Great Scott #190: Quem é o actor principal da primeira série de futebol transmitida pela RTP?

Great Scott Mais 12/28/2020
Tovar FC

author:

Great Scott #190: Quem é o actor principal da primeira série de futebol transmitida pela RTP?

George Best

Maradona good, Pelé better, George Best. Na Irlanda do Norte, a hierarquia está bem definida: Maradona é bom, Pelé melhor, George upa upa. É do Best. Embora George Best pertença àquele naipe de jogadores sem qualquer Mundial, como Di Stéfano, os norte-irlandeses idolatram-no como um Deus. Os adeptos do Manchester United idem. Caramba, até os do Northampton. Porque Best espanta toda a gente, inclusive os seus pais, no dia dos seis golos num 8:2 para a Taça de Inglaterra.

É a 7 Fevereiro 1970 que o Manchester United goleia o Northampton, da 4.ª divisão. Nessa tarde, Best bate um recorde inglês de seis golos num jogo. Se o seu nome já é falado em todo o mundo, sobretudo desde o bis em 11 minutos na Luz em 1966 para a Taça dos Campeões (Benfica 1:5 United), a partir desse momento é imortal. Com o double hattrick no Country Ground, em Northampton, que hoje só recebe jogos de críquete, Best conquista o estatuto de lenda. Tanto assim é que o plantel do Norhtampton lhe assina a bola do jogo. É nessa altura que o defesa Roy Fairfax, encarregado da ingrata missão de marcar individualmente o norte-irlandês, profere a famosa frase: “O mais perto que conseguiu ficar dele foi quando lhe apertei a mão no final do encontro.”

O curioso é que Best até nem está para jogar nesse dia. E lá vamos nós recuar no tempo, uma vez mais. A 17 Dezembro 1969, o dérbi de Manchester termina empatado a dois golos, para a 2.ª mão da ½ final da Taça da Liga, o que implica a eliminação do United, derrotado no primeiro jogo por 2:1. Desagradado com o árbitro, Best agarra num pedaço de lama do pseudo-relvado de Old Trafford e atira-lhe ao peito, além de uns quantos palavrões pelo meio. Vale a intervenção de Tony Book, capitão do City (é importante este nome, já vai perceber porquê). Acontece que a federação não perdoa a má educação e suspende Best por seis semanas.

Nesse período, o extremo só vai aos treinos. Quando vai. É o Best bipolar: ora aplica-se de uma forma nunca vista, ora falta a qualquer compromisso do United pela intensa vida nocturna, às vezes acompanhado pelo actor Michael Caine. ‘Estou cansado desta vida; tenho de começar a jogar, senão perco-me.’ Este exercício de autoanálise chama a atenção do treinador Wilf McGuiness, substituto de Matt Busby. E, claro, Best é convocado. Com a camisola 11 vestida, Best segreda-lhe ao ouvido: ‘seis semanas de fora igual a seis golos.’

Quando entra no Country Ground, uma multidão de oito mil pessoas espera por Best e dedica-lhe uns cânticos cómico-provocativos: George Best Superstar / Walks like a girl / And he wears a bra (George Best Superstar / Andava como uma menina / E usa um soutien). Falemos agora de Pelé. Para dizer a quantidade de hat-tricks (92). De póqueres (30). De pentas (seis). E seis golos num jogo? Nunca. Só o Best. Dos seis, três com o pé direito, dois com o esquerdo e um de cabeça. Na baliza, o pobre coitado chamava-se Kim Book.

Lembra-se deste apelido? Pois bem, é o irmão mais novo de Tony, o capitão do City que impede Best de fazer ainda mais asneiras com o árbitro no dérbi de Manchester. Vem tudo isto a propósito de quê? Best, George Best. Anos depois da retirada, o canal televisivo inglês BBC propõe-lhe uma série com dicas de Best para os mais novos sobre fintas, dribles, postura em campo, atitude em relação aos companheiros de equipa, blá blá blá yada yada yada. A série é um pequeno sucesso. E a RTP compra os direitos no início dos anos 80. Passa os episódios aos sábados e domingos de manhã, com a magia que se impõe, entre desenhos animados e mais desenhos animados. George, the best.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *