Di Canio. ‘Maluco, eu? O Moncur apareceu nu no treino, a fazer a dança do pénis’

Mais You Talkin' To Me? 01/22/2021
Tovar FC

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Di Canio. ‘Maluco, eu? O Moncur apareceu nu no treino, a fazer a dança do pénis’

É um génio da bola e nunca joga pela selecção italiana. No seu currículo, Já empurrou um árbitro inglês mas ganhou o prémio fair play da FIFA. Não tem curso de treinador mas
candidatou-se ao lugar no West Ham em Esta espécie de Dr Jekyll e Mr Hyde
é Paolo di Canio, de 41 anos. Jogou em dez clubes – o último dos quais o Cisco
Roma, da 3.a divisão italiana, há apenas um ano – e partilhou balneário com Jorge Cadete (Celtic) e Paulo Futre (Milan), dois ícones portugueses dos anos 90. A sua história de vida no futebol dava um livro e já está escrita pelo próprio mas o
i quis saber um pouco mais dele, que fala pelos cotovelos. Tudo isto a propósito da sua saudação nazi aos adeptos ultra da Lazio.

Paolo, boa tarde. Há 16 anos, você saltou para as primeiras páginas dos
jornais. Até o Berlusconi interveio.
E defendeu-me. Ou melhor, não me criticou. Já nos conhecemos há muito e
somos amigos [Berlusconi contratou Di Canio para o Milan em 1994, mas ele
bateu de frente com Capello, além de não conseguir roubar o lugar de titular ao
holandês Gullit].

Mas que aconteceu ao certo?
Aconteceu que marquei um golo no dérbi de Roma e festejei-o exuberantemente. com a saudação nazi. No final do jogo, repeti o gesto porque um dérbi é um dérbi e o de Roma é uma coisa indescritível. Na semana que antecede o jogo, háoito rádios que transmitem diariamente noticiários sobre histórias, actualidade, entrevistas a personalidades. É uma atmosfera completamente diferente, mas
muito nacionalista. Com a minha saudação, o dérbi teve um mediatismo internacional.

Pelos piores motivos.
Apenas expressei os meus sentimentos. Sou fascista, não racista. Com o braço
estendido em direcção à minha gente, de um camerata para os camerati [linguagem dos membros do movimento fascista de Benito Mussolini, um chefe
político que muito apreciava a Lazio pelas suas ligações histórias e até centenárias ao fascismo, devidamente comprovadas pelas iniciais SS, de Societá Sportiva], não quero incentivar a violência ou descriminar ninguém. Sim, é verdade, tenho tatuado no meu braço a palavra “Dux” [o equivalente latino para Duce, ou Mussolini], mas o fascismo é mal-entendido por muito boa gente. Os seus princípios são éticos e individuais.

Em Inglaterra, ficou conhecido por ter empurrado um árbitro, depois de ter
visto um cartão vermelho.
Foi só um empurrãozinho e ainda hoje me pergunto como é que ele caiu com
aquele estrondo. Já vi aquilo milhões de vezes! Na altura até pensava que alguém
se tinha posto atrás dele e forçado a sua queda, como aqueles sketchs cómicos.
Incrível. Porra, fui suspenso por 11 jogos. Mas é verdade que foi um acto indesculpável, que não recomendo a ninguém, mesmo que o árbitro assinale tudo contra nós, porque há crianças que estão a ver-nos e damos um péssimo exemplo.
Mesmo que os árbitros mereçam mais que um empurrãozinho. Era preferível
chamar-lhe pedaço de merda ou outra coisa qualquer.

Nesse jogo, a caminho do balneário, quase agrediu um rival, não foi?
Sim, o Nigel [Winterburn, do Arsenal]. Ele foi um maricas e nem sequer me
encarou. Apenas me insultou e eu fiz-lhe aquele olhar de raiva. Ele saiu a correr.
Mariconço. Que querias que fizesse? Que fosse a correr atrás dele até o apanhar?
Aquilo era futebol de gente grande, não de miúdos da escola. Além disso, sei que
era mais rápido que ele, mas sabes uma coisa? Agora somos grandes amigos,
daqueles que trocam mensagens nas épocas especiais, como o Natal, e nas outras
não festivas.

Sempre foi um jogador com um temperamento especial. Além do Winterburn, também me lembro de discussões com Frank Lampard e Simone Inzaghi, verdade?
Ei, eu sou um bom companheiro, daqueles que aceitam ordens, mas se achar
que posso fazer a diferença neste lance ou naquele, faço. E aí não há ordens de
treinadores ou de capitães, que não foi o caso com Lampard e Inzaghi. Com o
Lampard foi no West Ham-Bradford, que ganhámos 5-4 em casa, a perder por
4-2 aos 64 minutos. Foi falta dentro da área sobre o Frank e eu tinha falhado
um penálti na semana anterior. Talvez ele – atenção, talvez – tenha pensado que
era a vez dele de marcar o penálti. Mas não. Fui lá, tirei-lhe a bola das mãos e
marquei golo. Sabes quem era o meu treinador nessa altura?

Nem ideia.

O Harry Redknapp [tio do Lampard]. Comigo não há segredos nessas situações. Se eu sinto que posso marcar, arrisco. Com o Inzaghi já foi diferente. Então ele queria marcar um penálti com 0-0 no marcador, no jogo que marcava o meu regresso à Lazio, à minha Lazio, 16 anos depois? É preciso ter um cérebro do tamanho de um amendoim para se julgar mais que eu nessas circunstâncias. Ainda por cima ele falhara um penálti na época anterior ao tentar fazer um chapéu ao guarda-redes. Sabes o que me disse ele no balneário depois de fazer
o 1-0 nesse penálti? Nada. Ele não tinha tomates. Desentendeu-se com
Trapattoni, foi posto de lado por Capello e a lista ainda agora começou.

Alguma vez pensou ser mais sociável?
Sim, já sei que sou o culpado. O mordomo sou eu. Mas neste mundo é assim, quem desabafa fica sempre com as culpas. Então não posso refilar ou protestar quando sinto que as coisas estão mal? Se fosse mais calmo, não teria sido o jogador que fui. Quando me irritava a sério, lá tinha de ser o melhor em campo. Mas pensas que sou o mais maluco? Olha que estás enganado.

Então?
Então? Então que não conheces John Moncur.

É aquele que abdicou da camisola 10 para o Futre, no West Ham?
Vai dar uma volta! Isso sabe-se aí? O mundo é mesmo pequeno, porra! Olha, eu
também fiquei com a camisola 10, como o Futre, que era um gajo sensacional,
mesmo! Era daqueles com quem dava gozo falar, porque era descontraído e
brincalhão, sem stresse. Só essa mania da camisola 10, como eu. Bem, mas o
Moncur era o gajo mais maluco. Aliás, ele cedeu o número 10 ao Futre em troca de umas férias no Algarve. Logo por aí, podemos ver a pancada do homem.
Mas ainda não viste nada. Um dia, em pleno Inverno, Dezembro, Janeiro, sei
lá, apareceu nu no treino, com o pénis a dar a dar, de um lado para o outro. E estava um gelo brutal. E ele nu, a fazer a dança do pénis. Às tantas, tropeçou e caiu numa poça de água. Foi para o balneário a tremer como sei lá o quê.

Qual foi o melhor jogador com quem já jogou?
Joguei no Milan, ao lado de Van Basten, Gullit e Baresi, mas tenho de ser honesto: em todos os sentidos, o melhor foi Gianluca Vialli [avançado, como Di Canio,
italiano como Di Canio, calvo como Di Canio, que granjeou fama na Juventus,
ao contrário de Di Canio]. Estava acima de todos os outros. Estamos a falar de
uma pessoa que nasceu num berço de ouro, que veio de uma família rica. Em
Cremona, ele tem uma mansão com 40 quartos. No entanto, fazia sacrifícios
como qualquer outro e nunca se queixou. Ver aquilo transformou-me como
pessoa e como jogador. Ele era daqueles que ficavam 30/40 minutos a treinar
remates enquanto os outros já estavam a tomar banho ou até a caminho de casa.
Olhava para ele e dizia: “Foda-se [fuck]! Podia viver no Mónaco e está ali a fazer
remates para uma baliza deserta, debaixo de um temporal.”

No Celtic, só ficou uma época, ao lado de Jorge Cadete. Como foi?
Fantástico. Tanto quanto sei ele fez a melhor época de sempre, marcava de
qualquer lado e os adeptos cantavam-lhe mil e uma músicas. E o Van Hooijdonk
[que depois jogou no Benfica] também marcava que se fartava. E eu também.
Éramos um trio que se entendia às mil maravilhas, embora não tivéssemos ganho
nada colectivamente nessa época. Mas vingámo-nos em termos individuais: o
Cadete foi o melhor marcador da Escócia e eu fui eleito o melhor jogador do
ano. Ora, quando me contratou, o presidente do Celtic prometeu renovar o meu
contrato se eu jogasse bem. Fui eleito o melhor do ano, algo que é objectivo e
não subjectivo, e ele disse que não, que eu não servia. É muito simples, eu não
jogo para mentirosos e traidores.

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