Great Scott #407: Quem é o treinador do primeiro título de campeão marroquino do Raja Casablanca?
Fernando Cabrita
Algarvio dos sete costados, nascido em Lagos, faz carreira (brilhante) na Olhanense com nove épocas seguidas na 1.ª divisão e 83 golos à mistura. É convocado pela selecção e lançado às feras em 1945, vs Espanha, no Jamor.
Cinco anos depois, frente ao mesmo adversário, em Madrid, marca o único golo pela selecção. Aventureiro, ultrapassa a fronteira em 1951 e joga na 2.ª divisão francesa pelo Angers. Duas épocas e c’est fini. De regresso a Portugal, escolhe a Covilhã como poiso, onde acumula as últimas quatro das sete internacionalizações. Arruma as chuteiras no Portimonense 1959-60, da 2.ª divisão, e abraça a carreira de treinador.
Corre uma série de clubes entre Benfica, U. Tomar, Beira-Mar, Rio Ave até ser escolhido para os quadros da federação portuguesa. É nomeado sucessor de Otto Glória a meio da qualificação para o Euro-84 e dá dois nós cegos à concorrência personificada por Polónia (1:0 de Carlos Manuel) e URSS (1:0 de Jordão). França aí vamos nós. À primeira, passamos a fase de grupos e só perdemos na 1/2 final com o anfitrião, após prolongamento.
A experiência é um pau de dois picos. O aspecto desportivo é endeusado por todos nós, como país ávido de bons resultados. O aspecto técnico é colocado bastas vezes em dúvida, sobretudo por um dos adjuntos, António Morais. Questiona-se a autoridade máxima de Fernando Cabrita como real dono da última palavra. Daí para a frente, o seu trabalho é fora da esfera da federação. Limita-se a equipas de classe média como Penafiel, Académico de Viseu e Esperança de Lagos (a sua casa).
Pelo meio, uma alegria ilimitada em 1987-88 como campeão marroquino pelo Raja Casablanca. É o primeiro título de sempre do Raja, obtido na penúltima jornada com uma vitória em Sidi Kacem no campo do 5.º classificado Union, por obra e graça do golo solitário de Abderrahim. Na ressaca da conquista inédita, Cabrita é sondado para seleccionador de Marrocos como sucessor do brasileiro José Faria — esse mesmo, o homem do 3:1 a Portugal no Mundial-86.
Acontece que Cabrita só aceita treinar Marrocos na qualificação para o Mundial-90 a tempo inteiro (e não em part time, como José Faria no Far Rabat) e sem necessidade de se converter ao islamismo para agradar o Rei Hassan II (ao contrário de José ‘Mehadi’ Faria). Aliás, Cabrita é conhecido pelos seus métodos cristãos e recusa-se dar folga aos seus jogadores por ocasião do dia de natal árabe.