Great Scott #305: Quem muda as cores do equipamento do Iraque em pleno Mundial-86?

Great Scott Mais 06/07/2021
Tovar FC

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Great Scott #305: Quem muda as cores do equipamento do Iraque em pleno Mundial-86?

Uday Hussein

Ausente das competições asiáticas durante anos e anos, o futebol do Iraque aparece num contexto político bastante delicado com a subida ao poder de Saddam Hussein. A rivalidade com o Kuwait assume proporções xxl, estendidas ao desporto, no sentido de agitar/entreter a sociedade.

Dá-se a qualificação inédita para a fase final da Taça da Ásia-72. Quatro anos depois, outro apuramento e, agora, com ½ finais incluídas. Em Teerão, o Kuwait é mais forte no prolongamento. Acaba 3:2. É um fastio enorme. Saddam insiste, insiste e insiste. Entre poços de petróleo, armas nucleares e bunkers, o entretenimento do futebol. Em 1980, a estreia nos Jogos Olímpicos, em Moscovo. Em 1984, outra participação olímpica, desta vez em Los Angeles. Os dados estão lançados, o Iraque tem jogadores para ir mais além. É então que Saddam entrega o pelouro futebolístico ao filho Uday.

A partir daí, o futebol ganha outra dimensão e é o momento. Na qualificação para o Mundial-86, o Iraque ganha a primeira fase de grupos, vs Qatar e Jordânia. Nas ½ finais, um surpreendente 3:2 vs EAU no Dubai dá vantagem para a segunda mão, em campo neutro (ainda sequelas da suspensão da FIFA pela guerra com o Irão). Elege-se Ta’if, na Arábia Saudita, com árbitro europeu (André Daina, Suíça). Os EAU começam melhor e ganham vantagem de dois golos. Nos descontos, o suplente Saddam (ironia das ironias) marca o golo de toda uma nação.

A final, ei-la. Só o vencedor chega ao México. Em Damasco, com o francês Michel Vautrot no apito, 0:0. Duas semanas depois, novamente em Ta’if, com um sueco a arbitrar (Erik Fredriksson), o Iraque ganha 3:1. Pela primeira (e única), a selecção iraquiana apura-se para o Mundial. O mérito é do seleccionador, o brasileiro Edu. E o da fase final?

Ah pois éééééé, boa pergunta. Acontece que Uday Hussein passa-se e despede Edu sem aparente motivo, a poucos meses do México-86. Para o seu lugar, um outro brasileiro chamado Evaristo de Macedo (com um currículo interessante no Qatar). Em Junho, o Iraque lá aparece com Evaristo de Macedo e uns equipamento nada a ver. Então? Em vez do verde e brancos às riscas verticais, a selecção de Uday aparece de amarelo (vs Paraguai 0:1) e azul céu (vs Bélgica 1:2 e vs México 0:1).

Escrevemos a selecção de Uday com propriedade. É ele, só ele, quem decide alterar o equipamento. Os jogadores não gostam nada, e, claro, nada podem dizer. Porquê amarelo e azul? São as cores do Al Rasheed, clube gerido por Uday. Ai ai ai ai. Daí para a frente, já sem Saddam no poder, Iraque ganha a Taça da Ásia-2007. O seleccionador é outro brasileiro, Jorvan Vieira – adjunto de Marrocos no tal Mundial-86 de boa memória (pela estreia) do Iraque e de má memória para Portugal, precisamente eliminado na fase de grupos pelos marroquinos.

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