Great Scott #338: Quem é proibido pela federação da Bolívia de ser convocado para o Mundial-94?
Antelo
No final do século passado, mais concretamente em 1997, a IFFHS saca uma lista dos maiores goleadores de todos os tempos e também da actualidade. Em resposta, o jornalista argentino Lorenzo Carri, uma instituição na arte da escrita e da locução, envia uma carta a dar conta de um jogador esquecido. Chama-se Víctor Hugo Antelo e acumula uma anormalidade de golos. Qualquer coisa como 268.
A IFFHS confere tudo outra vez e dá razão a Carri. Com os novos dados, Antelo é o segundo melhor goleador no activo. O seu nome salta para a ribalta e perguntam-lhe o que se segue. O objectivo é o 300.º golo. Que chega nos instantes finais de um Blooming vs Santa Cruz em 1988. Depois, o céu é o limite. O limite é 350 golos em 2001, bem à frente do mexicano Hermosillo (304) e do austríaco Polster (302). Nesse percurso de 18 anos, iniciado em 1983 ao serviço do Oriente Petrolero e só desviado com uma aventura no estrangeiro (Fujita Kogyo, Japão, 1990), Antelo é o rei do golo na Bolívia em sete ocasiões por quatro equipas (Oriente Petrolero, Santa Cruz, San José e Blooming). E, ainda por cima, comete a proeza de marcar um recorde nacional de 18 golos em 12 jogos seguidos entre 17 Maio e 6 Setembro 1998.
Em 1993, às portas do Mundial-94, o último de sempre da Bolívia, o avançado do San José é o melhor marcador da 1.ª divisão – uma das sete vezes. E é claramente uma referência. Tanto assim é que é convocado pelo seleccionador Xabier Azkargorta para uns quantos particulares, ao lado dos mais falados como Sánchez (Benfica), Etcheverry, Peña e Melgar. No dia do anúncio dos 22 para os EUA, nada de Antelo.
Como assim? A explicação é infeliz, e simples: como Antelo é o rosto e o líder de uma campanha dos jogadores bolivianos em prol de melhores salários, a federação veta-o pura e simplesmente. Azkargorta acata a decisão e faz-se ao Mundial com o melhor marcador do campeonato nacional, uma situação idêntica à do sportinguista Manuel Fernandes no México-86. Víctor Hugo Antelo é o nome, Tucho a alcunha. Tucho numa alusão a Norberto Tucho Méndez, interior argentino dos anos 40.