Great Scott #182: Quem marca o primeiro hat-trick de sempre nas camadas jovens de Portugal?
Serafim
Há génios, em talento e feitio. Imparáveis. Como José Maria Pedroto. Futebolista de créditos firmados em Portugal, primeiro pelo Belenenses, onde chega à selecção, depois pelo FC Porto, onde ganha dois títulos de campeão e mais duas Taças de Portugal em oito épocas. Em 1961, Pedroto abandona o futebol aos 31 anos de idade e inscreve-se num curso de treinadores promovido pela federação francesa de futebol. No fim das aulas, é considerado o melhor estrangeiro. Com nota máxima.
Com o diploma na mão, Pedroto embarca na aventura de treinador. O seu primeiro trabalho é a selecção nacional de juniores, apurada para a fase final da 7.ª edição do Campeonato Europeu, a decorrer em Portugal. Inicialmente há 16 equipas envolvidas. Escrevemos inicialmente, porque três (Jugoslávia, RDA e Hungria) desistem de vir a Portugal. Daí que o torneio esteja coxo, com apenas 13 selecções, divididas em quatro grupos. O sorteio da UEFA dita Portugal no grupo A, com Itália, Inglaterra e Jugoslávia.
O treinador de campo chama-se José Maria Pedroto, chefiado pelo seleccionador David Sequerra, jornalista do “Mundo Desportivo”, um dos três jornais desportivos portugueses de então, juntamente com “A Bola” e “Record”, convoca 22 jogadores: Rui (FC Porto), Melo (Benfica), Viegas (Académica) como guarda-redes; Amândio (Benfica), Nogueira (Benfica), Valdemar (FC Porto) e Tito (Leões Santarém) como defesas; Faria (FC Porto), Calhau (Sanjoanense), Carriço (V. Setúbal), Moreira (Leixões), Manuel Rodrigues (Barreirense) e Oliveira Duarte (Sporting) como médios; Crispim, Rebelo, Nunes (todos da Académica), Jorge Lopes (Benfica), José António e Mira (ambos do Barreirense), Serafim (FC Porto), Peres (Belenenses) e Simões (Benfica).
Diz Simões. “O nosso estágio foi ali para os lados de Carcavelos, está a ver? Um dia, naquelas brincadeiras de adolescentes, trancaram-me na varanda. Além desse problema, havia outro: eu estava nu, completamente nu. E eles [companheiros de Simões], do lado do quarto, a gozarem com a minha figura. Então empurrei a janela e parti-a. Rasguei parcialmente três dedos da mão direita e joguei todo o Europeu com uma ligadura enorme, o que dificultava imenso as quedas no relvado, provocadas por faltas ou escorregadelas. A sorte é que quando se é jovem, a capacidade de reacção é maior e esquiva-se mais facilmente aos perigos. Ainda hoje tenho a marca dessas lesões na mão direita. E ainda hoje tenho presente a descompostura do Pedroto. Foi cá um raspanete! Todos ouviram, incluindo eu, a vítima.”
Portugal empata 0:0 vs Itália, nas Antas, e goleia 4:0 vs Inglaterra, em Alvalade. O capitão Crispim dá o mote. Serafim segue-lhe os passos, como autor do 2:0. E do 3:0. E do 4:0. Hat-trick. Puro, ainda por cima. É o primeiro hat-trick de Portugal nas camadas jovens, cortesia Serafim. Continua Simões. ‘O Serafim era uma força da natureza, comia dois ou três bifes ao almoço. E mais comia se pudesse.’
Natural do Rio Tinto em Julho 1943, nasce como Manuel Serafim Monteiro Pereira. Faz-se jogador no FC Porto e estreia-se na equipa principal aos 18 anos de idade, vs Benfica, na Luz. Marca quatro golos até à convocatória de Pedroto para o tal Euro sub-18. Ainda faz mais duas épocas no Porto antes de assinar pelo Benfica, em 1963. Nos primeiros cinco jogos, nada mais nada menos que seis golos. Depois, kaput. Vai para a Académica e continua errático. Acaba a carreira antes dos 30 anos, com cinco internacionalizações AA. Pouco para quem prometera tanto. E para quem marcara todos os quatro golos da final de Euro sub-18 em Portugal (4:0 vs Polónia, na Luz).
António Patrício
Parece-me ser o Custódio Pinto na foto...
António Patrício Ribeiro
Na foto trata-se de Custódio Pinto....