Great Scott #438: Primeiro treinador português a passar a fase de grupos da Liga dos Campeões?
Artur Jorge
Na ressaca do Verão quente 1993, com as transferências de Paulo Sousa mais Pacheco para o Sporting, o Benfica é o campeão português em 1994 na tal época do 6:3. Na altura da goleada ao Sporting no José Alvalade, com um hat-trick de João Vieira Pinto em 12 minutos na primeira parte, já o futuro do treinador Toni é debatido na praça pública. A conquista do título em nada influi na sua continuidade e a direcção contrata mesmo um sucessor. Chama-se Artur Jorge, então campeão francês em título pelo PSG.
Se a vida do novo treinador é assim-assim na 1.ª divisão, tudo é diferente na Liga dos Campeões. Na altura, só há campeões nacionais em prova e o Benfica calha em sorte no grupo C com representantes da Croácia, Bélgica e Roménia. O arranque é insosso, 0:0 em Split. Duas semanas depois, para a segunda jornada, o Anderlecht apanha 3:1 na Luz.
É a tal noite mágica do argentino Caniggia, autor de um bis na primeira parte para desespero do guarda-redes De Wilde, ainda a anos-luz do Sporting. O 1:0 é simples, cruzamento largo de Nelo para o segundo poste e entrada de Claudio. O 2:0 é mais elaborado e bonito, demora 30 segundos, há 22 toques de bola a envolver cinco jogadores, desde Preud’homme até Caniggia, cujo remate com o pé esquerdo no limite da área é indefensável. O terceiro é de Tavares, de cabeça, após cruzamento primoroso de Paneira na linha de fundo.
Para fechar a primeira volta em beleza, o Benfica repete a vitória, agora por 2:1 e vs Steaua. O penálti do 1:0 é discutível, o inglês David Elleray assinala mão de Stan, quando o número 11 atrasa a bola para o guarda-redes com o peito. Na marcação, Caniggia engana Stingaciu. Na segunda parte, Paneira corre irresistível pela direita, troca os olhos a Pirvu e cruza para a outra margem. João Vieira Pinto recebe de peito e atira forte com o pé direito. A bola embate violentamente na trave, depois no corpo de Panait e entra finalmente na baliza.
A segunda volta apresenta a mesma dinâmica, com empates fora e vitórias na Luz. Tudo se inicia em Bucareste, com 1:1. O capitão e número 10 Panduru (esse mesmo) abre o marcador com um remate rasteiro com o pé direito, ainda fora da área. Após o intervalo, o Benfica reage com categoria e empata por Hélder, equipado com o número 9 (amazing). A jogada é entre Isaías, Abel Xavier, Paneira e Veloso. O cruzamento tenso do capitão encontra Hélder desmarcado entre os centrais e o cabeceamento é irrepreensível. A bola entra mesmo junto ao poste de Stingaciu.
No final de Novembro, dia 23, há jogo grande na Luz entre os dois primeiros. Tanto Benfica como Hadjuk acumulam seis pontos cada. É o tudo ou nada. O sonho começa bem atrás, na defesa, com uma série de trocas de bola. Primeiro Preud’homme, depois Paulo Madeira, Hélder, Mozer, Dimas, JVP, Dimas, Isaías. O brasileiro saca ao pé direito e atira forte, o guarda-redes defende para lado. Dimas, atento, evita o canto e cruza para a entrada da pequena área, onde o mesmo Isaías aparece a marcar de cabeça.
O Hadjuk só empata aos 71 minutos, na sequência de um lançamento lateral. A bola avança como quem não quer a coisa e Andrisajevic atira de primeira, à queima-roupa, sem hipótese para Preud’homme. O golo silencia a Luz. Por breves momentos. O Benfica retoma a batuta do jogo e distancia-se novamente, com mais um golo de cabeça e outra assistência de Paneira. O cruzamento-banana do 7 é devidamente aproveitado por JVP, solto entre as estátuas dos centrais.
Com a qualificação na mão, por força da vantagem no confronto directo, a deslocação a Bruxelas já é mais descontraída. Vale o prestígio e, claro, o dinheiro. O Anderlecht ameaça a invencibilidade benfiquista com uma oferta de William para o 1:0 de Rutjes na cara do atarantado Preud’homme.
A oito minutos do fim, uma avançada benfiquista promovida por Hélder garante o 1:1 final. O central aventura-se campo fora, liberta JVP, cujo pontapé forte é repelido por De Wilde para a frente. O brasileiro Edilson, número 11 na ausência de Isaías, atira para o golo. Contas feitas, três empates e três vitórias garantem nove pontos ao primeiro classificado invicto Benfica.
No sorteio dos ¼, Barcelona, Bayern e Milan afiguram-se como possíveis adversários. Sai o Milan de Capello e é game over, com 2:0 no Giuseppe Meazza (bis de Simone) e 0:0 na Luz. Seja como for, Artur Jorge é o primeiro treinador português a passar uma fase de grupos da Liga dos Campeões.