Carlos Xavier. ‘O Couto limpava tudo de cabeça e os avançados fugiam um bocadinho dele’

Mais Quem Te Viu E Quem TV 12/17/2020
Tovar FC

author:

Carlos Xavier. ‘O Couto limpava tudo de cabeça e os avançados fugiam um bocadinho dele’

Portugal falha todas as qualificações desde o Mundial do México-86. Nada em 1988. Nada em 1990. Nada em 1992. 1994, será? O grupo inclui um peso pesado chamado Itália mais Suíça, Escócia e Estónia. No primeiro jogo com o futuro vice-campeão mundial, os Baggio desequilibram. Roberto abre o marcador, Dino fixa-o. Acaba 3:1 nas Antas.

Vítor Baía, 1.

Sou um sortudo. Apanhei o Damas no Sporting, o Bento na selecção e depois o Baía. Tinha já uma bagagem considerável e iria ser ainda muito melhor. Jogava sempre no Porto, estava em casa e dominava todos os cantos da baliza.

João Pinto, 2.

O Godunha.

Godunha?

Era o que lhe chamavam no Porto, nem sei porquê. Sei, isso sim, que era só rir. Como ainda sou do tempo dos grupinhos na selecção, entre os do Porto e os do Benfica, os do Sporting ficavam ali a marinar. Então dava-me com todos e criei uma grande amizade com o João Pinto. Mais o André. Os dois juntos era um fartote, só rir.

Imagino.

Um dia, já o João Pinto trabalhava na prospecção do Porto, encontrei-o por acaso. Bem, fomos almoçar ao Luso e foi uma risada completa. Dávamo-nos bem, muito bem, e, atenção, já conhecia o João há anos e anos. Fomos juntos ao Torneio Toulon, fomos juntos ao Europeu de juniores em Leipzig.

Hélder, 3.

Tive mais contacto com ele já depois do futebol, através de uma escolinha que ele abriu com o Dimas. No jogo, era um central forte e rápido que lia bem o jogo.

Fernando Mendes, 4.

Defesa esquerdo, é quase da minha geração do Sporting. Gostava muito de atacar e era o gajo que fazia mais carrinhos, além de marcar bem os livres, fossem directos ou indirectos. Grande jogador, passou por muitos clubes. Sporting, Benfica, Boavista, Estrela, Boavista outra vez, Belenenses, Porto, Belenenses outra vez, Vitória FC, Montijo, São Marcos

Sabes tudo.

Gosto muito do Fernando Mendes, era talentoso.

Couto, 5.

Já jogava em Itália, muito calado e reservado.

E?

Dava pau, vai lá vai.

E nos treinos?

É igual, ele treinava como jogava. Agora, atenção: como central de marcação, limpava tudo de cabeça, e os avançados fugiam um bocadinho dele. Tinha também um bom pontapé e até marcou no Euro-96 à Turquia.

Oceano, 6.

O meu melhor companheiro de sempre no Sporting, juntamente com o Mário Jorge. Quem o viu a chegar e quem o viu no fim da carreira, impressionante o que ele melhorou. Aquilo foi uma vontade ilimitada de se superar diariamente. Uma força da natureza. Muito trabalhador, uma cabeça tremenda e um líder ponderado.

Jogaram juntos em Espanha.

Real Sociedad, grandes tempos.

Imagino.

Sempre que íamos jantar fora, não nos deixavam pagar tal era a admiração. Os donostias são espectaculares.

Semedo, 7.

Muito fino, era bonito vê-lo a jogar, parecia que deslizava. Excelente pessoa, sempre educado.

Figo, 8.

Cruzámo-nos dois anos no Sporting. Era muito forte no 1×1. Se perdesse a bola, pedia-a outra vez logo a seguir. Era destemido, por isso chegou onde chegou.

Domingos, 9.

Muito tecnicista, com drible curto estonteante. Além disso, era rápido a decidir.

Futre, 10.

Fora de série. Para quem nunca o viu jogar, vejam, vejam. A sério, vejam. E depois digam-me se ele era super ou não?

Super, claro.

É um deus em Madrid. O regresso ao Atlético foi surreal. E falas com ele, tudo normal. Não é nada vedeta. É mesmo anti vedeta. Dos melhores que vi e amigo do amigo.

Sempre positivo, não?

Muito. Como era ambicioso, só queria ganhar, ganhar, ganhar. E dizia-nos constantemente, às vezes sem parar. Quando se vê a fibra dos campeões é nos jogos grandes e ele transcendia-se nos dérbis com o Real Madrid. Há craques que se escondem, outros que se vão abaixo, ele partia aquilo tudo. Mesmo quando ainda não tinha aquela força muscular.

Carlos Xavier, 11.

Joguei a médio direito e essa selecção da Itália era qualquer coisa: Casiraghi, Signori, Dino Baggio, Roberto Baggio. No banco, vê bem, Mancini.

E no nosso?

Bom, também. Entraram Rui Barros e Rui Águas. E ainda ficaram Silvino, Paneira e João Vieira Pinto.

O número 11 não te é estranho?

Ahahahah. Queria era jogar. Na altura, já estava na Real Sociedad. O 1-0 do Baggio foi muito cedo, aos 2 ou 3 minutos. Lá se foi a estratégia. Depois quisemos recuperar, mas cometemos mais erros e perdemos bem, embora jogássemos num estádio com carisma.

Antas, certo?

O ambiente é diferente, no Porto. As pessoas aderiam mais à selecção, naquele tempo. Ainda me lembro da euforia quando ganhámos 1:0 à Holanda, golo do Rui Águas. Levámos um massacrezito mas ganhámos. Era o tempo do Artur Jorge.

Com a Itália já era Carlos Queiroz.

Havia um respeito enorme por tudo o que tinha construído nas camadas jovens, bem alicerçado pelos dois títulos de campeão mundial sub20.

E que tal?

Bom método de trabalho, muito organizado. Sempre tive uma boa impressão.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *