Balakov, um 10 barato
Bonança, Faxe e Queijo Castelões. Fosse qual fosse o patrocínio do Sporting, a camisola do número 10 esteve sempre bem entregue entre 1991 a 1995 a um senhor chamado Krassimir Balakov. Dono dos mais variados recursos técnicos, o búlgaro jogava enormidades e ainda hoje é admirado e respeitado em Alvalade como um dos melhores estrangeiros de sempre, ao lado de Osvaldo Silva (brasileiro), Seminario (peruano), Yazalde (argentino), Keita (maliano) e Meszaros (húngaro). Como búlgaro, foi o melhor que passou pelos leões, e até em Portugal.
Prova disso mesmo são as duas Bolas de Prata guardadas em casa, como melhor jogador búlgaro do ano, honra inteiramente merecida, em 1995 e 1997. Pelo meio (1996), ganhou Ivailo Iordanov, outro leão. E antes (1993), fora o avançado portista Kostadinov a receber o prémio. Além disso, Balakov é o único “português” a entrar no onze ideal de um Mundial, em 1994. Mas comecemos pelo princípio.
Dezembro 1990. O Sporting de Marinho Peres entra naquela fase caricata do Natal em que todos os sonhos se desmoronam. Às 11 vitórias seguidas (do 3:0 vs Vitória SC até ao 3:0 vs Braga), segue-se um empate com o Chaves, em Trás-os-Montes. Nos oito jogos seguintes, o Sporting só soma sete pontos em 16 possíveis. Em Janeiro, o campeonato já está perdido, algures entre Luz e Antas. Mais uma vez, adeus ao título. Que foge desde 1982. Há nove épocas, portanto. Claro que ainda há a Taça UEFA mas essa, por agora, não aquece nem arrefece. Os adeptos estão furiosos.
É então que Sousa Cintra vai à Bulgária e contrata um médio desconhecido de uma equipa sem pergaminhos europeus. Aos 24 anos, Balakov deixa o Etar Tarnovo e aterra em Lisboa. Estreia-se a 12 Janeiro 1991 num Sporting-Penafiel resolvido com golos de Gomes (2:0), e a vida do adepto comum de futebol nunca mais será a mesma. Dir-se-á, e com razão, que búlgaros há muitos. Como Bukovac e Kostov (Sporting), Radi (Chaves) ou Mladenov (Belenenses, V. Setúbal e Estoril). Mas Balakov é diferente de todos eles. Porque é mágico e super-talentoso. Vê-lo a jogar é uma inspiração para qualquer um. Sim, Bala demora a entrar na equipa mas quando se fixa no onze é definitivo e só os marcos alemães do Estugarda (2,1 milhões) é que o tiram de Alvalade rumo a Estugarda, em 1995.
Entre aquela primeira tarde em que pica o ponto pela primeira vez, substituindo o brasileiro Careca ao intervalo, e a última em que sai carregado em ombros pelos adeptos na final da Taça de Portugal-95, ganha ao Marítimo por 2:0, Balakov escreve o seu nome na história do Sporting e do próprio futebol português, tantas são as jogadas virtuosas, os toques de génio e os golos. Sim, Balakov também marca. Ao todo, 59. Há quem se lembre do primeiro de sempre, num insonso 6:0 ao Peniche para a Taça de Portugal, a 30 Janeiro 1991, ou daqueles dois ao Estoril num empate (2:2) entre búlgaros – Mladenov chamado à recepção, a 30 Dezembro 1992.
Os que sobressaem realmente são aqueles que ficam na história. E esses são mais que muitos. Ou será que ninguém se lembra daquele petardo a Silvino no dérbi lisboeta, em Outubro 1992? Sim senhor, dia 17. O primeiro golo aparece aos 12 segundos, por Balakov, entre uma nuvem de fumo provocada pelo lançamento de petardos por parte da claque do Benfica. Pela televisão, ninguém vê a bola entrar, só se ouve o rugido do leão, de contentamento. Na segunda parte, o visível 2:0 por Iordanov, mais tarde expulso por Carlos Valente, juntamente com Filipe e Paneira. O Sporting não ganhava ao Benfica na 1.ª divisão desde os 7:1, em 1986. E Balakov marcava assim o primeiro golo do canal privado SIC. Demora 12 segundos.
Outro golo histórico: o slalom maradoniano em Setúbal, a 29 Agosto 1993. A perder 1:0, golo de Yekini, o Sporting avança. Ou melhor, Balakov. O búlgaro pega na bola no meio-campo, passa por um, por outro, finta mais dois defesas, dribla o guarda-redes e marca com a baliza aberta! Sen-sa-cio-nal. Impossível ficar indiferente a tanta magia, a tanta genialidade. Esse é o arranque para a sua melhor época de leão ao peito, com 21 golos (em 38 jogos), cinco deles num só jogo, com o Lourosa, nas meias-finais da Taça de Portugal.
Acaba 6:0 e Balakov só não marca o sexto porque esse pertence ao polaco Juskowiak. Isso é a 2 Abril 1994, um mês antes do 6-3 vs Benfica. Também aí, para o bem e para o mal, Balakov deixa a sua marca, apontando o nono golo da tarde, na transformação de um penálti. Ele, aliás, é um expert em bolas paradas. Que o diga o central brasileiro Marco Aurélio. “Era eu que marcava os livres na U. Madeira. Chego ao Sporting e não havia hipótese! Balakov no lado direito e Figo no esquerdo, são os maestros. Vê-los a treinar livres era uma delícia.”
Delícia, eis o termo indiciado para o futebol de Balakov.