Great Scott #454: Quem é o primeiro tenista português a jogar com brinco?
Pedro Cordeiro
Maio 1989, Challenger de Tróia. Na primeira eliminatória, há Portugal vs Suécia com Pedro Cordeiro vs Ronnie Bathman. No primeiro set, 6:2 para nós. No segundo, está 4:1 para nós e acaba 7:6 para eles. No decisivo terceiro, toma lá 6:3. Cordeiro avança, claro. Tróia aplaude, óbvio. Portugal exulta? Isso é pergunta que se faça? É, estamos em 1989, os índices de estupidez continuam a encher páginas de jornais.
E porquê? Cordeiro joga com um brinco na orelha esquerda. É um inovador? É um salto para trás na masculinidade? As opiniões dividem-se. Os tais índices. Cordeiro faz um smash. ‘O que é que o meu brinco tem a ver com a masculinidade? Sou menos homem por isso?’ Perguntam-lhe pela namorada? ‘Ela deve gostar do brinco. Nunca reclamou, pelo menos. Sabe uma coisa: Quem quiser, que entenda. Vou jogar assim para a Taça Davis, se me convocarem. E quero muito que me convoquem. Estou a jogar porque gosto de ténis e porque quero voltar a representar o meu país.’
Sobre o brinco em si, Pedro Cordeiro conta toda a história ao pormenor. ‘Uso-o desde Agosto 1986, comprei-o numa farmácia no sul de Espanha, durante uma viagem com um amigo. Foi bem simples: acordei, falei com o meu amigo e avançámos para a compra. Atenção, é uma pedra sem valor. Por isso, aviso já que não adianta roubarem-me ou cortarem-me a orelha. O brinco custou-me três mil pesetas e o preço já incluía a pistola. Quando cheguei ao apartamento, furei a orelha esquerda e devo esclarecer a opinião pública que me sinto muito bem com ele. Hoje em dia, um homem andar de brinco é uma coisa normalíssima, ninguém liga. Se um dia o vier a perder no court, não páro o jogo para o procurar. Compro outro no dia seguinte.’
Como jogador, Pedro Cordeiro começa a praticar ténis aos seis anos de idade em 1969 e, aos 14, ganha um torneio em Monte Carlo. Desaparece do mapa por uns tempos e reaparece em força nos anos 80, com 25 jogos pela selecção portuguesa na Taça Davis entre 10 vitórias e 15 derrotas. ‘Os jornais disseram que ia deixar de jogar e perceberam-me mal. O que eu disse é que ia acumular funções como coordenador-técnico em Miramar, na escola de João Lagos. Tive de me adaptar a esse posto e só depois recomecei a treinar três horas por dia para poder estar ao mais alto nível. Admito que a vitória recente sobre Cunha e Silva em Évora moralizou-me bastante.’