o melhor que apanhaste em Itália?

Sim, adorei jogar com ele.

E o melhor da carreira?

Carlos Pereira. Como treinador, pessoa e condutor de homens. Disse-lhe isso mesmo ao telefone, há umas semanas. O Carlos é excepcional: exigente, ponderado e divertido na hora agá. Sempre.

Apanhaste-o onde?

Sporting. Foi o meu primeiro treinador, em 1996-97. Qualificámo-nos para a fase final do campeonato nacional de juvenis, só que houve ali um erro administrativo que nos afastou. O Sporting assinou contrato com um miúdo de 15 anos e a lei diz que só pode ser a partir dos 16. Fomos eliminados na secretaria e jogámos dois torneios, um em França, outro em Espanha. Ganhámos os dois. O de Espanha tinha Atlético Madrid e Celta Vigo, duas equipas com história na formação. Nós estávamos todos de corpo e alma com o Carlos, ele era especial. Depois, apanhei-o como adjunto do Rui Palhares nos juniores. Respect.

Subiste aos seniores do Sporting?

Foi o ano do Materazzi. Ele falava e o Venâncio [adjunto] traduzia para quase toda a gente.

Quase?

O Ayew, que falava sei lá quantas línguas, traduzia para o Schmeichel.

Eischhhh, o Schmeichel.

Ah pois, sentava-me ao lado do Peter. Eu, Schmeichel e Nuno Santos.

Eischhhh, o Nuno Santos.

Um personagem. Jogou basquetebol com o Prince.

Hein?

Quando o Prince foi tocar a Alvalade, ele quis jogar basquetebol na nave para descontrair. O Nuno Santos apareceu e o resto é história.

E tu, basquetebol com alguém famoso?

Nada. O único que apanhei foi o Bono. Quando os U2 passaram por nós na nave, chamámos pelo Bono e estendeu-nos o polegar. À boss.

E mais histórias do Sporting?

Uma vez, o Leonel Pontes ia a sair e apanhei-o sem querer. O Leonel é impecável, gente mesmo boa. Perguntou-me se queria acompanhá-lo.

E tu?

Claro que sim. Fomos ao aeroporto. Sabes apanhar quem?

Nem ideia.

Cristiano Ronaldo.

Sério?

Verdade. Já era considerado um puto maravilha. E o Leonel era madeirense como o Ronaldo.

Jogaste na equipa A do Sporting?

Fui uma vez ao banco, com o Viking, para a Taça UEFA. É a estreia do Inácio.

E depois?

Lourinhanense, a minha segunda época.

Com quem?

Começou Ivkovic, depois Fernando Mendes, finalmente Damas.

E a primeira época?

Jean Paul. Lembro-me que marquei um golo em Peniche, com o pé direito. Tauuu [e bate a palma da mão com a outra mão a rir-se que nem um perdido]

E a transferência para o Inter?

Em 2000, depois da conquista do Euro sub-18 no ano anterior.

Jogaste lá alguma vez?

Nunca. Ainda me ligaram duas vezes a avisar que podia fazer a pré-época com a equipa principal, só que nada.

O que fazias então?

Fui emprestado ao Vicenza, então na Série A. Eu e o Kallon, um avançado esguio. Ele jogou, eu nem por isso.

Nunca?

Só uma vez, com o Milan. Estávamos a ganhar 2-0 e entrei aos 80 minutos, pouco depois do Bierhoff. No primeiro lance, elevo-me e antecipo-me ao Bierhoff. Está bom [Vasco junta as mãos como quem diz problema resolvido].

Espectáculo.

No final do jogo, levei a camisola do Maldini.

Deves ter imensas.

Assim de craques à séria, essa do Maldini, uma do Batistuta da Roma e outra do Baggio do Brescia. Autografada e tudo. Pedi ao Eddy Baggio, irmão dele que jogou comigo no Vicenza.

E mais do Vicenza?

O primeiro ano foi penoso, triste. Tinha 19 anos e estava sozinho. A única alegria, além dos 10 minutos em campo com o Milan, foi neve. Sou do Algarve, a neve é-me inconcebível. De repente, neve. Que alegria, até liguei aos meus pais.

E a tua segunda época?

O Vicenza desceu para a 2.ª e joguei a primeira volta. Saiu o treinador que apostava nos mais novos e fui. Só me estabelecei a titular em 2002-03. Aí até o Scolari veio ver-me.

Hein?

Ya, o Scolari tinha assumido a selecção e ia estrear-se com a Itália, em Génova. Recebi a visita dele e fui pré-convocado. No dia da convocatória, um canal de televisão, acho que foi a SIC, ligou-me a dizer que sabia da minha convocatória por antecipação, para estar pronto e tal porque iam ligar-me no instante seguinte ao fim da conferência de imprensa do Scolari. Pus-me todo bonito, meti-me à frente da televisão, com o telefone ao lado, e nada. Ahahahah. Não fui convocado.

Ouchhhh.

Siga. A vida continua.

Sempre Vicenza?

Ao fim do quarto ano, em 2004, voltei a Portugal. Primeiro Académica com Nelo Vingada, depois Belenenses: Carvalhal em 2005-06, Jesus 2006-07.

E?

Entre não jogar na 1.ª divisão portuguesa e jogar na 3.ª italiana, preferi ir para o Pádua.

Xiiiii, a equipa do Del Piero.

E também do Alexi Lalas. Os dois têm lá posteres gigantes.

Pádua, fixe?

Subimos à 2.ª divisão, via play-off.

Jogaste?

Era o capitão.

Grande nível.

Até fui capitão um jogo no Platanias [1.ª divisão grega 2013-14]. Ao meu lado, Vasco Fernandes. A dupla de centrais era algarvia, ahahahah. Eu de Faro, ele de Olhão.

E depois?

Saí para o Ascoli, onde apanhei o Zaza.

O italiano do penálti para a fila Z no Euro-2016?

Esse mesmo. Estava sempre a dizer-lhe que ele era melhor que o Balotelli e ele ria-se timidamente. Era introvertido mas já se sabia que ia dar que falar. E foi para a Juventus.

E jogou com Portugal, na Luz, há um mês. O que dizer deste Itália-Portugal?

A Itália está como nunca se viu. Acredito na sua recuperação, porque é mesmo um país do futebol, só que está a passar um momento mau. Portugal está forte e todos jogam bem, os titulares, os suplentes e os suplentes dos suplentes.

in Sábado, Nov 2018

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