Taça Império, a Supertaça oficiosa
Salazar promete, Salazar cumpre. A frase ecoa por todo o país nos anos 40 e a inauguração do Estádio Nacional serve para a demonstração de força do Estado Novo e a consequente relação de integridade com o povo português. Milhares de pessoas deslocam-se ao Vale do Jamor para assistir a uma dupla jornada, com política e futebol de mãos dadas.
No seu discurso de apresentação, Salazar rebaptiza o feriado 10 Junho como Dia da Raça, o que, em plena guerra colonial, é aproveitado para condecorar em cerimónias tristes e sombrias os mortos (na pessoa de pais, esposas e filhos) ou os feridos por actos de bravura em combate – mais tarde, a data passa a denominar-se Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.
Aos (inúmeros) desfiles, palmas ao regime e saudações nazis, segue-se um dérbi especial por colocar frente a frente o campeão (Sporting) e o vencedor da Taça de Portugal (Benfica), numa jogada de antecipação ao futuro, com a primeira edição, ainda que oficiosa, da Supertaça. O relógio aponta 1930 horas, o fim de tarde é esplêndido.
Ganha o Sporting por 3:2 e o público vibra com um jogo de futebol intenso durante 120 minutos. Ah pois é, isto mete prolongamento e tudo. António Marques, interior-direito leonino, toma conhecimento da morte da mãe poucos minutos antes do início do jogo e, ainda assim, vai a jogo.
Fernando Peyroteo, sempre ele!, abre o marcador e inscreve o seu nome no livro de honra do estádio que ainda hoje recebe as finais da Taça de Portugal. O passe de Mourão é perfeito, a conclusão de Peyroteo idem idem. Passa exactamente uma hora de jogo. A dez minutos do fim, um livre-espécie-de-canto-mais-curto de Albino apanha a defesa em contrapé e Espírito Santo faz o empate.
No prolongamento, Peyroteo volta a fazer das suas e Eliseu faz o 3:1 numa desatenção xxl da defesa benfiquista. Como o médio está lesionado e só faz figura de corpo presente, encosta-se à esquerda como quem não quer a coisa. Num dos ataques, Eliseu aparece isolado e bate o desamparado Martins. Ao Benfica só lhe resta o golo da despedida, por Julinho.
O Sporting sai do Jamor com duas Taças: a do Império, instituída pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e a do Estádio, entregue pelo Governo de Salazar.
As equipas para a história, sob o apito do portuense Vieira da Costa
SPORTING Azevedo; Cardoso e Manuel Marques; Canário, Barrosa e Eliseu; Mourão, António Marques, Peyroteo, João Cruz e Albano
Treinador
BENFICA Martins; César Ferreira e Carvalho; Jacinto, Albino e Francisco Ferreira; Espírito Santo, Arsénio, Julinho, Jaime e Rogério
Treinador
Marcadores
1:0 Peyroteo (60)
1:1 Espírito Santo (80)
2:1 Peyroteo (92)
3:1 Eliseu (106)
3:2 Julinho (115)