Great Scott #322: Qual é o último resultado de Portugal antes da estreia no Mundial-86?

Great Scott Mais 06/30/2021
Tovar FC

author:

Great Scott #322: Qual é o último resultado de Portugal antes da estreia no Mundial-86?

4:0

Durante duas semanas, de 11 a 25 Maio, os jornais escrevem diariamente a mesma lenga-lenga sobre a perspectiva de jogos particulares. Primeiro, quatro. Depois, três. A seguir, dois. Só se faz um. E muito mal amanhado. Fora aquele agendado para o dia 19, em Monterrey. A selecção viaja de autocarro, entra no balneário e equipa-se para finalmente jogar. O adversário chama-se Clube Nova, uma equipa amadora. Que não chega a entrar em campo. “Ainda hoje de manhã liguei para cá a confirmar o jogo”, desabafa o atanrantado Amândio de Carvalho. “Não tenho explicação para isto”.

Iñigo Armendaiz, um dos directores do comité organizador do Mundial e encarregue de marcar esse particular, diz de sua justiça. “A selecção portuguesa veio cá no domingo e não treinou porque se queixou do campo sem condições. Por isso, pensei que não voltaria mais. Como não recebi nenhuma chamada durante o dia de ontem, assumi que não vinham e desmarquei o jogo.” Que caldeirada. Os jogadores portugueses fazem o de sempre: 11 contra 11, com José Torres a apitar. Do lado de fora, duas centenas de espectadores boquiabertos e uns quantos jornalistas mexicanos, igualmente espantados com a ausência de coerência em tudo aquilo.

No dia 22 Maio, urraahhhhh, um jogo particular. Ou o mais parecido a. Os onze jogadores vestem a camisola do Clube Nova e são tão-só a equipa de empregados da indústria hoteleira de Saltillo. É para lá de amadora. É uma palhaçada de sentido único. Entre os 11 golos da selecção, os jogadores rebolam-se a rir e até brincam com os jornalistas, de pé, perto da linha lateral. É um gozo tremendo. Só para a história, marcam Gomes, Sousa, Sobrinho, Frederico (dois cada), Futre, André e Jaime Pacheco (um). Nesse dia, o Chile oferece-se para defrontar Portugal e pede 1200 contos de cachet. Finalmente um adversário de nível. Mas a federação recusa surpreendentemente. A FPF não tem dinheiro. É o fim.

Menos de 24 depois, os jogadores rebelam-se e abre-se a guerra da publicidade nos fatos de treino e nas camisolas. A federação dá quatro contos de diária, os jogadores querem sete. A federação paga 300 contos por cada jogo da fase de grupos, os jogadores pedem 700. A federação concede 300 contos dos 26 mil da publicidade da Olivedesportos, os jogadores torcem o nariz – além de a percentagem ser mínima para quem representa realmente o país, o valor total consegue ser inferior ao do Euro-84.

Há mais: os jogadores desejam 1500 contos pelo primeiro ou segundo lugar do grupo, a federação promete apenas 1200; se o terceiro lugar valer eventualmente a qualificação, há um desencontro de valores entre a oferta (1000) e o desejado (1200). O comunicado é lido pelo capitão Bento e assume a ruptura com Amândio de Carvalho. “Exigimos a presença do senhor presidente Antero da Silva Resende até terça-feira, a fim de conseguirmos o diálogo. Caso não seja atendida a nossa solicitação, deixaremos de cumprir os treinos marcados pela federação.”

Meu dito, meu feito. Os jogadores já não comparecem a um jogo-treino marcado com um misto de juniores e suplente do Tigres, equipa da 1ª divisão mexicana. Estoira a bomba, com repercussões na Assembleia da República. Manuel Alegre defende os jogadores na sua qualidade de trabalhadores e envia-lhes um telegrama de solidaridade, ao mesmo tempo que lhes pede compromisso e bom senso, tal como, aliás, o presidente Mário Soares. Os jogadores abortam a greve e voltam aos treinos no dia seguinte.

Diz Bento: “O assunto fica, por agora, encerrado. Vamos dedicar-nos por inteiro aos treinos e jogos do Mundial. Mas lamentamos a persistente falta de diálogo com a federação e, a partir de agora, é o seleccionador José Torres o nosso elo. Amândio de Carvalho está fora deste plano. Não somos crianças a quem se aplicam reguadas nem mentecaptos que nada sabemos.” De volta aos treinos, a selecção ganha 4-0 às reservas do Monterrey, com golos de Gomes (2), Carlos Manuel e Bandeirinha, num jogo em que se confirma Álvaro como lateral-direito e Futre como suplente.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *