Great Scott #415: Quem é o primeiro treinador português a festejar a dobradinha (1.ª divisão + Taça)?
Cândido de Oliveira
É um exercício divinal, o dos treinadores portugueses com dobradinha. Quando nos é feita a pergunta, encolhemos os ombros como se fosse fácil. Engano, puro engano, isto é como agulha em palheiro. Difícil, complicado, quase impossível.
Se ampliarmos a pergunta para os treinadores portugueses até hoje, temos Oliveira (FC Porto 1998), Mourinho (FC Porto 2003), Jesualdo (FC Porto 2009), Villas-Boas (FC Porto 2011), Jesus (Benfica 2014), Rui Vitória (Benfica 2017) e Conceição (FC Porto 2020). Sete, dos quais seis em pleno século XXI.
Sete magníficos, então? Não, ainda há um outro. A oitava maravilha chamada Cândido de Oliveira, o primeiro de todos, qualquer coisa como 50 anos antes do seu sucessor, também ele Oliveira. Ora bem, mestre Cândido faz a dobradinha em 1948 ao serviço do Sporting.
É uma época efervescente porque o Benfica vira a primeira volta como líder da 1.ª divisão, dois pontos à maior do Sporting e com a proeza de ter ganho no Lumiar por 3:1. Até ao jogo da segunda volta, no Campo Grande, a vantagem pontual mantém-se. Na véspera, Cândido de Oliveira é acusado de estar a delinear uma táctica suicida para entregar o título ao adversário, de quem é adepto confesso. A 25 Abril 1948, com póquer de Peyroteo (1:4), o Sporting passa para a frente da 1.ª divisão, empatado em pontos e em vantagem nos golos do confronto directo (5:4).
Com a vitória praticamente assegurada, Cândido demite-se por não admitir que os dirigentes sportinguistas pudessem colocar em causa a sua dignidade. Até ao fim, ainda há um momento hitchcockiano. Na penúltima jornada, o Sporting perde 1:0 em Setúbal, só que um bis do elvense Patalino surpreende o Benfica em casa (2:1). Assim, o Sporting acaba com os mesmos pontos do Benfica e com mais um golo. É o chamado ‘campeonato do pirolito’.
Na Taça de Portugal, o Sporting elimina o Benfica na meia-final por claro 3:0 e, depois, desfaz-se do Belenenses no Jamor por 3:1 na despedida de Álvaro Cardoso. É o final apoteótico de uma época marcada por bons resultados com equipas estrangeiras, tais como o 8:2 vs Lille ou o 4:4 vs Athletic Bilbao, na inauguração oficial do Estádio do Lumiar, a 14 Setembro 1947.