Great Scott #466: Últimos dois capitães do Brasil a marcar num Mundial?
Raí e Sócrates
O Brasil é sui generis. A selecção, queremos dizer. Honra lhe seja feita, é a única campeã mundial em três continentes entre Europa (Suécia-1958), América (Chile-1962, México-1970, EUA-1994) e Ásia (Japão-2002). E em casa? Chapéu. Nem em 1950 (derrota impagável vs Uruguai), muito menos em 2014 (goleada improvável vs Alemanha).
Em matéria de capitães, o Brasil reúne uns quantos nomes. O último a levantar a taça é Cafu, em 2002. Daí para cá, alguém marca golo em Mundiais? Zero. E antes de Cafu, quem é? Dunga, 1994. Repetimo-nos, alguém marca golo daí para cá? Zero. O último capitão é Raí, no primeiro jogo desse Mundial-94, vs Rússia. É de penálti. Na baliza, Kharin (também ele capitão) atira-se para o seu lado direito e vê a bola ir para o esquerdo. Raí sai a festejar em direcção ao banco de suplentes e nota-se um Ronaldo em êxtase, ao lado de Muller e Ronaldão. A sorte de Raí acaba na fase de grupos, quando Carlos Alberto Parreira saca-o do onze e entrega a braçadeira a Dunga.
E antes de Raí, quem é o capitão brasileiro a marcar em Mundiais? Coincidência das coincidências, é o seu irmão Sócrates. Mundial-1982, o de Espanha. O Brasil apresenta um meio-campo de luxo. Diz Eusébio: ‘Este team não merece aquela linha média, que, mesmo não estando a jogar em conjunto, é do melhor que existe no mundo.’ De facto, o Brasil de Telé Santana começa com um guarda-redes assim-assim (Valdir Peres) e um avançado assim-não (Serginho Chulapa). Pelo meio, há uns craques como Júnior, Falcão, Sócrates, Zico e Éder.
No primeiro jogo, vs URSS, o árbitro espanhol Augusto Lamo Castillo faz vista grossa a dois penáltis feitos por Luisinho, o futuro xerife da defesa do Sporting. Ao intervalo, 1:0 por Ball. Na segunda parte, Sócrates ganha uma bola perdida fora da área, evita um defesa, mais outro e aplica um pontapé fortíssimo com o pé direito. A bola entra junto à trave, sem hipótese para Dasaev. O capitão abre os braços, como é seu timbre, e corre para o vazio a gritar como um miúdo ‘Deus ainda é brasileiro’. Aos 88’, Eder desfaz o nó e dá a vitória sofrida ao Brasil.
Seguem-se mais duas vitórias, vs Escócia e Nova Zelândia. Na segunda fase de grupos, o Brasil pega Argentina e Itália no Sarriá, caixa de fósforos do Espanyol. No clássico sul-americano, tudo corre bem e até Serginho marca (3:1). No tudo ou nada, em que o Brasil só precisa de um empate, a Itália dá um chega para lá e desfaz o futebol arte com um hat-trick de Rossi (3:2). Antes, em resposta ao madrugador 1:0 de cabeça do italiano, Sócrates solta-se pela direita, entra na área e remata rasteiro entre o poste e o capitão Zoff. É o 1:1, o momentâneo ‘Deus ainda é brasileiro’.
Assim de repente, Sócrates marca a dois monstros da baliza como Dasaev e Zoff. E sai de cena, tal como toda a selecção mais favorita desse Mundial. Só 12 anos e três Mundiais depois é que um capitão do Brasil volta a festejar. É Raí, o irmão mais novo de Sócrates. E à Rússia. Ele há coincidências.