Great Scott #458: Qual é o número da camisola pedido por Lineker no Barcelona?
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Gary Winston Lineker é nome de craque. A sua capacidade goleadora é irresistível, com números fantásticos em clubes como Leicester, Everton e Tottenham, sem esquecer as duas aventuras internacionais em Espanha (Barcelona) e Japão (Nagoya Grampus Eight). Na selecção inglesa, os 48 golos em 80 internacionalizações traduzem uma eficácia brutal naqueles tempos em que os defesas são muito mais rudes e os árbitros menos profissionais que os de hoje.
A sua vida está agarrada ao número 10, e não 9, o do goleador por excelência. A razão é simples, diz o homem. ‘Comecei a jogar com o 9 no Leicester, mas as coisas não deram certo. Houve um dia em que escolhi o 7 e continuava encravado. Depois optei pelo 8 e libertei-me. Na época em que subimos, marquei 26 golos em 40 jogos. Depois, na 1.ª divisão, marquei 46 em duas épocas. Veio a transferência para o Everton e pedi o 8. Sem problema, disseram eles. Joguei sempre com o 8.’ Ao todo, 40 golos em 56 jogos e o título de melhor marcador da liga inglesa em 1985-86. Nesse Verão, com o 10 da Inglaterra, é o melhor marcador do Mundial do México, com seis golos. Marca a toda a gente, excepção feita a Bento (Portugal).
Com o castigo imposto pela UEFA aos clubes ingleses na ressaca de Heysel, o futuro de Lineker passa pelo estrangeiro. Vai daí, o Barcelona contrata-o ao Everton. O treinador inglês Terry Venables também consegue o concurso do galês Mark Hughes e o Barcelona passa a jogar com uma dupla de ataque das ilhas. Na assinatura do contrato, Lineker pede o 8. Tranquilo. A estreia de Gary é bonita, com dois golos ao Racing. Ainda nessa época 1986-87, assina um hat-trick ao Real Madrid (3:2). Um ano depois, Schuster faz-se ao 8 e Lineker esgasga-se.
‘Eu queria muito o 8, estava no meu contrato. Só que o Schuster, no dia do primeiro jogo da Liga espanhola, entra no balneário e senta-se no cacifo do 8. ‘Bernd era um génio da bola, metia-a onde queria tanto com o pé direito como com o esquerdo, à imagem de Glenn Hoddle. Cheguei ao pé dele e pedi-lhe com cuidado o 8. Que era o meu número de eleição, que me dava sorte, que marcava montes de golos com ele. Felizmente, Schuster falava bem inglês e respondeu-me. ‘Por tudo isso que acabaste de dizer, o 8 é o meu número’. Fui falar com o Terry Venables e ele perguntou-se me queria que interviesse no debate. Todo o balneário estava atento e preferi deixar o Terry de fora para evitar situações embaraçosas, até porque o Bernd fervia em pouca água e não o queria como inimigo nem desejava que o ambiente da equipa fosse contaminado por aquele detalhe. Tentei ainda uma outra abordagem e o Bernd insistiu que precisava mesmo do 8. Foi então que o Bernd disse ao escocês Archibald, o outro estrangeiro da equipa: ‘Steve, não quero o 10.’ Mal ele disse aquilo, fez-se luz: o 10 de Maradona, ele não conseguia usá-lo. Usei eu, então. A partir daí, fui o 10 do Barcelona durante essa época-‘
Na terceira e última época, já com Cruijff na equipa, Lineker alinha com o 7, bem encostado à direita. O seu futebol perde magia e só volta a ser o Gary de sempre em 1989-90, no Tottenham, onde volta a ser o melhor marcador da liga inglesa. Com o número 8? Isso é que era doce, o 8 é de Gascoigne. No Tottenham, a camisola de Lineker é a 10, a mesma da selecção inglesa, com a qual iria marcar mais quatro golos no Mundial-90. O 10 também é o seu número no Japão.