#27 Bayern 1963-64
É possível explicar o inexplicável? Vamos tentar. Por partes, claro. O ponto de partida é 1963, o ano de arranque do campeonato da 1.ª divisão alemã. Mas como, só em 1963?
É isso, vamos por partes. Primeiro, até ao início da 2.ª Guerra Mundial, o futebol alemão é amador e dividido por zonas, algo existente em Portugal com os campeões regionais do norte ao sul do país. Ao todo, 19 campeonatos. Às tantas, o campeão apura-se para uma missão mais nacional, é a 1.ª divisão. Na Alemanha, nem pensar.
Passa-se a tempestade (guerra) e a bonança demora a chegar. Nos futebóis, a então RFA ganha o inédito título mundial, em 1954, à custa de uma vitória milagrosa vs Hungria em Berna. Por obra do destino, esse 3:2 de virada adia o sonho do seleccionador Sepp Herberger, impulsionador da ideia de uma 1.ª divisão igual à dos outros países. Os responsáveis da federação, burocráticos (até na Alemanha), vêem no sucesso da selecção a prova provada de que o futebol inter-regional é que é. Eis senão quando nasce o campeonato nacional. De hóquei sobre o gelo. Beeeem, Herberger vai aos arames e começa a reunir-se com Hermann Neuberger, dirigente federativo e futuro presidente da organização por muitos e bons anos. Juntos, começam a forjar a criação de um campeonato mais abrangente que nunca. Para tal, é preciso um harakiri. Tal como em Portugal.
A malta explica. Em 1934, na qualificação para o Mundial, a selecção calha em sorte com a Espanha. É o tempo da aproximação geográfica para diminuir despesas e acelerar o processo. Portugal, pobre coitado, apanha 9-0. Os jornais, sobretudo o Diário de Notícias, pedem uma reformulação do sistema. A federação, atenta, muda o regime e a época desportiva é dividida em campeonatos regionais, cujos campeões saltam para o campeonato nacional. Dá-se um salto de qualidade, abrem-se as cabeças, recolhem-se os louros. Na Alemanha, a teimosia dura até ao Mundial-62. No Chile, a RFA é eliminada nos ¼ final. Crise, escândalo, bronca. A federação marca uma reunião de emergência para daí a 15 dias e salta o veredicto da formação de uma 1.ª divisão.
A primeira época é a de 1963-64, com 16 equipas. A federação recebe 46 propostas e estuda-as uma a uma, através da situação financeira e com base nos últimos 10 anos desportivos. O Bayern é um dos clubes interessados, óbcio. Até porque acaba a Oberliga Süd em terceiro, só que a federação barra-lhe a entrada na edição da inaugural da 1. Bundesliga com base no registo da última década, inferior a outros dessa zona, como o rival TSV 1860 e ainda Karlsruhe mais Estugarda.
Começa então o campeonato a sério. Ganha o Colónia, seis pontos à maior do modesto Meidericher, da cidade de Duisburgo. Na 2.ª divisão, o Bayern forma o seu plantel com muitos miúdos da formação. Um deles chama-se Sepp Maier e é o guarda-redes titular até 1980. Outro é Rainer Ohlhauser, avançado de categoria ímpar e autor de impressionantes 34 golos, com cinco bis, um hat-trick, um penta e um duplo hat-trick. Ao seu lado, Dieter Brenninger assina a prestigiante marca de 33. Incrível, uma dupla com 67 golos.
Com um guarda-redes elástico e dois homens assim na frente, o Bayern é uma máquina. É verdade, um deslize aquí e outro ali. Contas feitas, apura-se para o play-off de acesso à 1.ª divisão. E conquista o direito da subida numa tarde de glória, com 6:1 ao Sankt Pauli. Nesse dia, um jovem marca de cabeça. Chama-se Beckenbauer, o futuro Kaizer do futebol alemão e mundial. Daí a três anos, o Bayern conquista a Taça das Taças. Na década seguinte, é tricampeão europeu (o último da história, por sinal, mesmo que se inclua a Liga dos Campeões). Sem esquecer o factor selecção, com a RFA a sagrar-se campeã mundial em 1974 e europeia em 1976, num feito duplo só ao alcance da França em 1998-2000 e Espanha 2010-2012.
Para a história, aqui seguem os onze na estreia da 2.ª divisão e no dia da subida. Num, é Maier, Borutta, Erhardt, Kunstwadi, Olk, Drescher, Ostner, Brenninger, Ipta, Ohlhauser e Schneider. No outro, é Maier, Kunstwadi, Kupferschmidt, Wodarzik, Beckenbauer, Drescher, Koulmann, Brenninger, Ipta, Ohlhauser e Schneider. De repentes, temos Maier, Kunstwadi, Drescher, Brenninger, Ipta, Ohlhauser e Schneider.
(a negrito, os jogos fora)
Neu-Isenburg | 5:1 | Drescher / Borutta / Schneider / Ohlhauser / Brenninger |
Stuttgart Kickers | 8:1 | Ohlhauser-6 / Brenninger-2 |
Fulda | 3:3 | Ohlhauser-2 / Drescher |
Kassel | 3:2 | Ipta / Drescher / Koulmann |
Viernheim | 3:0 | Borutta-2 / Brenninger |
Reutlingen | 1:1 | Borutta |
Offenbach | 1:1 | Drescher |
SpVgg Fürth | 1:1 | Ipta |
Augsburgo | 4:1 | Wodarzik-2 / Ohlhauser / Brenninger |
VfR Mannheim | 0:3 | |
Pforzheim | 4:1 | Brenninger / Erhardt / Röckenwagner / Ohlhauser |
Schweinfurt | 7:2 | Ohlhauser-5 / Röckenwagner / Lang (pb) |
S. Augsburgo | 6:2 | Ohlhauser-2 / Brenninger-2 / Röckenwagner / Ipta |
Mannheim | 2:0 | Drescher / Ipta |
FSV Frankfurt | 0:3 | |
ESV Ingolsta | 4:0 | Ohlhauser-2 / Brenninger / Mack (pb) |
Friburgo | 2:2 | Röckenwagner / Drescher |
Bayern Hof | 5:0 | Röckenwagner-2 / Drescher / Ipta / Ohlhauser |
Ulm | 2:3 | Röckenwagner / Brenninger |
Stuttgart Kickers | 2:0 | Erhardt / Brenninger |
Fulda | 4:1 | Ohlhauser-2 / Erhardt / Windhausen (pb) |
Kassel | 1:0 | Drescher |
Reutlingen | 7:2 | Ohlhauser-3 / Schneider-2 / Brenninger / Drescher |
SpVgg Fürth | 2:1 | Wodarzik / Ohlhauser |
VfR Mannheim | 2:0 | Brenninger-2 |
Pforzheim | 3:0 | Ohlhauser-2 / Schneider |
Schweinfurt | 1:4 | Brenninger |
S. Augsburgo | 2:2 | Erhardt / Brenninger |
Mannheim | 3:1 | Schneider / Ohlhauser / Brenninger |
FSV Frankfurt | 1:2 | Schneider |
ESV Ingolsta | 2:2 | Ohlhauser / Ipta |
Friburgo | 4:0 | Brenninger-2 / Ohlhauser / Borutta |
Offenbach | 3:5 | Brenninger-3 |
Augsburgo | 5:1 | Brenninger-2 / Schneider / Wodarzik / Koulmann |
Viernheim | 5:3 | Brenninger-3 / Ohlhauser / Drescher |
Bayern Hof | 0:1 | |
Ulm | 4:6 | Jaworski-3 / Bogeschdorfer |
Neu-Isenburg | 3:3 | Jaworski-2 / Ipta |
(play-off)
Skt Pauli | 4:0 | Brenninger-3 / Beckenbauer |
Tasmania | 1:1 | Brenninger |
Neunkirchen | 1:0 | Ohlhauser |
Neunkirchen | 0:2 | |
Tasmania | 0:3 | |
Skt Pauli | 6:1 | Brenninger-2 / Schneider-2 / Beckenbauer / Ipta |