Great Scott #320: Única equipa a ganhar duas Taças UEFA sem qualquer derrota?
IFK Gotemburgo
Que delícia, o futebol sueco. De sonho, o IFK Gotemburgo. Campeão sueco em 1969, é autor de uma proeza inacreditável em 1970 e desce à 2.ª. Na última jornada, durante a derrota em casa vs Örebro, quatro mil adeptos invadem o campo e roubam as balizas na tentativa de interromper e, depois, repetir o jogo. Em vão, a federação sueca confirma a derrota e o IFK só sai do inferno da 2.ª em 1976.
A chegada de Sven-Göran Eriksson em 1979 é um momento determinante na vida do futebol do IFK, sueco e até europeu – caramba, até português. Com 29 anos de idade, Eriksson começa a jogar com duas linhas de quatro bem adiantadas, um vagabundo lá na frente (Corneliusson) mais um 9 fixo na área (Torbjörn Nilsson). A rotina demora a entrar e toma lá três derrotas nos três primeiros jogos. Eriksson sente-se desacreditado e diz-se de saída. No way, nem a direcção nem (muito menos) os jogadores aceitam. Começa aí uma época sensacional, culminada com a conquista da Taça da Suécia.
Na final, vs Atvidabergs, é um jogo de sentido único. Veja-se bem o resultado ao intervalo de 6:0. Acaba 6:1. No onze, dois jogadores da formação – Schiller, o lateral-direito com o 10 nas costas, e Strömberg, o calmeirão de 1,90 m de altura com o n.º 17. Tanto um como outro assinam o ponto. Um golo cada, tal como Edström e Nilsson. Falta o bis de Holmgren. Nos dois anos seguintes, nada de nada em matéria de títulos.
Em 1982, é o treble com campeonato, Taça e Taça UEFA. A epopeia europeia é grandiosa, com nove vitórias e três empates em 12 jogos. Invicta, portanto. A história mais curiosa é a da primeira mão dos ¼, em Valencia. Sem dinheiro para viajar até Espanha, o IFK só se apresenta no Mestalla à conta do empréstimo de coroas suecas por parte dos adeptos numa inédita acção de caridade. O resultado final é um extraordinário 2:2. O dinamarquês Arnesen abre e fecha o marcador, de livre directo e penálti. Pelo meio, Corneliusson (na sequência de um canto) e Nilsson (roubo de bola à entrada da área) silenciam Valencia. Na segunda mão, um golo em cada parte decide
Seguem-se dois emblemas alemães até á final. Primeiro o Kaiserslautern de Briegel, que afastara o Real Madrid na eliminatória anterior. Decide um golo do lateral esquerdo Fredriksson, no prolongamento. Depois o Hamburgo, campeão europeu no ano seguinte. Num tempo em que a decisão da Taça UEFA é a duas mãos, Ernst Happel monta uma teia defensiva para conter o IFK e sai-se aparentemente bem. O 1:0 é um mal menor, perfeitamente ultrapassável. Ou não. Em Hamburgo, a moldura humana de 60 mil pessoas incomoda zero o IFK. Ao intervalo, 0:1. No fim, 0:3. Banho de bola, grande Eriksson – que voltaria à final da Taça UEFA do ano seguinte, agora pelo Benfica e ganha pelo Anderlecht.
Passam-se cinco anos até ao regresso ao IFK à Taça UEFA. Em 1986-87, já não há Strömberg (Atalanta) nem Eriksson (Roma), ambos de passagem pelo Benfica. E continua a haver Hysen, Fredriksson e os irmãos Holmgren. O caminho para a final só apanha um tubarão chamado Inter, o de Trapattoni. Em Gotemburgo, ferrolho e 0:0. No Giuseppe Meazza, um autogolo de Fredriksson desequilibra a eliminatória. No outro lado, Zenga comete o erro imperdoável de largar uma bola fácil e Pettersson empurra-a para o abraço de todo um país, vidrado na magia das noites europeias do IFK.
O Tirol na ½ final é um passeio, o Dundee United na final quase. De novo, 1:0 em casa, obra de Pettersson, que voltaria a marcar na final da Taça UEFA, em 1992, pelo Ajax. Na Escócia, o Dundee United sofre o 1:0 de Nilsson e baixa os braços irremediavelmente. O IFK conjuga bom futebol com outra caminhada invencível (sete vitórias e cinco empates). Ao todo, 16-8-0.
1981-82 (a negrito, os jogos fora)
Haka Valkeakoski 3:2 / 4:0
Sturm Graz 2:2 / 3:2
Dínamo Bucareste 3:2 / 1:0
Valencia 2:2 / 2:0
Kaiserslautern 1:1 / 2:1 ap
Hamburgo 1:0 / 3:0
1986-87
Sigma Olomouc 1:1 / 4:0
Stahl Brandenburgo 2:0 / 1:1
Gent 1:0 / 4:0
Inter 0:0 / 1:1
Tirol 4:1 / 1:0
Dundee United 1:0 / 1:1