#4 FC Porto 2008-09
Imagine a final masculina dos Jogos Olímpicos-2008 de ténis de mesa comentada na rádio: Ma Lin, Oh Sang Eun, Ma Lin, Oh Sang Eun, Ma Lin, Oh Sang Eun. É monótono, não é? Pois, a 1.ª divisão portuguesa está assim graças ao FC Porto. A equipa de Jesualdo Ferreira está de um lado da rede e, do outro, 15 concorrentes totalmente incapazes de vergar o serviço dos campeões desde 2006.
Pela segunda vez em 11 anos, um tetra do Porto. O primeiro data de 1998, com António Oliveira ao leme e um ataque demolidor nos serviços de Capucho, Zahovic e Drulovic para o goleador Jardel, com Artur no banco. Dez anos depois, a máquina carbura com a mesma dinâmica, agora mais sul-americano que nunca, com os argentinos Lucho González e Lisandro López, o uruguaio Cristian Rodríguez e o brasileiro Hulk. É a Torre de Babel, ou não fosse o Porto uma Nação.
Para aqueles que acreditam no slogan “o que é nacional é bom”, desenganem-se com este resultado. O Nacional vai ao Dragão, perde 1:0 e é parte activa da festa do Porto. Justa, aliás, face ao rendimento da equipa na segunda volta, com dois empates apenas, ambos em casa, com os outros grandes (Benfica 1:1, Sporting 0:0). De resto, dez vitórias, das quais oito seguidas com um imparável 21:2 em golos
Na primeira volta, aí sim, alguma irregularidade. O Verão é castrador. Saem titulares de rendimento elevado, como Bosingwa, Paulo Assunção e Quaresma. A perda da Supertaça portuguesa é o reflexo do desnorte. Ainda por cima, o então infalível Lucho falha um penálti (defesa de Rui Patrício). O arranque da 1.ª divisão é tudo menos promissor. Em nove pontos possíveis, só cinco. Na segunda jornada, 1:1 vs Benfica. Na terceira, 0:0 vs Rio Ave. Depois, duas derrotas seguidas (Leixões 3:2 no Dragão, Naval 1:0 na Figueira). Dessa tremideira se aproveita o Benfica de Quique Flores para assumir a liderança. Só até Dezembro. Depois só dá Porto, Porto e mais Porto.
A duas jornadas do fim, a festa do 24.º título de campeão, o 17.º desde a entrada de Pinto da Costa em Abril 1982. Daí para cá, os outros só ladram e vêem a caravana passar (Benfica 7, Sporting 2, Boavista 1). A grandeza do Porto sente-se. E também confirma o Porto de abrigo proporcionado por clube há anos e anos. Jesualdo Ferreira nada ganha até chegar ao FCP. Como António Oliveira, Fernando Santos e Co Adriaanse, por exemplo. A façanha de Jesualdo é inédita, como primeiro português (e único, até 2022) a sagrar-se tricampeão nacional.
O selo de qualidade é imenso: campeão com o melhor ataque e a defesa menos batida, sem sofrer golos há 521 minutos. Não há crise política no Porto e o bloco central está mais coeso que nunca. Há muitos partidos entre os tetracampeões, nenhum é melhor que Bruno Alves e Rolando, autores de 10 golos em 2008-09. A dupla conhece-se em Agosto 2008 e dá-se automaticamente bem, para descanso de Helton (16 jogos em 28 sem sofrer golos). Com Rolando e Bruno Alves, o Porto mantém a eficácia defensiva (16 golos sofridos, a duas jornadas do fim) e aumenta as opções de golos lá na frente com dois bons cabeceadores – um deles (Bruno Alves) é até marcador de livres directos, como se prova vs Sporting, em Alvalade, e Estrela, no Dragão.
A dinâmica defensiva é uma escola bem portista e começa precisamente no início da era Pinto da Costa, eleito presidente do clube a 23 Abril 1982, com a dupla Simões-Eurico, mais ou menos na mesma altura de um outro bloco central a governar o país, formado por PS e PSD. O auge desta aliança (a nível desportivo, claro) atinge-se em 1989-90, no reinado de Artur Jorge. Há Rui Águas (24 golos) mais Madjer (17) e ainda Demol (12) e Geraldão (5). Dos 90 golos dessa época, 17 pertencem a centrais. É obra.
Para trás, nomes como Lima Pereira, Celso, Festas e Eduardo Luís, este último mais polivalente que os outros e utilizado também a lateral-esquerdo. Daí para a frente, o Porto aposta mesmo na formação de centrais com vocação para o golo. Como Fernando Couto, Jorge Costa e Ricardo Carvalho, só para citar os jogadores mais internacionais por Portugal em representação do FCP. Tempos gloriosos esses em que se ganham campeonatos com uma defesa de ferro. Quem não se lembra das duplas Fernando Couto-Aloísio (16 golos em quatro épocas), Jorge Costa-José Carlos (29 em igual período de tempo) e Jorge Costa-Ricardo Carvalho (nove em três temporadas)? Pois, a verdade é que esses tempos continuam gloriosos, das Antas para o Dragão, e com a mesma estrutura defensiva e goleadora.
Daqui a uns anos, quem fizer um trabalho sobre este FC Porto do tetra, vai falar obrigatoriamente da pontaria dos centrais Bruno Alves e Rolando, responsáveis por quase 9% dos 93 golos da época. E volta a falar-se de bloco central (politicamente falando, é óbvio). Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades.
(a negrito, os jogos fora)
1. Belenenses | 2:0 | Mariano Hulk |
2. Benfica | 1:1 | Lucho (p) |
3. Rio Ave | 0:0 | |
4. Paços | 2:0 | Meireles Hulk |
5. Sporting | 2:1 | Lisandro BrAlves |
6. Leixões | 2:3 | Lucho (p) Lisandro |
7. Naval | 0:1 | |
8. Vitória SC 2:0 | Lisandro Farías | |
9. Estrela | 4:2 | Rodríguez (2) Lisandro Hulk |
10. Académica | 2:1 | Rodríguez Meireles |
11. Vitória FC | 3:0 | BrAlves Guarín Lucho |
12. Marítimo | 0:0 | |
13. Nacional | 4:2 | Hulk (2) Rodríguez Lucho (p) |
14. Trofense | 0:0 | |
15. Braga | 2:0 | Rodríguez Lisandro |
16. Belenenses | 3:1 | Hulk Rodríguez Lucho |
17. Benfica | 1:1 | Lucho (p) |
18. Rio Ave | 3:1 | Farías (2) Lucho (p) |
19. Paços | 2:0 | Hulk BrAlves (p) |
20. Sporting 0:0 | ||
21. Leixões | 4:1 | Lucho (p) Hulk Meireles Farías |
22. Naval | 2:0 | Mariano Lucho |
23. Vitória SC | 3:1 | Farías Mariano Rolando |
24. Estrela | 3:0 | Farías (2) BrAlves |
25. Académica | 3:0 | Rolando Lisandro (p) Mariano |
26. Vitória FC | 2:0 | Lisandro (2) |
27. Marítimo | 3:0 | Meireles Rolando TomásCosta |
28. Nacional | 1:0 | BrAlves |
29. Trofense | 4:1 | Farías (2) Lisandro (2) |
30. Braga | 1:1 | Farías |