Great Scott #290: Quantos minutos joga Éder no Euro-2016 até à final?
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O Benfica é bicampeão europeu, o FC Porto idem. Estamos a falar da Taça/Liga dos Campeões, alimentador de paixões em toda a Europa. Quem a cria é um jornalista francês do “L’Équipe”. Jacques Ferran é enviado especial ao campeonato sul-americano dos campeões, em Santiago do Chile, no ano 1948. O Vasco da Gama, campeão carioca, ganha a primeira edição a outros seis clubes e Jacques Ferran elogia a competição de tal maneira que aconselha um módulo igual na Europa.
Gabriel Hanot, director do “L’Équipe, apresenta a ideia à UEFA numa carta em Dezembro de 1954 mas esta recusa, argumentando que está mais preocupada com um campeonato de selecções, já existente na América do Sul desde 1916. Hanot insiste na ideia e a UEFA dá-lhe então carta branca para planificá-la à sua maneira. É aí que o “L’Équipe” toma as rédeas da Taça dos Campeões Europeus, com jogos na quarta-feira à noite. A UEFA só é tida e achada no primeiro congresso, em Viena, a 2 Março 1955.
A ideia do “L’Équipe” para a edição inaugural da Taça dos Campeões é reunir os melhores clubes da Europa, que não necessariamente os campeões (Anderlecht, Aarhus, Djurgardens, Milan, Real Madrid, Stade de Reims e Rot-Weiss Essen), mas sim aqueles que arrastam mais pessoas aos estádios nos respectivos países (Partizan, MTK Budapest, Servette, Hibernian, Gwardia, Rapid Viena, PSV Eindhoven e Saarbrücken).
Foquemo-nos agora em Portugal, o 16.º país convidado. O Benfica é o campeão nacional em Abril 1955, num título decidido aos 86 minutos da última jornada por um golo de João Martins, do Sporting. Ao Belenenses (2-2), que só perde esse campeonato para o Benfica por diferença de golos.
O “L’Équipe”, com a bênção da UEFA, convida então o Sporting e não o Benfica. Por força do passado, e não apenas do presente. É nestas circunstâncias que Sporting e Partizan entram na história do futebol europeu com o primeiro jogo na Taça dos Campeões.
Como ainda não há as jornadas europeias tal como hoje se apresentam, são os clubes que combinam entre si os dias dos jogos e informam a UEFA. O 4 de Setembro de 1955 é a data a que Sporting e Partizan chegam a acordo para o jogo da primeira mão. Que se realiza no Jamor, porque o Estádio José Alvalade está em obras.
O jogo termina empatado 3-3, com o primeiro e histórico golo a pertencer a João Martins, o tal que garantira o título de campeão português ao Benfica em Maio desse ano. Por isso e pelo golo ao Partizan que o garante um lugar eterno na história da UEFA, João Martins é conhecido como o sexto violino. É uma bela (e justa) homenagem, sem dúvida.
O curioso de Martins, natural de Sines, é que não marca um golo sequer em 11 internacionalizações (nove jogos a titular). Ao todo, 1010 minutos. É muuuito tempo. Muuuuuuuuuuito mesmo. Não há ninguém como ele. Nunca, jamais. Arrisque nomes, nós damos a resposta. Nuno Gomes, 371 minutos. Fernando Gomes, o bibota d’ouro, 205’. Nélson Oliveira, 154’. Pauleta, 128’. Postiga, 92’. Hugo Almeida 84’. Edinho, 56’. Liedson, 43’. Makukula, 21’.
Os noves da selecção portam-se sempre bem. Ou melhor, quase sempre. Há o caso gritante de Martins, melhor marcador do campeonato em 1953-54, com 31 golos em 23 jogos. Avançado do Sporting durante 12 épocas, Martins soma 162 golos em 249 jogos. É um valor seguro à frente da baliza. E coitados dos guarda-redes, claro. Sejam eles quem forem. Martins é uma máquina. Menos na selecção com os tais 1010 minutos sem golo.
É inédito? Siiiiim, já o dissemos que sim, mas há aí uma figura que se aproxima do homem a grande velocidade. É o bracarense Éder. Ele marca no 3-0 ao Boavista (penálti), decide o 2-1 vs. Estoril, pica o ponto na Taça com o Alcains (4-1), engana Júlio César (Benfica) e festeja o 1-0 em Coimbra. Em 11 jogos nesta época, cinco golos. Nada mau. Na selecção é que…
Lançado por Paulo Bento, em Setembro 2012, ainda ao serviço da Académica, num 3-0 ao Azerbaijão, o avançado merece a confiança do treinador. E até de Ronaldo – ainda no último 1-0 à Arménia, o capitão faz o sinal de ok aquando de uma falha clamorosa à frente da baliza. Muda-se de seleccionador e Éder lá continua a dar que falar. Pelos piores motivos. Cerca de zero golos em 17 internacionalizações. À 18.ª, alto e para o baile. Golo à Itália, 1-0. Ao fim de 759 minutos, aleluia.
Chamado por Fernando Santos para o Euro-2016, só joga 13 minutos nos dois primeiros jogos, seis vs Islândia mais sete vs Áustria. Desaparece de cena. E só volta a reaparecer na final de Saint-Denis, onde se torna o autor do golo mais importante de sempre da selecção. O um-zero à França é a consagração do avançado do Lille. Sim, ele joga em França. É o cúmulo da coincidência.